EFEITO RP - Um parafuso, um pneu, um contexto e um preço. Por Bárbara Calixto.

Você costuma falar de “contexto”? Ou pensa nos diferentes contextos em que as coisas se encaixam?

Confesso que nem sempre eu pensava ou levava isso em consideração. Quando ia elaborar uma campanha, projeto ou ação, sempre acabava olhando mais para o público-alvo – ou para a persona – do que de fato refletir sobre o contexto das coisas. Mas de uns tempos para cá passei a me atentar para isso e pensar em como posso usá-lo nas minhas estratégias.

Trago mais para as ações e estratégias de comunicação, mas quando falamos de gestão de pessoas e vamos passar orientações de um projeto ou de alguma situação, por exemplo, o contexto que é compartilhado também é muito importante. A depender da senioridade da pessoa, do tempo de experiência e até de convivência e familiaridade com as ações, pode ser preciso fornecer mais ou menos informações, mais ou menos contexto sobre a atividade em questão.

Para elucidar um pouco mais sobre esse tema, te convido a imaginar essa situação:

Imagina que você está na sua praia favorita, sentado confortavelmente e com os pés na areia. Na mesinha, ao lado do guarda-sol, tem uma porção de batatas-fritas e outra de camarão. A brisa do mar bate em seu rosto, o Sol está radiante e o dia está quente. Nada melhor do que tomar algo para se refrescar. Você abre a caixa térmica, vê uma latinha vermelha, pega e sem pensar duas vezes abre, dá um delicioso gole na sua bebida bem gelada…

Qual bebida você imaginou? Uma Coca-cola por eu ter descrito que a latinha era vermelha? Ou pensou em uma Brahma, que também tem latinha vermelha, mas que pode combinar mais com a praia e dias quentes?

O contexto é relevante porque ele permite que as pessoas vejam e entendam o que importa ali e, ao mesmo tempo, traz referências que são únicas para cada pessoa. Apesar de termos acesso à mesma publicidade e divulgação das marcas, nós temos experiências e vivências individuais. Ao ver uma embalagem de Coca-cola, por exemplo, eu posso me lembrar de uma situação de quando eu tinha 8 anos e não podia tomar refrigerante. Dessa época em diante, eu me acostumei a não tomar essa bebida e, consequentemente, ela não é a minha primeira opção a “aparecer na caixa térmica” enquanto estou na praia. Além disso, em dias quentes – e com uma porçãozinha ao lado -, sinto que uma cervejinha combina mais. Mas para você, isso pode ser completamente diferente.

Quando falamos de produtos, serviços ou empresas, esses contextos são ainda mais importantes. Imagina uma situação em que você está em uma apresentação de um software ou um sistema de gestão para empresas. O apresentador tenta explicar o que o sistema faz, quais suas funcionalidades e o problema que ele resolve, mas de alguma forma isso não fica compreensível para os receptores da mensagem e surgem perguntas como essas: “É como se esse sistema fosse um organizador de dados?”; “É como se fosse uma intranet?”; “É como se fosse um ERP (sigla de Enterprise Resource Planning – sistema de gestão integrado para empresas)?”; “É como se ele fosse tipo o que?”.

Segundo April Dunford, em seu livro “Obviously Awesome”, quando há falta de contexto para entender um novo produto ou serviço, é natural que as pessoas busquem no seu arquivo mental, em suas referências conhecidas, algo que possa ser utilizado para compreender melhor o que está sendo apresentado. E é exatamente isso que acontece quando ouvimos falar de um “sistema de gestão para empresas”. Por ter essa falta de compreensão inicial, ocorre a tentativa de relacionar com outros dados e produtos que já conhecemos e temos essa referência armazenada em nós.

Além de trazer essas relações associativas, o contexto em que o produto ou serviço está inserido exerce grande influência sobre o preço e a oferta de valor. Compartilho um exemplo simples que aconteceu outro dia: o pneu do carro da minha cunhada furou, mas por sorte ela estava na cidade e conseguiu resolver rapidamente a situação. Chamou uma pessoa para consertar o pneu e fazer o reparo. O item responsável pelo furinho era um parafuso de uns 4 centímetros. Você sabe quanto custa um parafuso na loja? Eu arrisco a dizer que gira em torno de R$ 2,00. Agora, o parafuso fora da loja, especificamente no pneu do carro da minha cunhada, custou mais de R$ 50,00.

Tudo isso é o contexto: na gestão de pessoas, temos que ter o cuidado de compartilhar as informações necessárias para o andamento de um projeto; no caso de produtos e serviços, temos que ter estratégias para que o contexto não fique em discordância ou dificulte o processo de compreensão do que está sendo apresentado.

Mas no final, estamos falando e lidando com pessoas, que além de possuírem referências individuais, também possuem uma mente muito fértil. Por isso, é sempre bom falar o – e do – contexto.

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.