Tão inerente ao ser ao humano quanto respirar é o ato de se comunicar, seja por meio de linguagem verbal – expressa por meio de palavras escritas ou faladas – ou não verbal, expressa por signos visuais, tais como gestos e expressões. E, das diversas definições atribuídas ao conceito ‘comunicar’, uma das mais originais e pertinentes é a do criativo e publicitário David Ogilvy, que sugere que comunicação não é o que dizemos, mas o que os outros entendem.
Mas, se é assim, por que ouvimos muitas vezes – no senso comum e até em nossa própria voz interior – justamente o oposto, de que somos responsáveis apenas pelo que falamos?
Dentre as possíveis causas para tal dissonância, estão a confusão do conceito e um comportamento pós-moderno denominado ‘egoísmo social’. Segundo o professor de comunicação verbal Reinaldo Passadori (RH Portal), a confusão ocorre por muitos reduzirem a comunicação ao simples fato de terem dito algo, excluindo a dimensão do receptor. E, quando a incluímos, por vezes, identificamos o egoísmo social – que ocorre quando colocamos nossas próprias necessidades e ideias à frente da empatia, acreditando que o outro irá internalizar e interpretar o que dizemos exatamente de acordo com nossas próprias bagagens, crenças, valores e visões de mundo.
Na prática, porém, as experiências e vivências são diferentes e eventuais ruídos relacionados à transmissão da mensagem podem ocorrer, ferindo o princípio básico da comunicação de ‘tornar comum’. Palavras mal empregadas, mensagens incompletas, diferentes estilos de linguagem, momentos e ambientes inadequados, bem como falta de clareza, por exemplo, podem contribuir para a formação de um grande ‘telefone-sem-fio’, impactando pessoas e organizações.
Segundo Peter Drucker, um dos principais autores em Administração, os ruídos de comunicação são responsáveis por até 60% dos problemas corporativos. Deles podem derivar eventuais erros nos processos, impactos negativos na produtividade, conflitos desnecessários e, até, prejuízos financeiros.
Da mensagem também faz parte o meio!
Sendo assim, dada a importância do tema, não cabe mais nos posicionarmos apenas como sujeitos autores de conteúdos, mas também – sim – como veículos. Dessa forma nos tornamos plenamente responsáveis pelo processo comunicacional, incluindo a transmissão da mensagem ao receptor de forma clara e objetiva.
Para tanto, algumas dicas podem ser valiosas:
– Ter empatia com o receptor e adaptar a linguagem com palavras e gírias próprias de sua origem, faixa etária e escolaridade, por exemplo. Considere que públicos diversos têm bagagens e experiências que podem ser diferentes das suas.
– Atentar-se à comunicação corporal – como postura, tom de voz e gestos –, de modo a torná-la condizente com a mensagem transmitida. Considere que linguagem verbal e não verbal são complementares.
– Não deixar partes importantes da mensagem nas entrelinhas. Organize a mensagem de uma maneira lógica e a transmita integralmente em momento e ambiente adequados.
A partir do empoderamento trazido pela responsabilidade e emprego destas dicas, a expectativa é a considerável redução de ruídos nas relações pessoais e corporativas, atingindo assim uma comunicação mais efetiva, com consequentes ganhos em termos de engajamento, união, lealdade, produtividade e crescimento.
Já que se comunicar é uma necessidade, nada melhor do que fazê-lo de maneira a gerar relações positivas.
Que tal pensar um pouco sobre isso hoje?
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Ilustração: Ewerton de Campos Silva.
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Marina Boldrim é publicitária (USP) e especialista em Gestão de Comunicação e Marketing (USP) & Marketing Intelligence (Universidade NOVA de Lisboa). Atua na área de business intelligence e se interessa por temas de performance e comportamento. Contato: [email protected]