Ghost writer: nada há de monstruoso em sua utilização. Por Andrea Nakane.

Recentemente o termo ghost writer foi bastante comentado em função de um comunicado oficial da Presidência da República ter sido divulgado à nação (ver na íntegra, ao término desse artigo) e, logo depois, o verdadeiro autor se manifestou informando que o teor e formatação da narrativa foi de sua autoria.

O episódio em questão ocorreu no último dia 9 de setembro, quando Michel Temer, que já ocupou o cargo máximo do Executivo, foi acionado para conter uma crise institucional entre os poderes da República que tinha chegado ao seu ápice no feriado de 7 de setembro, após efusivas declarações ditas pelo atual presidente, Jair Messias Bolsonaro, contra o Superior Tribunal Federal (STF). A entrada de Michel Temer no meio desse imbroglio justifica-se pela sua articulação justamente com o ministro Alexandre de Moraes (seu indicado para a Corte em 2017), além de sua retórica de anos e anos junto ao Legislativo.

No primeiro momento, no qual a comunicação foi difundida, ficou evidente para muitos que o teor e tom utilizados na construção do texto, realmente, não haveria de ter sido redigido pelo atual gestor, mas provavelmente esse trabalho fora de sua equipe de relações públicas – será mesmo que existe uma trabalhando no Planalto?

Porém, logo depois, Michel Temer surge e pronuncia-se como o verdadeiro autor desse material – e, de forma equivocada – muitos associaram o fato como sendo produto de um ghost writer.

Na verdade, esse caso não seria evidentemente uma referência correta, pois não existiu um anonimato na tarefa, pelo contrário, há nome e sobrenome, que mesmo não assinando o texto, fez-se ser conhecido posteriormente, sem nenhuma irritabilidade presidencial, como se o fato fosse até mesmo combinado anteriormente para dar mais peso de credibilidade intencional.

A atividade desenvolvida por ghost writer é de extrema relevância e merece elucidações para uma real valorização dos seus resultados.

O termo originário da língua inglesa recebe a tradução de escritor fantasma e designa o profissional que presta serviços de redação de textos a outras pessoas.

Antes de tudo, quando alguém realiza esse tipo de trabalho evidencia que o profissional chamado de ghost writer não recebe créditos de autoria pelo texto que escreveu. Isso faz parte de um termo de compromisso ou acordo de cessão de direitos autorais. Esse profissional pode ter seus serviços utilizados para a elaboração de livros, textos, apresentações, discursos, apostilas, artigos e outros materiais, e o mesmo vende a uma pessoa (física ou jurídica) os direitos autorais sobre essa obra e recebe por isso, não tendo seu nome vinculado a essa entrega.

Inúmeros profissionais de comunicação inseridos no organograma de uma empresa prestam essas tarefas em seu dia-a-dia, pois, a princípio, além de maior familiarização com técnicas de retórica e de uma argumentação mais assertiva, conseguem alinhar, sem arestas, a mensagem projetada com a imagem da organização, produto ou serviço.

Políticos, estadistas e esportistas, atores e atrizes, homens públicos e empresários, estão entre os principais perfis que contratam ghost writers para colaborarem com suas demandas variadas, as quais incluem a redação de suas autobiografias; de pronunciamentos específicos, de materiais de apoio a suas apresentações, de conteúdo para abastecer suas redes sociais etc.

Portanto, trata-se de uma atividade legítima e que integra o escopo de funções exercidas por profissionais, sobretudo de comunicação, seja integrando uma equipe própria de uma organização ou trabalhando como prestador de serviço.

E, cá entre nós, se tivéssemos mais ghost writer competentes certamente teríamos um nível de narrativas e retóricas de melhor qualidade e impacto positivo.

Mas é importante não esquecer que de nada adianta um belo texto se o mesmo não for construído em cima de pilares verídicos e autênticos… Se isso não ocorrer… é crise na certa… e para crise… o pessoal de comunicação também está de prontidão!

Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das ‘fake news’.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder não têm o direito de ‘esticar a corda’, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Artigo 5o. da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro
Presidente da República Federativa do Brasil

Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas. Registro profissional 3260 / Conrerp2 – São Paulo e Paraná.