DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Sim, eu tenho idade para isso. Por Jovanka de Genova.

Eu adoro dizer a minha idade às pessoas. Hoje, sou uma mulher de 44 anos e vivencio essa fase da minha vida com toda a sua potencialidade, mas sem romantizar, porque sei o peso que a sociedade coloca nas pessoas acima dos 40, principalmente para as mulheres. Do meu jeito, tento deixar que tudo seja o mais leve possível e, sorte a minha, tenho conseguido fazer isso sem me deixar influenciar por opiniões de pessoas preconceituosas e mal informadas.

Mas como tudo é um processo, aceitar o meu envelhecimento também não foi uma tarefa fácil. Em 2013, então com 36 anos, decidi voltar à vida de estudante e isso foi um baita desafio. Aulas todos os dias, seguidas de um dia de trabalho e acompanhadas com a rotina agitada que a universidade proporciona. Apesar disso tudo, me concedi o direito de estudar Filosofia, um curso que gostaria de ter feito aos 18 anos, mas as circunstâncias não me deixaram.

Por fim, confesso que a Jovanka mais velha estava muito mais preparada para se apropriar de um conteúdo tão denso e profundo como foi aquela graduação. Estar naquele lugar e na idade que tinha foi muito vantajoso para mim e me ajudou a tomar decisões que me trouxeram até aqui. Uma delas foi aceitar o desafio de ir estudar em Salamanca, na Espanha, a língua espanhola. Dentre 700 candidatos, eu fui uma das selecionadas, em 2015, a passar uma temporada na Europa, com tudo pago, em pleno verão, para viver uma experiência incrível. Isso aconteceu e eu já estava com 37 anos, a média dos meus 200 colegas do programa de todo Brasil era de 25.

Infelizmente, essa não é a realidade de todas as pessoas mais velhas que convivem em espaços predominados por mais novos. Esse é o caso da estudante de biomedicina Patricia Linares que, aos 45 anos, retornou aos estudos e foi hostilizada por suas colegas de sala pelo fato de ser mais velha. Confesso que um dos meus maiores medos era justamente esse, não conseguir socializar e fazer amigos. Ao contrário da aluna de Bauru, eu sempre me senti muito acolhida, sempre encontrei amigos especiais em meu caminho. Será que foi sorte? Espero que não.

Mas o que essa contradição tão grande mostra da nossa sociedade? Eu entendo que essa situação absurda vem de um desrespeito da sociedade com as pessoas mais velhas e, quando falo velhas aqui, falo de pessoas acima de 40 anos (oi?), daquilo que elas podem ensinar e acrescentar aos outros. A impressão que passa é que, a partir de certa idade, apesar de vivo, não se pode mais viver, estudar, trabalhar, amar, namorar ou se relacionar, tudo isso limitado pela idade. Quantas vezes já não escutamos “mas você já passou da idade de fazer isso”. A grande dúvida é pensar em quem é o responsável por medir algo que é de uma idade ou não. Acho que ninguém além de você mesmo.

Esse conjunto de atitudes preconceituosas e discriminatórias contra pessoas mais velhas tem nome, chama-se etarismo. Assim como todos os tipos de preconceitos, este também tem um impacto social, emocional e psicológico fortíssimo naqueles que o sofrem. De acordo com um estudo da ONU, “o envelhecimento está associado a uma pior saúde física e mental, maior isolamento social e solidão, maior insegurança financeira, diminuição da qualidade de vida e morte prematura”. Neste mesmo documento, afirma-se que em torno de 6,3 milhões de pessoas em todo o mundo possuem depressão por conta do envelhecimento. No Brasil, em 2019, a faixa etária com maior proporção que sofre da doença era a de 60 a 64 anos de idade, com 13,2%. A gente conclui que o ato de envelhecer, tão natural e necessário em nossas vidas, causa sofrimento a partir de uma certa idade. E a pergunta que eu faço é: a gente precisa realmente disso?

Não, não precisamos. Assim como a diversidade de gênero, raça, sexualidade entre tantas outras características, a de idade também é muito bem-vinda. Seja no convívio social, como ter amigos de outras gerações que possam compartilhar experiências e aprendizados, como eu fiz com meus colegas na Espanha – e tenho certeza de que fui muito bem sucedida -, até no ambiente público e de trabalho. São visões de mundo que se complementam, apesar de se chocarem, muitas vezes, e que, com isso, criam coisas maravilhosas.

Em nossa sociedade, aprendemos desde pequenos a valorizar os mais velhos, nossos pais e avós, mas parece que fica por ali. Quando nos viramos para fora, vemos os idosos sendo representados por pessoas cansadas, como nas ilustrações de vagas de estacionamento, ou então por aqueles que lutam em esconder sua idade, porque têm vergonha, e que são excluídos pelos mais jovens. Ser mais velho não precisava trazer todo esse peso negativo se, além do respeito aos mais velhos, tivéssemos o sentimento de inclusão como parte de nossa educação.

Vocês lembram daquele papo de incluir todo mundo na roda? A idade é mais um fator que deve ser levado em conta neste momento. Pessoas de diferentes gerações têm mais experiência, mais bagagem que pode agregar para a geração de renda de uma empresa ou na produção de uma pesquisa acadêmica, por exemplo. Sejam elas de 40, 50, 60 anos ou mais. Sempre vale a pena dar uma oportunidade para ensinar e aprender com elas. O caminho natural da vida é que todos cheguem a essas idades e negar o envelhecimento das pessoas é negar a própria vida.

Eu tive muita sorte de cruzar com pessoas boas em minha vida, mas muita gente não tem, e é por isso que é importante levantar mais essa bandeira. Pensar em políticas públicas dentro das empresas que incentivem pessoas de várias idades, desde os novinhos que estão entrando no mercado de trabalho, até aqueles mais experientes, a participarem. Cada um à sua maneira trará pontos de vista diferentes e resultados positivos dentro do ambiente de trabalho. Já em casa, esse é mais um exemplo sobre como é importante trazer a diversidade para a educação dos filhos, criar a consciência desde pequeno de que os mais velhos não são pessoas inúteis, são pessoas que se divertem, que aprendem, ensinam, criam e possuem os mesmos direitos que qualquer um outro.

A paciência aqui, mais do que nunca, é fundamental. E, assim como nós, que já passamos dos 40, ensinamos muito para as novas gerações, é hora dos mais novos olharem para nós com o mesmo respeito e aceitação, independentemente da idade.

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.

Imagem – https://svgsilh.com/pt/

Fontes:

https://www.paho.org/pt/noticias/18-3-2021-discriminacao-por-idade-e-um-desafio-global-afirma-relatorio-da-organizacao-das

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101764.pdf

https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura/2023/03/etarismo-o-que-e-e-como-isso-afeta-a-vida-das-pessoas