Fidelidade versus Lealdade nas empresas. Por Ana Cristina Guedes.

Embora se confundam algumas vezes, essas duas palavras têm sentidos muito diferentes. E não estou nem falando na relação amorosa entre as pessoas, tema ao qual naturalmente remetemos o assunto. Isso é assunto para um outro artigo. Estou falando no âmbito empresarial e de comunicação de uma marca.

É que esta semana pensei muito no quão importante é a palavra lealdade, e como ela é carregada de sentidos quando a imprimimos no nosso cotidiano, no nosso jeito de ser e no modo como direcionamos nossas ações e as aplicamos no trabalho e nas relações profissionais. E se essa palavrinha estiver inserida no seu rol de prioridades como parte essencial de um processo de gestão institucional, de relacionamento com a empresa, você está indo bem.

Lealdade, portanto, tem a ver com compromisso, zelo, responsabilidade, envolvimento. Como diria Ivan Martins (revista Época), ‘na lealdade talvez se manifeste o melhor de nós’. A definição é trecho de um artigo sobre relacionamentos, mas se aplica também ao que abordamos aqui. E eu acredito verdadeiramente nisso, embora alguns não entendam.

Na comunicação empresarial, a fidelidade é um caminho para a lealdade e não o contrário. E muito menos significam a mesma coisa. A Fundação Getúlio Vargas estabelece uma analogia bem simples e de fácil entendimento que pode ser feita entre comunicação mercadológica e comunicação institucional/Fidelidade e Lealdade.

‘A primeira (comunicação mercadológica) trata de elementos como atração e fidelidade. A segunda (comunicação institucional) tem como campo de trabalho a lealdade. Uma campanha publicitária, por exemplo, explora aspectos relativos ao preço ou à qualidade de um produto ou serviço. Mas é na lealdade que se pressupõe maior estabilidade, pois o respeito ou a admiração por uma marca podem minimizar eventuais questões de preço, distribuição ou mesmo sensíveis diferenças de qualidade’.

Fidelidade, portanto, tem a ver com propaganda, com ações de marketing que te levam a adquirir um produto porque o preço é bom ou porque os descontos são arrasadores ou ainda por promessas tais que você nem sabe se vão se cumprir. Isso funciona? Sim. Mas é preciso ter cuidados com ações que não consideram o sentido do produto para o cliente, que não agreguem valor e que não geram nele experiência (palavra do momento). Lembremos, por exemplo, dos famosos programas de fidelidade. Eles existem desde o setor de alimentos, passando por lojas de cosméticos, postos de combustíveis e por aí vai. Tudo para gerar fidelidade. Mas se eles vão gerar lealdade é outra história.

Lealdade tem a ver com valores subjetivos e abstratos, como respeito e admiração, atributos que as empresas buscam conseguir com envolvimento em campanhas de responsabilidade e engajamento social, por exemplo, que gerem empatia e identificação com o cliente.

Entendemos, então, que as relações de um cliente com uma marca são baseadas na fidelidade e na lealdade. A primeira é um caminho para a segunda, mas não é a garantia de que será atingida. E chega a ser uma utopia, mas deveria ser a lealdade do cliente o objetivo das empresas. Mas isso exige muito mais que programas de fidelidade. Exige transparência, identificação do cliente com os seus valores, responsabilidade social, comprometimento. Lealdade se torna, assim, artigo raro.

Ana Cristina Guedes é jornalista, especialista em Comunicação Institucional e Comunicação Política, e Mestre em Comunicação pela Universidade de Valladolid, Espanha.