Comunicação interna: o ano novo e o calendário de ações estratégicas. Já fez o seu? Por Karina Grechi Tagata.

Feliz Ano Novo!

Já se vão dezoito dias do novo ano, mas ainda é tempo de felicitações. Afinal, são 365 dias, aliás 366 esse ano, portanto ainda há um longo calendário pela frente.

E já que toquei no assunto ‘calendário’, hoje trago um tema que é um desafio recorrente nas empresas, mas, que na maioria das vezes acaba sendo relegado a um plano de ação menor: as ações internas de comunicação da marca.

Veja, não me refiro a um calendário de ações de incentivo ou datas comemorativas, falo de um calendário de ações proativas que consolidem os valores da marca/empresa entre seus funcionários.

Parece simples, não é? Um folheto aqui, um banner no corredor, talvez um podcast do presidente ou uma mensagem por e-mail – só que não é bem assim.

Precisamos primeiro tratar de alguns ‘complicômetros’, tais como a velocidade da informação e sua interferência na inteligência empresarial; ou sua curadoria, neste caso a capacidade da organização gerenciar seu conteúdo.

Já deu para perceber o tamanho do esforço que esse binômio representa, quando se busca o que Shockley-Zalabak definem como excelência organizacional: a habilidade de as pessoas se utilizarem da tecnologia para solucionar de forma criativa problemas cada vez mais complexos.

E como isso se relaciona com a Comunicação Interna? No simples digitar da tecla ‘enter’. É que em nenhum momento da história moderna lidamos como tanta disponibilidade de informação e com a necessidade de analisá-la de forma qualitativa como hoje.

Se isso vale para nossa vida em geral, vale também aplicar o mesmo raciocínio para a comunicação das empresas e marcas, afinal ela – a comunicação – é o tecido que permeia todos os níveis da organização.

A tecnologia online quebrou antigos paradigmas mas criou outros, como transparência, equidade, posicionamento. Assegurar que a equipe os entende, compartilha e aplica no dia a dia exige um investimento constante da alta direção e um calendário de ações consistentes e alinhadas. O professor Wilson da Costa Bueno já dizia que ‘a comunicação online rompe com a barreira do tempo e do espaço, instaurando uma nova ordem… A comunicação empresarial, plasmada pela utilização intensiva das novas tecnologias obedece, portanto, a novos pressupostos: ela é, basicamente, ágil e interativa, o que significa dizer que dela se exige uma quase instantaneidade de resposta e uma possibilidade de troca de informações e experiências’.

A linha entre público e privado é cada vez mais tênue, e o discurso da marca hoje trafega em todas as direções. Com isso, a Comunicação Interna passa a ser protagonista e, sim, ‘curadora de conteúdo’.

Embora cada marca tenha características intrínsecas e exclusivas, todas elas trazem como pedra de toque a necessidade de criação e manutenção de uma comunicação eficaz com todos os seus públicos. Por isso, ações que reforcem os valores e o propósito da marca entre seus públicos de interesse interno são fundamentais para assegurar sua solidez ante o tsunami de informações verdadeiras ou ‘fake’ navegando pela web.

É claro que não podemos dispensar a gestão da comunicação de forma integrada – interna e externa –, mas esse é tema para outro artigo.

Um dos pioneiros em comunicação organizacional no Brasil, Gaudêncio Torquato define como ‘missão básica’ da C. I. ‘o desenvolvimento e a manutenção de um clima positivo, propício ao cumprimento das metas estratégicas da organização e ao crescimento continuado de suas atividades e serviços e à expansão de suas linhas de produto’. Eu acrescentaria a defesa de sua própria existência como empresa, porque são os funcionários e colaboradores seus melhores embaixadores no palco digital, a linha de defesa que no ambiente web materializa a multiplicação dos olhos, ouvidos e bocas a favor da marca.

Mas, em termos práticos, o que pode a Comunicação Interna? Eu diria que tudo ou nada (e aqui sei que vou desagradar a uns tantos): se tratada dentro do âmbito estratégico, com autonomia e mesmo peso que as demais áreas, ela aperfeiçoa as habilidades da marca porque promove a interação entre todos os níveis da organização, criando um sistema de captação/disseminação de dados muito rico, que junto com os demais indicadores da empresa se transforma numa vantagem competitiva real na gestão do negócio. Por outro lado, se estiver como setor de apoio dentro de algum departamento, como Recursos Humanos, Administração ou mesmo a Presidência, acaba apenas cumprindo tabela. Não é core business desses setores e, mesmo no RH, este é um departamento que normalmente trabalha com uma demanda excessiva e tem que priorizar seus recursos naquilo que é seu foco principal.

Para ser eficaz, investimento e não custo, e resulte numa gestão eficiente de riscos para o negócio, Comunicação Interna demanda planejamento e recursos, como pessoal qualificado e infraestrutura. Nesse contexto, um calendário de ações estratégicas multidisciplinar e multisetor é um investimento que dá resultado: afinal empresas que se comunicam melhor com seus públicos internos acabam por melhorar seus índices de desempenho, como baixo turn over, queda no absenteísmo, aumento nas vendas e lucratividade.

Sei que esse é um projeto de muitas mãos, que precisa do aval e suporte de vários ‘caciques’, mas quem quer chegar a algum lugar precisa começar com o primeiro passo. Não importa o tamanho da empresa, o que importa é abrir o canal interno de comunicação… com estratégia e o respeito que o tema exige.

Karina Grechi Tagata é jornalista, com especialização em Gestão Estratégica da Comunicação Organizacional e Relações Públicas. São mais de 25 anos de profissão em grandes empresas de mídia e organizações privadas, com vivência gerencial em comunicação aplicada ao desenvolvimento de pessoas e negócios.