Discípulos da pressa. Por Silvia Pilz.

Eu não sei exatamente a razão dessa loucura mas tenho a impressão de que estamos sempre em busca de distração, de coisas que nos deixem absolutamente exaustos e distantes do que somos. Ninguém mais parece ter concentração para nada além da execução das tarefas diárias. Ficar quieto é quase um crime.

Só é bem aceito se for chamado de meditação, já que meditação tem um propósito.

Não sou, nunca fui, uma daquelas pessoas que se sentem mal – como se não estivesse em dia com o aluguel – se o dia estiver bonito e eu não estiver aproveitando.

Explico: aproveitar um dia é – na concepção da maioria – movimentar-se. É montar uma série, como as que se montam em academias, cumprir todas as etapas e torcer para que aquela sensação de missão cumprida te jogue na cama, no término do dia. Não aguento ouvir “comi demais, exagerei; segunda-feira vou dobrar meu treino na academia”. E todos acham graça. E eu fico sem graça por ter vontade de mandar essas pessoas para…

Aproveitar – do verbo sacrificar-se – significa participar de atividades que fazem com que as horas passem mais depressa. Estamos tão felizes que nos programamos para que o tempo voe e a gente não corra o risco de parar para se perceber ou perceber o outro. Poucos aprofundam conversas. Poucos questionam as regras e muitos seguem o enterro sem saber quem é o defunto.

Basta participar de um jantar. As pessoas se atropelam. Um não consegue deixar o outro falar. Todos só falam deles mesmos, o tempo inteiro. Pouquíssimos percebem que os frenéticos estão frágeis. Quase em coma emocional. O colapso é geral.

I’m so tired.

Silvia Pilz é jornalista e escritora. Autora do livro Sem Vergonha na Cara, já foi colunista da Playboy, do jornal O Globo, e tem textos publicados na revista Piauí.