Desvendando mitos sobre a comunicação para mobilização social - texto 2. Por Natália Gonzales.

Este é o segundo de uma série de três textos sobre comunicação para impacto social: como criar vínculos entre pessoas e causas.

Desvendando mitos sobre a comunicação para mobilização social.

#Mito 1: Se a causa aparece mais, ela tem mais potencial de mobilização.
#Mito 2: Disseminando bastante informação, minha causa já vai mais longe.
#Mito 3: É preciso furar sua própria bolha para sua causa ganhar mais espaço.

#Mito 2 – Disseminando bastante informação, minha causa já vai mais longe e consigo mais doadores

Para alguém se mobilizar, se engajar por algo, é preciso – no mínimo – que tenha informação sobre aquilo. Se alguém não sabe quem é sua organização, o que, como e o porquê faz o que faz, não tem como esperar que um vínculo evolua para uma tomada de ação como, por exemplo, realizar uma doação.

Promovendo informações abundantes

Em quais canais você tem disponibilizado informações sobre a organização? Com qual frequência?

A audiência que acompanha seu trabalho nem sempre recebe tudo o que você posta, e nem sempre é a mesma. Novas pessoas chegam, velhas saem, o algoritmo não entrega tudo para todo mundo o tempo todo.

Então, você precisa garantir a abundância de informações. “Mas vou repetir sempre a mesma coisa?”. Sim e não. Sim, porque a essência e a mensagem principal são muito parecidas. Não, porque você pode contar por meio de diferentes tipos e formatos: vídeo, stories, reels, fotos, depoimentos, infográficos…

“Pensando em mobilizar, o grande desafio da comunicação, é tocar a emoção das pessoas, porém sem manipulá-las. A intenção é que a comunicação não seja autoritária e imposta. Esses movimentos implicam o exercício da decisão partilhada e requerem a existência de canais desobstruídos, informações abundantes, autonomia, corresponsabilidade e representatividade”. Cicilia Peruzzo.

O mais importante é buscar compreender a proximidade dos grupos envolvidos em direção ao nível de corresponsabilidade para, assim, definir as ações necessárias.

Compreendendo isso, observamos que para que um problema conquiste uma dimensão coletiva, é necessário que haja um processo de compartilhamento das diferentes percepções de determinado indivíduo com outros indivíduos e, assim, consigam um acordo diante da situação percebida e possam, juntos, formular o que os incomoda em comum.

Na pesquisa que fiz em meu mestrado, sobre como criar vínculos entre pessoas e um projeto mobilizador, propusemos compreender a mobilização social por um olhar da comunicação, especificamente a partir de uma perspectiva relacional. Pensando em sintetizar as complexas discussões sobre os paradigmas da comunicação, França (2002) nos explica que é possível entender a comunicação a partir de duas perspectivas que visam orientar e organizar os diferentes instrumentais conceituais e metodológicos dos estudos comunicacionais: uma perspectiva informacional e uma perspectiva relacional.

A perspectiva informacional compreende a comunicação como um processo de transmissão de mensagens, causando diferentes efeitos.

Seguindo essa lógica transmissiva, o processo comunicativo é contemplado de forma mecânica e separa a lógica da produção dos emissores, as particularidades dos meios, as mensagens e seus conteúdos, além de dar privilégio aos resultados.

Já a perspectiva relacional, segundo Mafra (2008), […] objetiva buscar a circularidade e a globalidade do processo comunicativo, contemplando uma interrelação intrínseca entre esses elementos. O processo comunicativo, numa perspectiva relacional, deixa emergir sua vida e seu dinamismo próprios, enxergando os interlocutores como instituidores de sentidos, que partem de lugares e papéis sociais específicos (MAFRA, 2008, p. 36).

Baseando-se em uma perspectiva relacional da comunicação, torna-se possível considerar que a mobilização social tem o intuito “de deflagrar processos de emancipação social, dotando os indivíduos de liberdade e autonomia na configuração de suas redes de relações e interações” (MAFRA, 2008, p. 36). A participação em um processo de mobilização é criada por uma determinada relação comunicativa estabelecida em que os sujeitos participam e geram desde o debate até a mobilização em si.

Comunicar é bem mais que informar. E, quando a perspectiva relacional é compreendida na criação de estratégias da sua organização, o caminho estará “mais fértil” para cultivar relações mais duradouras e de confiança, situações mais propícias para que essas pessoas tomem uma ação pela sua causa, seja doar, participar de um abaixo-assinado ou se tornar voluntárias. Mas isso é papo para outro dia…

Referências

FRANÇA, Vera R. V. Paradigmas da comunicação: conhecer o quê? In: MOTTA, L. G.; WEBER, M. H.; FRANÇA, V.; PAIVA, R. (Org). Estratégias e culturas da comunicação. Brasília: Ed. UnB, 2002.

HENRIQUES, Márcio Simeone; MAFRA, Rennan.; BRAGA, Clara. O Planejamento da Comunicação para a Mobilização Social: em busca da corresponsabilidade. In: HENRIQUES, Márcio (org). Comunicação e Estratégias de Mobilização Social. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2002.

HENRIQUES, Márcio Simeone; WERNECK, Nisia Maria Duarte (org). Visões de Futuro: responsabilidade compartilhada e mobilização social: Autêntica, 2005.

MAFRA, Rennan. Entre o espetáculo, a festa e a argumentação – mídia, comunicação estratégica e mobilização social. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Natália dos Santos Gonzales é relações-públicas e mestra em comunicação (Unesp-Bauru) com mais de 12 anos de atuação com causas em organizações como Fundação Abrinq, Oracle, Mondelez International, Instituto Oncoguia e Amcham. CEO e cofundadora do Social.LAB, negócio acelerado pelo BNDES Garagem, que tem como objetivo fortalecer a comunicação e mobilização de organizações do terceiro setor. Mentora de comunicação para startups no Distrito.