O poder da comunicação não verbal. Por Rosângela Manchon.

Nos meus mais de 25 anos na área corporativa tive o prazer e o desprazer de conviver com muitos profissionais. Mas tirei uma lição importante e imprescindível: aprendi e aprendo com todos eles, mesmo aquilo que não se deve fazer.

Temos manuais de etiqueta para todas as circunstâncias, mas ainda não nos ensinaram como reagir e interagir com a comunicação não verbal. Aquela troca de olhares, respiração ofegante, desvio do olhar que demonstra nosso desconforto em estar à frente de alguém.

Popularmente, muitos dizem: “o meu Santo não bateu com o daquela pessoa”. Já, eu, digo: houve falha da comunicação não verbal. Não estou dizendo aqui que devemos dissimular estar de acordo com alguém só para sermos aceitos, mas temos que saber interpretar os sinais e simplesmente nos afastar de uma situação que irá nos causar mal. Quando insistimos, certamente será ruim para ambos os lados. Temos que seguir nosso instinto e, primeiramente, nos preservar. Dessa forma, conseguiremos realizar um término de relacionamento sem ressentimentos e culpas.

Ninguém é obrigado a concordar com a gente, mesmo que estejamos supostamente certos. Muito menos quando estamos errados. Mas há uma premissa básica chamada respeito. E mesmo que um profissional não reconheça na postura do outro o seu modo de enxergar determinada situação, deve tentar compreender que um “6” pode ser um “9” dependendo do ângulo que você olha.

É sempre muito enriquecedor termos mais de uma visão de vida para não cairmos repetidamente no mesmo erro. Todas as pessoas contribuem umas com as outras, o tempo todo. Diferentes pensares fazem com que a civilização progrida, evolua, transforme-se, crie tecnologias e solucione problemas.

Podemos levar esta constatação para todas as áreas da vida. Por isso os mais velhos costumam ser mais sábios – porque já vivenciaram muitas experiências. Sabem o que pode dar certo e o que pode dar errado em várias situações, desde que as tenham vivenciado. Já os jovens têm a criatividade e a visão além das experiências para enxergarem outras saídas – e ambos se completam -, basta que trabalhem juntos em prol de um mesmo objetivo e não queiram impor seus pontos de vista um ao outro.

O treino nos faz cada vez melhores naquilo que escolhemos atuar. O exemplo são os escritores. A maioria se espelhou em algum ídolo adicionando seu toque pessoal e, assim, cada livro, cada boa matéria jornalística, cada artigo, cada poema que você lê, acrescenta algo a mais ao seu estilo de escrever. Quanto mais, mais enriquecedor.

Mas voltemos à comunicação não verbal, aonde eu quero chegar. Há pessoas que não têm o grau de maturidade e humildade de se depararem com pessoas que discordam de alguns de seus pontos de vista e, simplesmente, agem como crianças birrentas tomando a bola do amiguinho. Se você não “brincar” do jeito que eu quero ou espero, não tem “brincadeira”.

Isso é muito ruim, porque toda atitude inflexível gera ações conflituosas. A própria natureza nos mostra isso, mas poucos conseguem compreender a tempo. Quando o vento sopra forte, só as árvores com caule mais flexível não são derrubadas, curvam, mas permanecem intactas após a tempestade. Na construção civil acontece igual, a estrutura pela qual é feito um prédio precisa respeitar vários critérios que a tornem segura, no caso de um terremoto, por exemplo. Tudo o que é rígido demais ou inflexível uma hora arrebenta.

Apesar de tudo isso que foi dito, cada profissional, ou melhor, cada ser humano tem seu tempo de maturidade, de compreensão e não devemos impor. Sabedoria não se ensina, não se aprende em universidade, não se conquista com títulos de Mestrado e Doutorado, com a fluência em várias línguas, viagens ao redor do mundo, só as experiências simples nos ensinam a sermos coerentes, a termos bom senso, a sermos respeitosos e empáticos.

Eu sempre digo, desconfie da pessoa (amigo ou colega de trabalho) que sempre concorda com você ou o elogia o tempo todo. Você pode estar sendo manipulado. Porque o verdadeiro amigo ou aquela pessoa que está ao seu lado em algum trabalho quando vir que você está equivocado, vai alertá-lo, procurar lhe mostrar que o “6” pode também ser “9” e não apenas sorrir com seu erro e falar mal de você pelas costas.

Saiba que aquele colega que fala mal do outro colega para você, também falará mal de você para outro, e assim por diante, porque este tipo de perfil é característico de quem não tem autoestima, amor-próprio e precisa depreciar o outro para se sobressair. Mas você não apaga a luz de ninguém, você só ofusca a sua própria.

Todos erramos, o tempo todo, para podermos aprender. Só não erra nunca aquele que não coloca a mão na massa, não se expõe, não tenta, não cria, não constrói, não contribui.

E quando o “Santo não bater” e não der para você simplesmente respeitar e ser profissional, afaste-se com elegância, sem ofender, sem falar mal, porque até um afastamento pode ser uma lição de aprendizado para sua carreira e muito mais para seu aprendizado de ser humano em constante evolução.

Ninguém sabe de tudo o tempo todo e ninguém é de todo mau. Estamos em constante reciclagem de valores, ensinamentos e pontos de vista. A pessoa que aos 50 anos tem as mesmas convicções de quando tinha 20 nada aprendeu, ficou paralisada no tempo. É diferente do caráter, este imutável e construído com educação sólida e pessoas do bem ao redor: pais, professores, ídolos.

Portanto, respeite o ponto de vista do outro. Há um lugar para cada um, você não precisa “roubar” o lugar de ninguém, mesmo porque, o que não lhe pertence, ou é roubado, ou uma hora outro o tirará também de você. Não é uma questão de crença religiosa ou dogma, é a lei da física: ação e reação.

Bom trabalho, boa interação com o semelhante e atenção à comunicação não verbal.

Rosângela Manchon é mãe, consultora de Comunicação e escritora. Atua há mais de 30 anos com Comunicação Corporativa, tem passagem pelas mídias televisiva, impressa e trabalhos em Social Media. Coautora dos livros “Da informática à tecnologia da informação jornalistas contam suas histórias” e “Coletânea Pensamentos de Gaveta”, ambos pela Reality Books biografias.