Hoje nosso amor é um arquivo pesado. E ocupa quase toda a minha memória. Mais de cinco mil fotos da nossa alegria, nossas viagens, nossos beijos e abraços. Pensei mandar imprimir todas elas. P’ra fazer aquele quadro da felicidade. Mas não deu tempo, acabou antes disso.
A parede da sala de estar está vazia.
Nosso amor restou software, hardware, metálico, amargo, pesado e gelado. Não passa de um arquivo muito pesado. Eu sabia que todas aquelas imagens eram só para disfarçar a nossa agonia. E que o tempo que perdemos com elas faltou nos nossos dias, nas nossas vidas.
É preciso coragem p’ra aceitar tudo isso, eu tenho…
Não vou manter esse arquivo morto, pesado, que ocupa quase toda a minha memória. É só um clique, e tudo vai embora p’ra sempre. Deleto nós dois, e você deixa de existir agora.
A parede da sala de estar está vazia.
E os meus sonhos congelados, modo especial, painel travado, turbo ice, naquele arquivo, gelado, deletado, que jamais vai ser impresso, jamais… e que deixou de existir na minha vida agora mesmo, e foi com apenas um clique que ele apagou, deletou.
E a parede da sala de estar permanece vazia.
Não há felicidade na parede, nunca houve parede feliz. Meus sonhos, brancos, congelados, até não sei quando, talvez, até degelar tudo o que sinto, até desaguar na vida novamente. Pressinto que logo, logo-logo, estarei água.
Faz muito calor aqui, ai, como faz calor aqui!
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Maeve Phaira, jornalista, advogada, escritora. Autora do livro Outono em Copacabana.