Saiba mais ou menos.

Matéria comentada aqui no OCI, ontem, originou o post.

Matéria de fevereiro, já comentada no blog, é citada aqui.

COMENTÁRIO

Procuro acompanhar as novidades no relacionamento, digamos assim, do jornalismo com a propaganda, especialmente através do Observatório da Imprensa, com pelo menos dois textos primorosos.

O primeiro, de fevereiro, já tinha comentado aqui no blog. Quanto ao outro, recebi a dica de um amigo para ler.

Ambos iluminam as novas formas de propaganda agregada ao noticiário: anúncio-camaleão ou branding content. Em resumo, trata-se de inserção de trechos nas matérias sob encomenda, pagos.

Não, não há nenhum alerta de que o exemplo ou a declaração foram pagos para estar ali. Como relações-públicas, ficamos conhecidos como bons catadores de espaço na imprensa. Somos quem está habilitado a cavar a mídia espontânea, que é estimulada por nós. Ou escrevemos releases e pedimos para publicar e ficamos vendo se publicaram mesmo, ou fazemos (ou dizemos) coisas irresistíveis. Aí apenas lutamos para que a imprensa saiba, e a imprensa aparece. Bom, era assim.

O perfume das relações comerciais, das preferências políticas, fica no ar, mas um não borrifa isso no outro. As partes se dão, ou não. E ponto. A propaganda ocupava-se dos anúncios e do merchandising, que foi honesto enquanto foi tosco. As bolsas viradas para a câmera, a tampa da margarina perfeitamente enquadrada, enfim, via-se. Mas eram ações de promoção na esfera do entretenimento. Havia escolha.

Ora, partindo-se do princípio de que na Era da Informação eu tenho que estar informado, isso significa que estou obrigado a consumir propaganda, e sem o saber. Porque o segredo é a sofisticação da inserção, feita para se misturar. E dá certo, a gente desconfia, mas nem da metade.

Pode ser coincidência, mas partindo-se do princípio de que os leitores que sustentam os jornais são justamente os mais intelectualizados, a coisa está transparecendo. Aliado a questões tecnológicas e desconfianças tradicionais, esse pode vir a ser um dos motivos pelos quais a confiança na imprensa é decrescente. Pode-se depreender que poucas pessoas saibam que esse tipo de propaganda existe, e que é cedo para qualquer correlação. Concordo. Ou seja, após o ruim, virá o pior. Porque a admissão dessa propaganda embutida é a confissão de culpa que confirma tudo aquilo que a gente imaginava.

A imprensa sai perdendo, mais uma vez.

O resultado de uma pesquisa publicada pela Edelman (Barômetro 2013), já comentada aqui no blog, mostra que os motores de busca ultrapassaram a imprensa como primeira opção de informação e que a confiabilidade da imprensa continua caindo. Creio que em parte já é resultado da desinformação: as pessoas confiam num carro usado de uma marca, mas não o comprariam da fábrica?

Poucas pessoas sabem que não há um só jornalista nesses motores, que só reproduzem o que já foi veiculado, segundo critérios estranhos ao mundo editorial. Seremos leitores do UOL, sem Folha de São Paulo?

Para juntar as peças, vamos ter que percorrer um mundaréu de sites e blogs? O Google escolherá o que eu devo ler, segundo interpretações próprias sobre o que eu dedilho?

Na sequência da pulverização das fontes, estamos vendo a pulverização dos veículos, reagrupados nos gigantões. Há tempos venho me perguntando se no futuro seremos muito intelectualizados, porém com pouca coisa em comum sobre o que cada um de nós aprendeu. A informação customizada é uma modalidade de isolamento. O individualismo nunca esteve tão perto de se completar. E quem diria, não foi obra do marketing de produtos. Para o consumo, as pessoas se reagruparam em sites de trocas de experiência e estão tomando decisões de compra coletivamente. Já vi sites fazendo jornalismo colaborativamente (tipo Overmundo), mas não vejo um “Reclame Aqui” da imprensa.

A banca convenceu o povo intelectualizado de que criticar a imprensa é contrário à liberdade de expressão. O Observatório da Imprensa faz a crítica qualitativa, mas ninguém quantifica e classifica as reclamações. Desconheço a existência de um Clube de Leitores de um determinado veículo – não confundir com Clubes de Assinantes, que não têm esse objetivo – para troca de impressões e reflexão sobre a qualidade da informação. As empresas divulgam seus números, que, quando aparecem, são positivos. Quando surge uma pesquisa assim como a da Edelman, fica demonstrado o contrário.

E adivinhe quais são as empresas mais confiáveis, segundo a mesma pesquisa? As empresas de tecnologia! Todos esses dados são da seção de Portugal, um dos vários países onde a pesquisa é realizada. Então, podemos levar em conta que o pessimismo com a imprensa tem um pouco do viés da crise europeia e deduzir que os portugueses estão mais bem servidos do que nós em atendimento. Ou então, que o veneno já está surtindo efeito. Depende da fonte.

Sobre Marcelo Ficher

Bacharel em Relações Públicas pela FCS/UERJ. Mestre em Educação pela UFF. Consultor e professor do curso de Pós-graduação em Administração de Marketing e Comunicação Empresarial da Universidade Veiga de Almeida. Presidente da Comissão de Fiscalização do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).