COLOCA NA RODA - Showrnalismo: quando o show de horrores é naturalizado e o jornalismo perde a humanidade.

Quando vale tudo pela luta da audiência, o sensacionalismo é o combustível que alimenta o show de horrores de uma imprensa irresponsável e desumana.

No dia 17 de fevereiro, infelizmente, tivemos um caso chocante no Cidade Alerta (um programa sensacionalista por natureza) que revoltou telespectadores e internautas: o apresentador Luiz Bacci noticiou o assassinato de uma jovem que estava desaparecida à sua mãe, ao vivo.

O resultado: um show de horrores. Uma mãe desesperada e o retrato claro de um programa que se diz ‘jornalístico’ sem qualquer escrúpulo.

Infelizmente, a cara de pau do apresentador e da direção do programa não cessou por aí. Após a repercussão dessa tragédia midiática, Bacci gravou uma nota de esclarecimento em vídeo, na qual pediu desculpas pela cobertura e afirmou que o telejornal não teve nenhuma intenção de causar qualquer desconforto para a família.

Dá para acreditar em um posicionamento desses? Particularmente, não consigo acreditar, muito menos aceitar que essa atitude seja digna de um telejornal. Claramente a situação é um claro show de horrores ou showrnalismo, como define o jornalista e escritor José Arbex Júnior em sua obra ‘Showrnalismo: a notícia como espetáculo’.

Até quando teremos esse tipo de ‘profissional’ e ‘telejornal’ afirmando que prestam serviços à sociedade? Com tantas reações negativas, já passou da hora dos programas sensacionalistas fazerem um favor à humanidade: acabar.

Isso não quer dizer que vivemos em um mundo no qual só existem notícias boas e que não devemos tratar de tragédias.

No entanto, não é preciso ser um grande especialista em jornalismo para entender que um mínimo que qualquer repórter ou apresentador tem que saber, o que dizer, e como abordar, ou descartar a divulgação de temas que são extremamente delicados.

Se o que você reporta ou reproduz fere a humanidade, quebra os limites éticos e tem o caráter apelativo acima de qualquer coisa. Pare.

Todos os dias vivemos, ouvimos, lemos e somos bombardeados por notícias ruins e pode ter certeza que compactar e repetir o show de horrores de forma tão baixa é algo que não acrescenta em nada.

Pelo contrário: noticiar tragédias de forma tão cruel e fazer tudo pela ‘audiência’ só revela as mazelas de seres humanos doentes que se transformaram em verdadeiros abutres da imprensa.

Foto: Terje Sollie / Pexels.

Bruna Martins Oliveira é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É autora da monografia ‘O Transtorno Bipolar na perspectiva da mídia: uma análise do Paraná no Ar’.  Tem experiência no jornalismo de rádio (Grupo Lumen de Comunicação), além de ter trabalhado como repórter freelancer na Secretaria do Esporte e do Turismo do Paraná e no jornal Gazeta do Povo.