DIVERSIDADE E INCLUSÃO NAS EMPRESAS - Representatividade: reconhecimento e visibilidade de quem eu sou. Por Jovanka de Genova.

Sempre quando falo sobre representatividade em aulas ou palestras, gosto de usar essa foto do ex-presidente estadunidense Barack Obama. Ela explica e materializa muito bem os conceitos e os conteúdos que defendo, já que ela mostra a importância da diversidade de pessoas em lugares de destaque e poder. Nesta imagem, um menino negro pergunta ao presidente da maior potência econômica do mundo se o seu cabelo é igual ao dele.

Obama foi o primeiro presidente negro a ser eleito nos Estados Unidos, contrariando toda uma lógica racista que paira sobre o país. Justamente por esse motivo, ele agiu com extrema gentileza e sensibilidade ao se abaixar e deixar o garoto passar a mão em sua cabeça. Provavelmente por não estar acostumado a ver pessoas com cabelos crespos em locais de poder, a criança se surpreende ao perceber que, sim, eles tinham semelhanças. Confira a história completa aqui.

Os cabelos representam muito na fisionomia e autoestima das pessoas. Não à toa, é um assunto super delicado e complexo, com diversas camadas que merecem ser compreendidas e estudadas. Cabelo representa muito. É um símbolo de diversidade. Por isso, precisamos ter muito cuidado e conhecimento para começar a entender a importância que ele tem para as pessoas. Consigo imaginar a sensação do menino ao perceber que aquele homem importante tinha o cabelo e a cor de pele parecida com a sua.

Quando minorias – que muitas vezes são maiorias – assumem locais de poder, é transformador. Eles se tornam sujeitos das ações e das decisões e não mais coadjuvante, como quando são alvo de piadas e bullying. Para uma criança enxergar que pessoas iguais a elas podem chegar no topo, na Casa Branca, por exemplo, elas entendem que elas mesmas podem tudo. Não importa a textura do cabelo ou a cor de pele. Se ele pode, então todos podem.

Acho que já deu para perceber como essa foto é importante e diz muito sobre diversidade e inclusão. Só de bater o olho na foto, já conseguimos fazer uma breve interpretação do que se trata e perceber a importância de gestos como esses. Esse é um conteúdo que com certeza facilita o meu trabalho de explicar o que são os conceitos de representatividade na sociedade. Mas temos ainda outros exemplos que nos ajudam a compreender sobre este tema.

Pensemos na influência que os brinquedos exercem no desenvolvimento e no imaginário das crianças. A minha geração cresceu com bonecas de pele clara, cabelos loiros e corpos magros. Hoje, já é possível encontrar bonecas negras e com outras referências estéticas, algo que deveria ser óbvio há tantos anos, mas que apenas mais recentemente foi concretizado. As crianças podem, agora, brincar com bonecos que os representam por completo; elas passam a entender que existem pessoas diferentes que fazem parte da sociedade, são valiosas, requisitadas e admiradas pelos outros.

Mas nada disso acontece sem muito trabalho e muita luta por mais espaço na sociedade. Foram anos de luta para conquistar lugares que também são dos negros, de nós mulheres, das pessoas com deficiência, espaços esses que são nossos por direito. É preciso ainda que haja muito incentivo a artistas de diferentes perfis, para que eles possam e se sintam pertencentes a este local, à arte e à cultura brasileira. Afinal, estamos falando da maioria da população e esse é apenas mais um motivo da necessidade de diversidade.

Seja na criação de crianças ou no ambiente de trabalho para os adultos, a representatividade faz com que as pessoas falem por si mesmos e possam dispensar qualquer outra pessoa de fora que não necessariamente entende a situação de determinada população. Existe uma frase que sempre cito nesses casos: nada sobre nós sem nós.

No mundo corporativo, é fundamental a criação de programas que foquem no desenvolvimento de carreira para pessoas com as mais diferentes características e escolhas, para que um jovem estagiário possa olhar para seus líderes, se identificar e se inspirar naqueles que são como eles. Para entender que, assim como aqueles que chegaram no topo, ele também consegue. Seja pela semelhança de cabelo, cor ou qualquer outra característica que os identifique.

No fim, a representatividade reforça a ideia de inclusão, porque faz com que cada vez mais pessoas se sintam parte de um grupo. Se uma criança que está tão acostumada a ver presidentes diferentes fisicamente dela, ao se deparar com um novo governante que, dentre tantos, é parecido com ela, tem o mesmo cabelo que as pessoas tanto desmoralizam, então ela faz parte deste grupo de cidadãos. Se uma criança sente esse poder ainda quando pequena, podemos imaginar somente que adulto empoderado, seguro e cheio de autoestima não irá crescer daí.

Representatividade é dar liberdade, visibilidade e poder para todas as pessoas. É sobre isso que acreditamos e buscamos em diferentes iniciativas e ações!

Imagem – https://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/05/queria-saber-se-seu-cabelo-e-igual-ao-meu-diz-garoto-obama.html

Jovanka de Genova é educadora e gerente de educação, com mestrado em Educação, Arte e História da Cultura, e com mais de 17 anos de atuação na área de comunicação organizacional e educação corporativa, em especial na gestão de cursos e soluções educacionais. No LinkedIn: www.linkedin.com/in/jovankadegenova.