Inundação de desinformação. Por Victoria Roza Cruz.

As coberturas midiáticas de grandes chuvas que acontecem no Rio de Janeiro se tornaram cada vez mais comuns. Histórias duras de vidas perdidas, casas destruídas e de desespero, afinal, a população só tem uma certeza: a próxima chuva chegará. As chuvas torrenciais são estas de grande volume e intensidade em um curto período de tempo. São fenômenos que podem causar inundações, deslizamentos, transbordamento de rios, entre outros desvios de padrão do bem estar de uma cidade.

Os sistemas de monitoramento das chuvas no Rio, como as sirenes em áreas de risco e o envio de SMS com avisos da Defesa Civil, são alguns dos recursos para viver o momento de emergência, porém, os cidadãos pouco sabem sobre a raiz do problema. Muito além do entupimento de bueiros, da falta de educação da população em jogar lixo nas ruas e encostas… nós somos muitos no município do Rio de Janeiro, somos quase sete milhões de habitantes, segundo dados do IBGE de 2018, e todos nós precisamos de uma casa para morar, porém, existe um limite claro de crescimento de urbanização, afinal, estamos entre morro, praia e baía.

Para os cariocas basta olhar pela janela para entender com um simples e valioso exemplo do porquê da intensificação das chuvas torrenciais. Já ouvir falar dos mangues? são Áreas de Proteção Ambiental (APA), presentes na Baía de Guanabara por exemplo, que estão literalmente sendo espremidas pela ocupação desordenada. Os mangues são repositórios de biodiversidade na paisagem, são zonas de transição entre os ambientes marinho e terrestre, portanto determinantes em toda a cadeia de vida das espécies, inclusive no crescimento das florestas, responsáveis pela relativa estabilidade de clima e qualidade de vida de todos nós.

Com a barreira da ocupação humana, a floresta tem um limite de crescimento e, consequentemente, a cidade conta com menos árvores para absorção de gás carbônico. Com toda licença aos amigos biólogos e cientistas da área, a grosso modo e resumidamente, o resultado são gases e mais gases poluentes acumulados que intensificam o calor excessivo, que ‘derrete o gelo’, aumenta a temperatura dos oceanos, que evaporam muito mais rápido, que acumulam grande quantidade de gotículas nas nuvens e…. CHUVA TORRENCIAL.

A verdade é que a cada acontecimento deste a população clama na mídia por melhores condições de habitação e apela aos governantes que olhem para cada uma das vítimas. Contudo, o quanto estes mesmos cidadãos conhecem a respeito de outras formas de vida que convivem conosco no Rio? A cada grande chuva penso nos personagens do caos e em tudo que nós, comunicadores, temos a missão de informar para provocar novas reflexões sobre tragédias. Entre os direitos e os deveres há um fato: o conhecimento é o nosso oxigênio e a responsabilidade é coletiva.

Victoria Roza Cruz, carioca, pós-graduanda em Meio Ambiente pela Coppe/UFRJ, jornalista e locutora na Antena 1 Rio. Idealizadora e apresentadora do programa ‘Impacta Rio’. Acredito na comunicação que move corações e mentes, que é capaz de transformar e empoderar.