Caso Bruno. Parte 893749827. Por Ana Celina Tiburcio.

Assassino, criminoso. Polêmico, difícil, falta de ética, de transparência, oportunismo. Responsabilidade social, reintegração à sociedade. Exemplo, imagem do esporte, visibilidade, marketing às avessas. Impunidade lamentável. Lama midiática.

Esses foram alguns termos que ecoaram nas redes sociais em relação à notícia de que o ‘goleiro’ Bruno teria sido contratado pelo Boa Esporte de Minas Gerais.

O fato em questão é tratado em forma de artigo pelo relações-públicas Guilherme Alf e observamos, nos comentários ao texto, opiniões de colegas profissionais e de estudantes.

A maioria acha no mínimo estranha a atitude do clube – que parece querer se promover na base do ‘custe o que custar’. Depoimento de uma cidadã mineira: – O caso não sai da TV de Minas e a exposição não tem limites.

O ‘empresário’ de Bruno afirma não se importar que os até então patrocinadores do Boa Esporte estejam saindo… e diz que o clube, agora, terá melhores patrocinadores…

E o próprio clube, o que diz? O clube nada declara.

A intenção não é fazer um julgamento aqui, mas apontar a total falta de preparo e de posicionamento do clube diante da atitude tomada e de sua repercussão.

Não há sequer a oferta de uma ponderação sobre a contratação do ex-presidiário, condenado por sequestro, violência, cárcere privado, assassinato e ocultação de cadáver (da mãe de seu filho, diga-se de passagem) e que não cumpriu nem um terço de sua pena.

Se ao menos o clube tivesse um programa de responsabilidade social voltado à reintegração de ex-detentos… mas não é esse o caso.

Uma busca por ‘Boa Esporte’ no Google mostra:

‘Goleiro Bruno receberá o maior salário do Boa Esporte’.

‘Diretor do Boa Esporte ignora impasse com patrocinadores e diz que o Bruno vai ficar’.

‘Bruno volta ao futebol pelo Boa Esporte e divide a população’.

E tem, ainda, protesto de mulheres. Com muito sentido não é mesmo?

Mas… o futebol e os ‘negócios’ não podem parar. O que começou por uma espécie de ‘vazio institucional’ do clube acabou refletindo e repercutindo junto a organizações numa sociedade que carece de princípios de responsabilidade e de conduta ética, além de um mínimo desenvolvimento sociocultural.

A mídia preocupa-se apenas em ‘viralizar’ suas matérias da forma mais polêmica possível, uma vez que o sensacionalismo ‘concorrencial’ é o que importa. É a tal da ‘guerra por audiência’

Mas… que tipo de audiência estamos criando? Onde fica o senso crítico? Onde está o bom senso? Falar em bom gosto, então, parece demais…

Alonguei-me até aqui para dizer que um clube, uma organização ou uma empresa que toma decisões olhando apenas para o seu próprio umbigo, certamente é aquela do tipo que não investiria jamais em comunicação institucional ou se preocuparia com cultura ou filosofia organizacional, do tipo que cria e que agrega valor para os seus e para a sociedade em que se encontra.

Bem… é claro que ex-presidiários merecem uma segunda chance. O objetivo, aqui, não é demonizar Bruno Fernandes, e nem ‘vomitar’ um discurso politicamente correto, mas, sim, cobrar um mínimo de cidadania corporativa – o que todas as organizações deviam desenvolver e preservar.

Um clube de futebol é uma vitrine para a sociedade. São atletas ali, com status de ídolos. Há necessidade do exemplo, mas parece que neste caso nem um mínimo arrependimento foi demonstrado. Reparação de danos, então…

Alô, século 21! Empresas melhores para uma sociedade melhor! Quem já não ouviu isto? É verdade! Sabemos que quem faz as empresas são as pessoas… seus valores, responsabilidades e transparência. Na falta desses ‘ativos’, o prejuízo é de toda a sociedade.

– Você se candidataria a ser RP do Boa Esporte, hoje?

Ana Celina Tiburcio é relações-públicas (Reg. 3203 – Conrerp1)