DNA DE MARCA - Nem sempre o problema é a falta de visibilidade.

A startup QuintoAndar, especializada no ramo imobiliário pela intermediação de alugueis, compra e venda de imóveis, e que já alcançou o selo de “unicórnio”, usado para definir negócios inovadores que já atingem o patamar de US$ 1 milhão, recentemente ganhou destaque por outro motivo: a demissão em massa de funcionários.

No dia 13 de abril, a startup unicórnio teria demitido 800 pessoas – de um quadro que possuía cerca de 4 mil funcionários -, o que corresponde a 20% do total. A informação foi divulgada primeiro pelo jornal O Estado de São Paulo. As demissões teriam ocorrido em várias sedes da empresa e nos setores de tecnologia, marketing e recursos humanos. O jornal também divulgou que as contratações da empresa foram congeladas e, antes do ocorrido, a empresa teria alterado o plano de saúde dos empregados, adotando um modelo de coparticipação.

Segundo fontes do jornal, as demissões seriam fruto do fraco desempenho da plataforma em meio ao cenário de crise econômica e alta dos juros. Claro que uma demissão em massa chama a atenção da imprensa e do público, mas o que atraiu mais ainda os olhares dos curiosos foi o fato da empresa ser uma das patrocinadoras do Big Brother Brasil 2022 que, como todos já sabem, cobra um grande valor das marcas que querem ali aparecer. Como poderia ser mais importante um patrocínio de programa de TV do que o emprego dos funcionários?

Em 2022, a QuintoAndar foi a primeira plataforma imobiliária a patrocinar uma edição do Big Brother Brasil e, segundo dados do Meio & Mensagem, a startup teria desembolsado cerca de R$ 11,8 milhões para a Globo inserir a empresa no programa. Além de participar do reality show, a QuintoAndar também lançou uma campanha com nomes como o cantor Milton Nascimento, a ginasta Rebeca Andrade e Thelma, campeã do BBB 2020.

Após ser procurada pela imprensa para dar esclarecimentos sobre o assunto, a QuintoAndar negou a demissão de 20% dos funcionários, mas confirmou a demissão de 160 pessoas – o que representa 4% do grupo de colaboradores. A startup disse que a ação faz parte de um movimento regular de reestruturação usual da empresa e que não está com dificuldades financeiras; a escolha seria uma estratégia para melhorar a eficiência operacional.

Sabemos que o maior reality show da América Latina tem um grande alcance que favorecerá a marca, mas… será que falta de visibilidade seria realmente o maior problema da QuintoAndar no momento? As startups já possuem dificuldade para manter a imagem de empresa responsável, que se importa com a saúde dos funcionários e não apenas com o lucro, devido a outros escândalos que envolveram esse tipo de negócio.

Por conta disso, ações arriscadas que podem ter um efeito contrário devem ser muito bem pensadas, mas parece que a QuintoAndar colocou o marketing da empresa acima de tudo e esqueceu que as organizações funcionam como um sistema; se todas as partes não estiverem funcionando em equilíbrio dificilmente ela irá evoluir, nem mesmo por meio de um patrocínio no maior reality show da América Latina e sendo uma startup unicórnio.

Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e especialista em Mídias Digitais pela Universidade Positivo e Mestranda em Administração na PUC-PR. É criadora do blog pippoca.com, atua como pesquisadora, é autônoma e colaboradora em diversos blogs.