Muitos dos mal-entendidos têm origem na falta de diálogo. As pessoas têm a pretensão ou, no mínimo, a ingenuidade, de achar que sabem o que se passa na cabeça e nas atitudes de outra pessoa. Mal sabemos ao certo o que se passa na nossa própria mente.
Em decorrência desta falsa percepção, caímos constantemente em armadilhas e nos indispomos gratuitamente com as pessoas. As expectativas também são ciladas. Temos o péssimo costume de criá-las e exigir que aqueles com os quais nos relacionamos atendam-nas em sua totalidade, na ordem e no tempo que queremos.
Infelizmente – e felizmente -, tudo acontece no tempo que tem que ser, e não da forma que queremos e aguardamos. E nem sempre as pessoas vão atender a todas as nossas expectativas, algumas delas e, muitas vezes, nenhuma delas, mas também está tudo bem.
As regras são simples, façamos a nossa parte, sejamos claros ao expor o que queremos, como faremos, o que pode hipoteticamente acontecer ao tomarmos determinada ação. Tudo é incerto, só fica certo quando se concretiza. E, mesmo assim, pode mudar na última hora.
Então, não devemos fazer falsas promessas, dar como certo o que ainda não aconteceu. Uma vez feita uma promessa, ela se torna uma dívida, que cedo ou tarde vai lhe ser cobrada com juros e correção monetária.
De uma hora para outra tudo muda, troca-se de rota, os imprevistos acontecem, o livre-arbítrio impera, outras pessoas atuam naquela ação. Portanto, por mais que tenhamos roteiros, planejamentos, há o imponderável. E quando não atendemos às expectativas dos outros, somos julgados e condenados. Em muitos desses casos, nós mesmos nos sentenciamos por coisas que estão fora do nosso controle.
A clareza e a objetividade são os pressupostos primários para diminuirmos as inconsistências nos processos da comunicação. E, mesmo quando somos muito diretos, muitas vezes podemos ser incompreendidos, porque além das expectativas, há o ouvir e o escutar, o ler e o compreender.
Quando queremos ouvir algo e as pessoas nos dizem o contrário, temos um mecanismo de defesa que nos faz desvirtuar o que nos foi dito ou interpretarmos da forma que gostaríamos de ouvir. Nessas horas surgem os conflitos, as divergências, as decepções.
Por vezes, a linguagem escrita pode ser interpretada de forma rude ou mal-educada, irá depender de como estamos ou não abertos para a comunicação com aquela pessoa e naquele momento. O mesmo acontece com a linguagem falada, quando o tom de voz carrega algum timbre que a outra pessoa pode receber como agressivo ou arrogante.
Mas, infelizmente, não temos como evitar isso, porém temos como não tomar para nós mesmos as expectativas frustradas do outro. Temos que ser educados e gentis, mesmo que nosso interlocutor não o seja. E, para quem não quer entender, não há explicações suficientes que possam convencer.
Portanto, cheguei à conclusão de que não podemos controlar nada, não estamos na cabeça e nem no coração das pessoas. Somos seres que carregam bagagens e que possuem gatilhos que acionam nossos medos, defesas, ações e reações.
É meio clichê, mas verdade, que muitas coisas que nos incomodam no outro é o que precisamos mudar em nós, nem tudo, mas muitas. E quando constatamos isso, e iniciamos o processo de aprender com nossos erros, vamos crescendo, e nos corrigindo, nos aperfeiçoando para nos tornarmos exemplos. Nunca impondo nosso jeito de ser, mas causando admiração no outro, vontade de seguir pelo mesmo caminho.
Outro clichê que amo: gentileza gera gentileza. A partir do momento que você inicia esse processo, é tomado por uma paz tão grande que não consegue mais ser e fazer de outra forma. E, quando a adversidade chega, você lida com ela de uma maneira diferente daqueles seres que ainda não enxergam do mesmo ângulo que você está vendo.
Porque o certo e o errado têm muitas facetas e nos pregam peças o tempo todo. Coisas aparentemente erradas podem ser as corretas se olharmos de outra perspectiva. A mãe ou o pai que não ajuda o filho em determinada ação – porque ele tem que fazer sozinho, pois a vida exigirá isso dele e seus pais não estarão lá o tempo todo quando ele precisar -, está ensinando aquele filho a ser forte, a enfrentar seus desafios, a superar-se.
O irmão mais velho que não faz o trabalho de escola do irmãozinho está agindo da mesma forma. Porque, no mercado de trabalho, poucos serão aqueles que vão lhe ensinar por falta de tempo, paciência ou por medo de que lhe “roubem” o lugar.
Eu sempre aproveitei muito o aprendizado que me ofereceram, mesmo daqueles que me criticavam, apontavam meus erros e que queriam meu lugar, porque, graças a todos eles, tornei-me o que sou hoje: alguém em constante evolução, que sabe muito mais do que antes e saberá muito mais amanhã, sem a necessidade de sonegar o conhecimento ou seu tempo para ensinar. Quem ensina aprende mais e reforça o seu próprio aprendizado. E no diálogo franco e respeitoso conseguimos exercitar a comunicação na sua mais pura essência.
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Rosângela Manchon é mãe, consultora de Comunicação e escritora. Atua há mais de 30 anos com Comunicação Corporativa, tem passagem pelas mídias televisiva, impressa e trabalhos em Social Media. Coautora dos livros “Da informática à tecnologia da informação jornalistas contam suas histórias” e “Coletânea Pensamentos de Gaveta”, ambos pela Reality Books biografias.