A fome é um problema crônico que lamentavelmente ainda afeta milhões de pessoas no mundo, e o Brasil não é exceção. Embora o país seja rico em recursos naturais e tenha uma economia emergente, ainda há uma grande parcela da população que sofre com a escassez de alimentos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 30% da população brasileira vivia em condição de pobreza em 2022, o que significa que essas pessoas provavelmente não têm acesso regular a alimentos nutritivos. Além disso, num olhar mais globalizado, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que cerca de 821 milhões de pessoas no mundo sofrem de fome crônica.
Dado o alarmante cenário, a tecnologia pode ser uma aliada importante na luta contra a fome no Brasil e no mundo. Uma das principais formas em que a inovação pode ajudar nesse árduo combate é por meio da agricultura de precisão. A agricultura de precisão utiliza tecnologias como GPS, sensores e inteligência artificial para monitorar e melhorar a produtividade dos cultivos. Isso inclui ações como otimizar a aplicação de fertilizantes e pesticidas, identificar áreas problemáticas no campo e acompanhar as condições climáticas. Com essas tecnologias, os agricultores podem obter dados precisos sobre suas plantações e tomar decisões sobre como cuidar melhor delas, o que pode aumentar a produção de alimentos e reduzir o desperdício.
O Governo Federal tem trabalhado em políticas que visam a utilização dessas tecnologias no campo. O programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono) tem como objetivo promover a agricultura de precisão e tecnologias de agricultura de baixo carbono no país. Além disso, o programa Agricultura Conectada tem como objetivo democratizar o acesso à tecnologia de agricultura de precisão, capacitando agricultores e técnicos para utilizarem essas ferramentas. Assim, essas políticas ajudam a garantir que os agricultores tenham o ferramental e o conhecimento necessários para aproveitar ao máximo as tecnologias na agricultura e aumentar a produção de alimentos.
Além da agricultura de precisão, outras tecnologias estão sendo desenvolvidas para ajudar a combater a fome no Brasil. Por exemplo, a agricultura vertical, que consiste em cultivar plantas em espaços urbanos ou industriais, que pode ser uma forma de produzir alimentos em áreas onde o solo é escasso ou degradado. Isto é especialmente importante em cidades grandes, onde a fome é um problema crescente devido ao crescimento populacional e ao aumento da desigualdade social. A agricultura urbana pode permitir que os moradores da cidade produzam seus próprios alimentos em espaços urbanos, tais como quintais, telhados e até mesmo em áreas verdes públicas. Muitas localidades já adotam essa modalidade através de hortas comunitárias. Uma menção justa se faz à favela de Manguinhos, situada no Rio de Janeiro, por possuir a maior hora comunitária da América Latina, sendo estabelecida em 2013, com mais de 20 trabalhadores produzindo alimentos em uma área equivalente a quatro campos de futebol.
Também há estudos em andamento sobre a produção de alimentos a partir de microrganismos, como bactérias e fungos, o que poderia aumentar a eficiência na produção de alimentos e reduzir a dependência de solos férteis. Um campo profícuo para a Biologia estudar e evoluir.
A tecnologia também pode ser usada para melhorar a distribuição de alimentos e garantir que eles cheguem às pessoas certas. Por exemplo, aplicativos e plataformas digitais podem ser usados para identificar as áreas da cidade onde a fome é mais comum e direcionar os esforços de distribuição de alimentos para essas regiões. Isso pode ajudar a garantir que os produtos cheguem às pessoas que realmente precisam e reduzir o desperdício. Ademais, tecnologias como drones e robôs podem ser usadas para entregar esses alimentos em áreas remotas ou de difícil acesso, garantindo que cheguem de forma eficaz.
Contudo, é importante lembrar que a tecnologia por si só não é uma solução mágica para o problema da fome. É preciso trabalhar em conjunto com políticas públicas e programas sociais para garantir que os alimentos cheguem às pessoas certas e que elas tenham acesso a alimentos nutritivos e saudáveis. Além disso, é importante levar em consideração os impactos ambientais e sociais das tecnologias utilizadas.
Em resumo, a tecnologia pode ser um importante aliado na luta contra a fome no Brasil e no mundo. A agricultura de precisão, a agricultura vertical e outras tecnologias podem aumentar a eficiência na produção de alimentos e garantir que esses cheguem às pessoas que realmente precisam. Porém, é importante trabalhar em conjunto com políticas públicas e programas sociais para garantir que os benefícios da tecnologia sejam aproveitados de maneira equitativa e sustentável.
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Raphael Pinheiro é escritor, com parte de seus textos traduzidos para espanhol e italiano. Pós-graduado em Marketing Digital e Comércio Eletrônico, possui mais de duas décadas de experiência em tecnologia, tendo passado por importantes instituições públicas e privadas, como a RIOTUR e a Fundação Getúlio Vargas. Há 17 anos é editor-chefe do Portal da Academia Brasileira de Letras, uma das maiores e mais importantes instituições culturais do país. Colabora em sua coluna com a Pressenza, agência internacional de notícias com representação em mais de vinte países.