Comunicação de propósito: precisamos (nos) resgatar. Por Liana Merladete.

Comunicação de propósito. Comunicação de sentido. De significado! Tenho pensado muito sobre isso… e tanto… que devo dizer, e, talvez por isso, tomei a liberdade de “estender” meu pensamento para esse espaço.

Na verdade, tenho sentido falta da comunicação efetivamente de e por propósito e isso, preciso igualmente destacar, nas mais diversas esferas, segmentos, ramos e lugares de fala e ação. Por “n” motivos! Seja como profissional ou como consumidora. Inclusive, recentemente, compartilhava uma reflexão sobre o tema nas minhas páginas pessoais. Ou melhor, falava sobre minha preocupação em torno desse tema que, aqui, prefiro destacar como necessidade.

É tempo de fazermos, em verdade, uma reflexão profunda sobre o que, de fato, representa a comunicação de propósito atualmente. Fato, todos sabemos – sentimos e somos parte – de uma era de conectividade inigualável. Não é exagero, outrossim repetição, dizer que tudo está a um clique. Dados fluem em uma velocidade vertiginosa. Mas será que estamos realmente nos comunicando de forma significativa? Será que estamos preocupados com a gestão do conhecimento, afinal dos dados tiramos informações e delas, finalmente, conhecimento?

Ou estamos nos perdendo em estágios anteriores, tolerando uma bagunça igualmente vertiginosa, onde todos acham que se comunicam mas, tão somente, marcam presença em âmbitos onde notar a mesma é quase impossível… tamanha a concorrência?

Também é fato que todos sabemos – e, igualmente sentimos e, ouso dizer, igualmente somos as “armas” – bombardeados por uma infinidade de mensagens, desde anúncios publicitários até atualizações constantes em redes sociais. E, com isso, me pergunto: só eu estou exausta e pegando “ranço” de uma variedade de marcas e instituições?

Quase que na contramão, oportuna e perigosamente, pensem comigo… muitas vezes… nos sentimos vazios. Eu penso que é como se estivéssemos apenas arranhando a superfície das conexões humanas. Ou melhor, certa vez ouvi isso e me soou preciso, ainda que doloroso, sobretudo como relações-públicas, admitir que a comunicação se tornou superficial e efêmera – do contrário não se relegaria o propósito a um segundo plano.

Mas é, também como relações-públicas que vejo, mais do que nunca, que precisamos resgatar a essência da comunicação de propósito, dela que é tão importante (vital eu diria). A verdade é que urge a necessidade de buscar uma conexão genuína com as pessoas ao nosso redor. Profissionais e organizações precisam entender – absorver e praticar a ideia – de que não se trata apenas de transmitir informações, mas de estabelecer laços reais, de compreender e ser compreendido. A verdadeira comunicação de propósito, reconheçamos, não se trata de likes! Não é, pasmem, sobre seguidores ou compartilhamentos. É, sim, sobre tocar os corações e transformar vidas! Se assim não fosse, de que valeria nossa filosofia e missões? Aliás, onde as deixamos? No quadro pendurado na parede tão somente?

Nos dias de hoje, muitas vezes nos encontramos cercados por telas brilhantes e notificações incessantes, eu sei e você sabe e, talvez por isso, pareça tolo relembrar da referida filosofia e missão (que deveria ser norte e não sucumbida pelo preconizar de tendências, que são importantes, insta constar, mas não essência). Estamos, constante e repetidamente, esquecendo que, por trás de cada avatar ou perfil, há um ser humano único, com histórias, sonhos e dores. Com anseios, vontades, necessidades! Devemos aprender a ouvir verdadeiramente, a olhar nos olhos, a prestar atenção às entrelinhas. A comunicação de propósito requer empatia, autenticidade e presença – tudo que, intrinsecamente, as Relações Públicas prezam.

O que quero dizer é que não somos apenas necessários. O mundo competitivo, penso, e perdoem a nada falsa modéstia, precisa de nós.

E, para atender essa necessidade, precisamos nos perguntar, prioritariamente: qual é o nosso propósito na comunicação? O que desejamos transmitir ao mundo? Cada palavra, cada imagem, cada interação pode ter um impacto significativo. Eu acredito, fortemente, que nosso propósito na comunicação seja inspirar, educar, encorajar e despertar o melhor nas organizações e, por conseguinte, nas pessoas que dela precisam e/ou por ela coevoluem.

A comunicação de propósito, quero seguir acreditando e lutando por isso, é um convite para nos tornarmos agentes de mudança, para construirmos um mundo mais humano e solidário. E o convite para tanto não é somente aos relações-públicas como eu, mas a todas as organizações e profissionais que se importam com vínculos, resultados verdadeiros e perspectivas assertivas. O convite é para CPFs e CNPJs; repensarmos a forma como estamos, hoje, agora, comunicando. Precisamos nos (re)encontrar e mais que isso: nos resgatar!

Está mais do que na hora de irmos além das superficialidades, das mensagens vazias. Vamos buscar conexões autênticas, compartilhar histórias que tocam as almas, promover diálogos significativos. Não podemos esquecer, afinal, que cada palavra que proferimos tem o poder de criar um impacto duradouro. E mais: não nos percamos na transformação digital por si só. Tecnologia é meio e não fim.

A comunicação – se genuína, nesse contexto, aqui e agora -, pode ser um farol em meio ao mar de distrações e ruídos. Chega de barulho sem sentido, precisamos de propósito.

Liana Merladete é relações-públicas, empreendedora na área de Educação & Comunicação e Entretenimento Geek. Professora universitária, MBA em Gestão de Negócios, mestre em Tecnologias Educacionais em Rede, doutoranda em Comunicação e tem formação em Empreendedorismo e Coaching de Carreira.