COMUNICAR É PRECISO - Relativo ao específico.

Comunicar é preciso!

Acredito que comunicar é preciso e, por isso, a partir de hoje, estarei por aqui quinzenalmente.

Sou a Fernanda Galheigo, jornalista, mãe de gêmeos, apaixonada pela comunicação como forma de cura, ferramenta de gestão e de qualidade de vida. Fiquei muito contente em me juntar a este time! Espero que possamos usar este espaço para trocar ideias sobre comunicação humana no sentido amplo, nas organizações, na liderança, na educação, no cotidiano.

Seja bem-vindo(a) à coluna!

Lembro-me bem das aulas de redação da época da faculdade, quando a professora Teresa Neves nos puxava a orelha cada vez que passava alguma descrição vaga, uma adjetivação ou alguma expressão de ordem de grandeza sem referência clara para o leitor. Nada podia ser simples, pesado, novo, velho, grande, rápido, bonito, cedo ou saboroso em uma notícia ou reportagem. O que parecia um preciosismo à época, principalmente para uma aspirante à jornalista vinda da poesia, tornou-se quase um mantra ao longo da minha vida profissional e mesmo pessoal.

Buscar a clareza, a especificidade no texto, nas falas, nas orientações tem se mostrado fundamental para a efetividade da comunicação. Quem já saiu de uma reunião com um chefe com a missão de fazer um ‘relatório completo’, uma ‘apresentação simples’ ou uma ‘proposta robusta’ e se viu com uma baita interrogação na frente da tela do computador, sem coragem de voltar para perguntar o que parecia óbvio; entende o que eu estou falando.

E como somos tão pouco específicos na prática cotidiana, como pressupomos que o outro compartilha do mesmo contexto… Como mandamos os filhos ‘estudar direito’ e ficamos bravos quando o resultado é abaixo do esperado… E foi justamente um vídeo de um suposto pai ensinando as crianças a descreverem de forma específica como fazer um sanduíche de manteiga de amendoim com geleia que ilustrou para mim a questão de forma tão didática (https://www.youtube.com/watch?v=pdhqwbUWf4U).

No vídeo, o adulto pede a duas crianças, em faixas etárias diferentes, para explicarem como fazer o lanche em questão. Depois de algumas tentativas frustradas, desperdícios, insatisfações e afirmações nem sempre coerentes como ‘quando disse pouco quis dizer muito’, eles conseguem fazer o adulto criar um sanduíche de geleia com manteiga de amendoim. Bingo!

Mas quanta energia gasta… E é assim também nas organizações. As falhas na comunicação em decorrência de aspectos como a falta de especificidade nas orientações acarretam prejuízos, desgastes nos relacionamentos e na ambiência, desperdício de tempo e recursos…

Mas, o que é preciso para ser claro? Primeiro, ter consciência de que o processo não é tão natural quanto parece e atentar para este aspecto ao se comunicar. Depois, talvez o mais importante, não pressupor que o ouvinte ou leitor tem o mesmo nível de contexto que o emissor da mensagem ou que ele vai decodificar a mensagem com a mesma lógica que ela foi criada. As pessoas têm acesso diferenciado às informações e as interpretam conforme o seu modelo mental e as suas referências anteriores.

É preciso criar a trilha completa para levar o público a seguir o raciocínio do comunicador e entendê-lo. Uma forma de aproximar o emissor do receptor da mensagem é compartilhar as informações essenciais para o entendimento de forma específica. Além de não esquecer das perguntas básicas (quem, o quê, quando, onde, como, por quê e para quê), é preciso dar parâmetros para o esclarecimento.

Cinco litros de vinho pode ser muito para uma pessoa beber, mas será uma gota se derramado no oceano. Então, dar referências de grandeza principalmente para citar grandes proporções é importante. É mais fácil visualizar o quão distante é algum local quando comparamos a medida com a de uma construção conhecida como a ponte Rio-Niteroi é para os cariocas.

Já na comunicação interpessoal, é possível, por exemplo, solicitar para um profissional fazer, até as 17 horas do mesmo dia, uma apresentação de cinco slides com os tópicos ‘cenário anterior’, ‘ação realizada’ e ‘resultados alcançados pelo projeto X’. Um orientação bem mais clara do que pedir a alguém para fazer uma apresentação simples do projeto ‘X’ com urgência.

Sempre que possível, é importante ir um pouco além, dando também a referência de trabalhos anteriores e perguntando como o profissional pretende realizar a tarefa dada, de forma a ter-se a oportunidade de identificar ruídos na comunicação e ajustar o entendimento. Aliás, o teste de entendimento por si só já vale outro papo, mas fica para o próximo post…