DNA DE MARCA - Religião e publicidade combinam?

Na última semana, uma parceria feita pela Ambev chamou a atenção de todos, mas não agradou muito o público.

A cervejaria convidou a Monja Coen, um dos principais nomes ligados ao budismo no Brasil, para ser embaixadora da moderação. Segundo a empresa, a monja irá ajudar a cervejaria a falar sobre limites e autoconhecimento, enquanto promove a saúde e os limites do corpo sem falar dos produtos vendidos pela Ambev.

A marca quer estimular o consumo responsável por meio do autoconhecimento. O objetivo é promover o equilíbrio e a moderação, tão necessários no momento atual. Convidar pessoas influentes para fazer parte de empresas é uma prática que vem se tornando comum no Brasil, mas parece que marcas e personalidades não estão acertando na hora de fechar parcerias.

Será que a Ambev sabe o que é um embaixador?

O embaixador é uma pessoa pública que empresta sua autoridade para falar de uma marca, ele representa uma marca. A Monja Coen, uma pessoa que certamente respeita seu corpo e possui a imagem de uma pessoa calma e equilibrada representa uma cervejaria?

No caso da Ambev, empresa que vende um produto que pode causar vícios e destruir a saúde das pessoas não pode bancar a atitude de “estamos preocupados com você”, pois se estivesse mesmo, venderia apenas bebidas sem álcool. No caso da Monja Coen é um pouco mais complicado, pois ela representa uma religião, o budismo, e é inevitável entrelaçar as duas coisas. Com certeza Coen ganhará uma ótima quantia para esta ação e “fazer o bem ao próximo” não foi o único motivo para ela aceitar a parceria.

Podemos imaginar situações diferentes, mas que são similares. Por exemplo, o Papa Francisco fechar parceria com uma empresa que produz vinhos, uma bebida muito apreciada pelos católicos. No mínimo esta ideia não seria bem aceita pelos religiosos que acompanham o Papa.

Depois de analisarmos os fatos, podemos concluir: é claro que a Ambev não quer que todos seus consumidores se tornem alcoólatras e venham a falecer, pois isso resultaria em perda de ganhos para ela, então a melhor opção é manter um consumidor equilibrado que continua comprando da marca durante anos e é nesse momento que a Monja Coen entra. Para conscientizar as pessoas e manter consumidores ao longo dos anos, saudáveis, e gastando seu dinheiro com cervejas. Lembre-se que por trás de qualquer ação sempre há grandes interesses – e a publicidade é uma aliada na hora de disfarçar e embelezar tais interesses.

Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e especialista em Mídias Digitais pela Universidade Positivo. É criadora do blog pippoca.com, atuou como pesquisadora na área de artes e mídias digitais e no momento atua em agências de publicidade e é colaboradora em diversos blogs.