Em 2019 eu ganhei o “Livro dos começos”, da Noemi Jaffe. Todas as páginas do livro são soltas, mas ao abri-lo pela primeira vez a página inicial contém instruções claras: comece por onde quiser, comece quantas vezes quiser, você pode escolher um começou ou ser escolhido por um começo.
A primeira vez que li o livro dos começos, comecei por qualquer ordem. Outras vezes, sorteei uma página de forma aleatória. O início sempre está presente e às vezes é notado com mais atenção, pela empolgação, pelo frio na barriga, pela possibilidade do novo. Mas esse ano, particularmente, notei mais os fins.
Agora, no dia 07/10, eu começo um novo começo, um novo ciclo, uma nova idade. Mas não antes de encerrar uma outra. Desta vez, não seleciono uma página qualquer, mas me deixo ser escolhida por um começo. Os fins e os começos são engraçados, nem sempre nos damos conta de como eles acontecem. Às vezes temos intuição, percepção, notamos o cenário ou conseguimos seguir o cronograma (ou calendário) à risca e ver o fim se aproximar. Os inícios são carregados de fins e os fins de início. E para mim, o encerramento de um ciclo requer uma retrospectiva, pede uma celebração, um ritual e uma passagem. Reconhecendo as dores, conquistas, alegrias e pessoas que fizeram – e fazem – parte da jornada.
Antes, para mim, a finitude estava muito mais relacionada a projetos, viagens, ações e outras coisas tangíveis. Este ano, aprendi – e senti – a finitude da vida. Atravessando essa finitude, passei a dimensionar as coisas de uma outra forma: qual a importância que eu dou para o gosto de um chocolate? Qual o sabor que o amanhecer me traz? Quanto tempo eu quero dedicar a esse projeto? Quantas vezes por semana eu consigo colocar os meus pés na grama? Qual a nova receita que eu vou testar na cozinha?
Entendi – e senti – que tudo o que eu vivo, as conversas que eu tenho, os mergulhos que eu faço e as montanhas que escalo, são mais valorosas e fazem valer mais o meu tempo. Percebi que os sorrisos que eu dei e os que provoquei permaneceram marcados: em mim e nos outros.
Além da idade que se encerra, também vem o encerramento da minha contribuição como Coordenadora de Marketing na Portábilis. Mas não encerrei a alegria que tive em compartilhar e conhecer tantas pessoas boas. Entreguei diversos projetos, mas sigo com a possibilidade de realizar novos, talvez maiores e diferentes. Encerrei um ciclo de 2 anos e 5 meses, mas deixei em aberto um legado de alegria que também durou o mesmo tempo. Enxergo a finitude das atividades, das ações, dos resultados e entregas, mas não enxergo a finitude das relações. Elas permanecem. O contato, as marcas, a jornada e o impacto que causamos, perduram. Neste tempo, ouvi que a minha escuta ativa era um espaço e forma de acolhimento. A líder que eu me tornei neste percurso fortalece a minha crença de que é possível ser uma líder extrovertida, espalhando amor e luz pelo caminho. É possível acolher sem se encolher.
Venero, não só os inícios e fins deste último ano, mas também nos anos anteriores a este, que me trouxeram até aqui. Olho para mim com olhos generosos, entendendo que eu fiz o que eu fui capaz, da mesma forma como olho para as mulheres antepassadas a mim, que lutaram bravamente para que eu – e tantas outras – conseguíssemos estar onde estamos. VIslumbro o futuro próximo, esse novo ciclo, com carinho de uma renovação de solo e sementes, com o Sol brando, água do mar, caminhadas tranquilas aos finais de semanas, projetos que nos conectem com a nossa verdadeira essência. Honro os caminhos da vida, as inúmeras oportunidades que me foram – e são – concedidas, agradecendo por cada pessoa que permaneceu comigo e que – junto – tanto crescemos.
O meu encerramento de ciclo, desta vez, não é só sobre a minha nova idade, mas também sobre o que eu quero deixar na idade passada. Sobre o que eu quero levar na minha idade nova. Sobre quem eu quero continuar sendo, deixar de ser e me tornar. Sobre honrar mais os inícios e fins, seja sorteando uma página ou definindo uma ordem para a leitura dos começos.
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Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista, indústrias e como coordenadora de marketing em uma GovTech. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.