O uso do termo humanizado (parto) tem origem na área da assistência à saúde, a partir de um contexto de baixa qualidade da atenção e relação nos atendimentos médicos e hospitalares, especialmente na atenção básica.
A moda pegou e agora o termo vem sendo usado no meio corporativo, o que nos deixa várias reflexões.
Curiosamente o termo “humanizado” vem sendo usado para designar a impressão de alguma pequena margem de cuidado e atenção em processos em geral sofridos e dolorosos.
Então é comum a gente encontrar livros e cursos sobre suposta gestão humanizada, atendimento humanizado, RH humanizado, humanização na saúde, compra humanizada , copy humanizado e até mesmo demissão humanizada.
Essa perspectiva não somente é equivocada como também induz mais uma vez ao positivismo tóxico, pois “dá uma demão” de humanidade como bondade concedida em situações e vivências em que há pouca troca ou uma relação de hierarquia onde uma das partes está obviamente impedida de agir, por vários fatores.
Outra coisa é que essa abordagem com esse termo oculta certa crueldade nos processos e até mesmo das estruturas sociais, onde, novamente, uma das partes está visivelmente em desvantagem, e até um certo ponto de visão crítica, não tem condições de dialogar ou reverter nada na situação, especialmente na demissão – e ainda tem que lidar com uma camada adicional de suposta benevolência, quando, em muitos casos, seria mais respeitoso agir com objetividade sem forçar a percepção de que o lado humanizado está fazendo algo ruim, mas é “bonzinho”.
Seja honesto, você se sentiria bem se seu líder/chefe te chamasse e dissesse: – olha, vou te demitir, mas é um processo de demissão humanizada.
Ser humano já vem com alegrias e dores, conquistas e sofrimentos, somos sujeitos a altos e baixos, lidamos com isso desde sempre. Não tentem piorar isso.
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Ana Morais é mestre em Desenvolvimento e Formação de Pessoas pela UPE, executiva senior em educação, consultora, escritora, palestrante e especialista em desenvolvimento de equipes de alta performance e nos temas de educação e trabalho. Especialista em Competências, é coautora do livro “Equilíbrio emocional em tempos de crise”, pela Editora Laços.
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