EFEITO RP - A fala que há em mim. Por Bárbara Calixto.

Outro dia me perguntaram qual a minha habilidade e atividade preferida, dentro da minha área de atuação. Sem pestanejar, respondi que gosto muito dos relacionamentos, de conversar e de ouvir as pessoas.

Segui a narrativa comentando o meu apreço por eventos, que quando trabalhei diretamente com isso, me proporcionou muito contato e troca com as pessoas. Pensei nisso com os olhos marejados e uma vontade imensa de organizar um. Lembrei da minha época de estágio e do quanto era desafiador coordenar todas as informações, planilhar as escalas de voos, salas simultâneas para os palestrantes, cronograma, fornecedores e orçamentos. Revivi os eventos que organizei, os lugares que conheci, as tantas pessoas que me conectei e os imprevistos que superei.

Enquanto falava, coincidentemente, recebi uma notificação de uma rede social, com uma foto mostrando que há 5 anos eu estava em um evento em Guadalajara, no México. Nessa época, eu já não era mais estagiária e nem trabalhava na mesma empresa, então o formato e objetivo do evento eram outros. Lembro que os preparativos para a participação foram intensos e com meses de antecedência. Nós havíamos optado por mandar os equipamentos já montados e por avião, mas para isso tínhamos que organizar toda a documentação da aduana para que fossem liberados a tempo. Também era preciso pensar em burocracias menores, tais como frete do aeroporto até o local do evento, layout do stand; panfletos e brindes; hospedagem e compra de passagens.

Apesar dos trâmites internacionais, uma das coisas que mais me marcou foi um acontecimento totalmente imprevisto: um terremoto poucas semanas antes. Recordo o quanto isso desestabilizou a equipe, as notas que a Comissão Organizadora do evento enviou e todas as demais consequências que envolveriam um possível adiamento do evento.

Vejo isso hoje, sinto um sorriso nascer no meu rosto, e penso: os eventos, sempre tumultuados e com muitas demandas, mas no final dá tudo certo.

Continuei o meu descritivo de “coisas que gosto de fazer”, adicionando a minha aptidão com branding. Gosto de planejar ações de uma comunicação integrada, elaborar materiais para os diversos públicos e aplicá-los em diferentes pontos de contato. Me fascina pensar em quais atributos de marca podem ser acessados a depender do tom de voz em um vídeo, por exemplo, ou quais as características que usaremos para reforçar um valor da marca ao patrocinar uma ação social e como posicioná-la da melhor forma dentro da estratégia planejada.

Segui falando sobre gestão, que gosto tanto da gestão de pessoas quanto de projetos. Como coordenadora, descobri o quão gratificante é ajudar as pessoas a desenvolverem suas habilidades e como é importante escutar ativamente o que cada um tem a dizer. Também gosto dos projetos, especialmente aqueles com o início, meio e fim bem descritos. Planejar ações e ver o progresso, ter consciência do resultado esperado, as demandas sendo cumpridas e cada integrante ciente de sua responsabilidade e importância; é um desafio tentador.

Quanto mais eu falava sobre as coisas que eu gosto de fazer, mais eu percebia com quantas frentes de atuação eu me identifico e o quanto isso é ser relações-públicas. Por mais que eu sempre tenha atuado sob a chancela do “marketing”, a minha base, o meu cerne, sempre foi de RP.

Na minha trajetória passeei por diversos segmentos, coordenei eventos, elaborei materiais off-line, aprendi estratégias de marketing digital, apliquei estratégias de funil de inbound marketing e criação de conteúdos, entendi sobre anúncios publicitários, passei por marketing de produtos, vendas, endomarketing, assessoria, gestão de relacionamento com cliente… e tantas outras coisas. Confesso que por um tempo considerava isso um ponto negativo, por não ser especialista em uma coisa, mas hoje enxergo o quanto todas essas experiências me deram bagagem para me tornar uma profissional adaptável e multifacetada.

O branding, relacionamentos, eventos, gestão de pessoas e projetos podem ser as coisas que eu mais gosto, mas elas também são e estão a essência para todas as outras ramificações das estratégias comunicacionais e organizacionais. Os eventos ajudam a abrir mercado? Muito, mas os vendedores precisam saber transmitir o valor dos produtos, o propósito da empresa, o que ela faz e para que ela existe. O branding ajuda a posicionar uma empresa? Sim, e muito, mas a comunicação interna precisa estar alinhada o suficiente para que os funcionários transmitam as informações conforme veiculado externamente, mostrando consistência e coerência.

Não teve um anjo torto que me mandou ser gauche na vida, tal como Drummond, mas acredito que ele tenha me mandado falar, comunicar. Porque, no final, é disso que eu gosto, da comunicação que se faz em todos os momentos, em todos os lugares e com todas as pessoas, a que serve para abrir portas e retirar barreiras.

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.