Um intelectual brasileiro a serviço da humanidade: Milton Santos.

DICA DE LEITURA: “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal” (Rio de Janeiro: Record, 2000).

COMENTÁRIO DO OCI – Marcondes Neto

Se o prêmio Nobel fosse entregue postumamente, Milton Santos (1926-2001) poderia ser “o” candidato brasileiro. Lucidez, serenidade e firmeza de quem conhece a vida e o mundo estão presentes nesta entrevista concedida em 18/04/2000 ao jornalista Boris Casoy, então na Rede Record.

Globalitarismo é um dos termos que surgem de forma sutil na fala culta – e ao mesmo tempo muitíssimo clara – do professor emérito da USP, tratando de seu livro – que sempre adoto, até hoje – “Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal”.

O geógrafo, também bacharel em Direito, auto-designa-se como um “intelectual público” e faz a distinção – rara – entre competição e competitividade, avocando para a primeira, inclusive, a possibilidade de compaixão – termo inexistente fora do circuito religioso das falas…

Milton Santos faz também a distinção entre os conceito de cidadão e de consumidor, jogando sua luz sobre a dicotomia proposta por Néstor García Canclini em seu livro de 1995, “Consumidores e Cidadãos”. O capitalismo, que o professor declara esgotado, é fruto de um pensamento único, aliás mais “único” que “pensamento”, uma vez que Santos evoca a brasileiríssima mula-sem-cabeça para referir-se ao sistema preponderante no mundo após o fim da União Soviética.

Um Socialismo construído “por mim e por você” é o que propõe o professor, invocando um “salto ao futuro”,  ideia – para ele – “não passível de ser ensinada” ao (e no) “mundo a que nos referimos”; a Europa (focada no passado), e os Estados Unidos (demasiadamente focados no presente).

“O Brasil não precisa ser potência”, afirma, mas pode ser um grande país: “grande país é o que cuida do seu povo”.