Brasil X Portugal - 6 diferenças no estudo da Comunicação. Por Giovanna Travensolo.

Quando decidi estudar no exterior, queria conhecer uma nova cultura e entender como era o estudo da Comunicação fora do Brasil e também ter novas visões e experiências sobre o mercado de trabalho.

Então, depois de me graduar em Relações Públicas pela Unesp em 2017, resolvi tornar realidade essa vontade que sempre tive e fui aprovada para cursar a pós-graduação de Branding e Content Marketing na Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), do Instituto Politécnico de Lisboa (IPL), em Portugal.

O curso teve a duração de 1 ano, e metade do corpo docente era formado por profissionais do renomado grupo de Comunicação da Bar Ogilvy, mundialmente conhecida. Tais profissionais eram encarregados de ministrar matérias mais práticas, enquanto que os docentes da instituição lecionavam matérias mais teóricas.

Durante a pós-graduação, notei algumas diferenças no estudo da Comunicação em geral entre o Brasil e Portugal, e vou tratar um pouco mais das 6 principais diferenças que percebi.

1. Público não é gratuito!

Não sei se é de consenso geral, mas confesso que foi uma surpresa para mim descobrir que em Portugal (assim como em vários outros países europeus) nada que é público é gratuito. Estamos acostumados com essa premissa aqui no Brasil, e por isso, temos várias universidades públicas (estaduais, federais etc.) que são gratuitas.

Mas em Portugal, as faculdades públicas (assim como outros serviços como hospitais etc.) são pagas, ainda que haja uma diferença substancial no valor das faculdades públicas e privadas, estas sendo consideravelmente mais caras.

Apesar disso, na minha busca por uma pós-graduação na área de Comunicação, descobri que os cursos em Portugal eram significativamente mais baratos. O valor total da minha pós-graduação na ESCS na época (2017) foi de R$ 10.000,00 enquanto que os cursos de pós que eu pesquisei aqui no Brasil estavam na média de R$ 18.000,00.

2. Formados em 3 anos!

Em Portugal, os cursos superiores costumam ter a duração de três anos (com exceção de algumas Engenharias e Medicina), diferentemente do Brasil, em que a duração mínima costuma ser de 4 anos para mais. Outra curiosidade interessante é que para determinados cursos, há a possibilidade de fazer ‘mestrado integrado’, que é basicamente acoplar o curso de graduação junto ao mestrado e no período de 5 anos concluir ambas formações.

Para entender um pouco melhor as qualificações e níveis de cursos superiores em Portugal é só conferir no site da Direção-Geral do Ensino Superior – https://www.dges.gov.pt/pt/quadro_qualificacoes?plid=371

3. Gestão de crises.

Uma coisa que notei é que a gestão de crise em Portugal está longe de ser o que conhecemos aqui no Brasil. Aqui, nós gostamos de dar nossa opinião em absolutamente tudo, com muita convicção e assertividade. Nós somos adeptos da ‘cultura do cancelamento’, estando atentos e criticando toda a vírgula que circula nas redes sociais. Então é natural que os brasileiros, além de terem uma opinião formada sobre tudo, querem mostrá-la e ovacioná-la o máximo possível.

Em Portugal não é bem assim, sinto que os portugueses são mais contidos e ponderados na hora de colocar um posicionamento online. Parece que eles filtram e escolhem a dedo qual questão vão problematizar, se isso de fato acontecer.

Outra diferença básica que existe no gerenciamento de crises dos dois países, é a questão do tamanho. O Brasil já passa de 210 milhões de habitantes (IBGE, 2020) enquanto Portugal tem pouco mais de 10 milhões (COUNTRYMETERS, 2020). Isso quer dizer que a proporção que uma crise pode ter no Brasil é infinitamente maior do que em Portugal.

Então, de maneira geral, sinto que a gestão de crises como conhecemos, estudamos e trabalhamos aqui no Brasil, ainda não está tão desenvolvida e não tem a mesma relevância em Portugal.

4. Referências.

Pessoalmente falando, acredito que sempre tive a ‘premissa’ de que a maioria das coisas que tivesse origens europeias e ‘países de primeiro mundo’ em geral, fossem consideravelmente melhores. Mas, fiquei surpresa positivamente ao entender que, ao menos na temática de Comunicação, o Brasil é referência para os portugueses, e não só portugueses.

Muitas referências utilizadas no ensino que tive na pós-graduação foram de cases e campanhas brasileiras. A maioria relacionada a campanhas publicitárias de sucesso, exemplos de como trabalhar marcas nas redes sociais, marketing de guerrilha, canais de humor, entre outros.

Foi muito interessante entender como o mercado português enxergava o mercado brasileiro como referência.

5. Matérias optativas.

Na ESCS há a grade de matérias que são obrigatórias e as que são optativas. As obrigatórias são de cunho mais generalista, tais como teorias, pesquisas e matérias básicas de Comunicação.

Já as optativas eram voltadas mais para assuntos técnicos e práticos, tais como Brand Video Content, User Experience Design, Conceitos Estéticos de Som, Fotografia Publicitária, entre outros. Tal ‘divisão’, acabava por reduzir o tamanho das turmas nas matérias optativas, e por consequência, tornar o estudo mais aprofundado.

Vejo que as matérias optativas dessa forma acontecem com menor frequência aqui no Brasil, pelo menos por experiência própria na Unesp e conversando com amigos que cursam pós-graduação aqui.

6. Estrutura técnica.

Na ESCS tive a oportunidade de trabalhar com materiais e estruturas da melhor qualidade (câmeras, programas, computadores etc). Inclusive, minha matéria preferida foi a de Fotografia Publicitária, em que pude aprender a manusear câmeras de última geração e depois editar as imagens de determinadas maneiras ensinadas em programas de edição, com total auxílio do professor.

Sinto que a facilidade e o acesso a tais materiais e programas não acontece de forma tão fácil aqui no Brasil, pelo menos na Unesp. Primeiro pela demanda, há pouca quantidade de material para o número de alunos, e isso também requer certa burocracia, que às vezes dificulta o desenvolvimento dos projetos.

Além disso, na ESCS, as matérias mais técnicas são optativas e isso acaba por reduzir o número total de alunos por aula e, assim, o docente tinha muito mais tempo e recurso para acompanhar e ensinar de perto as técnicas do tema.

De maneira geral, ter cursado a pós-graduação na ESCS em Lisboa foi de enorme aprendizado, e deixo aqui, os aspectos que considerei serem os pontos positivos e negativos dessa jornada.

Ponto negativo: Por se tratar de um curso de pós-graduação, muitas das matérias obrigatórias eu já havia visto e estudado no Brasil, então pôde parecer um estudo um pouco redundante. Mas também entendi que haviam inúmeras pessoas de outras áreas que estavam fazendo a pós para se especializar na área de Comunicação, ou até visando deixar a antiga profissão para trás e embarcar nessa área, e por isso, é essencial que tais matérias básicas sejam repassadas.

Ponto positivo: Viver a fundo outra cultura e entender as tais diferenças e semelhanças no estudo da Comunicação foi muito interessante para que eu pudesse enxergar o Brasil com olhos de não-brasileiros. Por fim, também fez com que eu valorizasse mais o estudo e as possibilidades nacionais. Além disso, também pude conhecer e compartilhar experiências com vários colegas portugueses e brasileiros de fora do estado de São Paulo e todas essas visões e compartilhamentos me engrandeceram imensamente.

Giovanna Travensolo é graduada em Relações Públicas pela Unesp e pós-graduada pela Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. Nas suas próprias palavras: “movida pelo poder que a comunicação tem e em como ela pode mover mundos – sou uma ‘resolvedora’ de problemas, sempre curiosa e totalmente dedicada a todas as causas e experiências que me envolvo”. Atualmente é analista de encantamento do cliente no ‘Zé Delivery’ e sua missão é gerar atendimento e relacionamento incríveis para os públicos do Zé nas redes sociais.