O boicote às marcas e a responsabilidade política corporativa. Por Simone Carvalho.

Nos últimos anos, estamos vendo um crescente movimento de boicote às marcas, tanto pelos seus meios produtivos – como às empresas que fazem testes em animais -, como pelo seu posicionamento político.

É um direito do consumidor escolher a marca que prefere, seja pelas suas qualidades percebidas ou pelo seu posicionamento político, bem como é um direito da marca escolher desde as matérias-primas para a fabricação de seus produtos até a maneira como vai se posicionar politicamente, seja em defesa de algumas bandeiras, seja com o apoio financeiro a determinados partidos e ideologias políticas.

Uma pessoa que decide boicotar uma marca pode não fazer tanta diferença assim no lucro de uma organização, mas ele está agindo de acordo com a sua consciência e terá a certeza de dormir com mais tranquilidade. Como diriam os mais antigos, ela não vai “lavar as mãos” ao perceber uma atuação corporativa inadequada eticamente.

Mas a pergunta que eu faço é: o que representa um boicote para a responsabilidade política da empresa?

A base da responsabilidade política corporativa está nos valores da empresa, expressos em seu código de ética, suas políticas de responsabilidade social e ambiental, suas normas de conduta e a avaliação objetiva de sua atuação cotidiana.

Mas, no atual contexto, as organizações privadas são atores econômicos e políticos relevantes, que atuam direta ou indiretamente nas instituições públicas, e, no caso brasileiro, mais notoriamente contra as políticas públicas de cunho mais social, buscando garantir seus lucros e sua primazia.

A responsabilidade política corporativa deve trazer à tona a necessidade de reconhecer o impacto que as decisões tomadas pelas organizações têm na esfera pública e, consequentemente, na sociedade.

As novas gerações têm demonstrado um desejo por um consumo mais sustentável e socio-ambientalmente correto, e esperam que as organizações sejam cada vez mais responsáveis pela sua influência na sociedade, incluindo as questões políticas. Nesse sentido, as atividades de relações públicas governamentais devem ser no sentido de contribuir eticamente com o poder público.

As empresas privadas estão se adequando ao tripé ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), que só é viável dentro de um regime democrático, e devem cada vez mais abraçar causas que lhes sejam caras, adotar bandeiras que lhes sejam significativas e, mais recentemente, se posicionar politicamente de maneira racional, entendendo o que cada sigla partidária representa para a democracia, sob o perigo de estarem do lado errado da história.

E você, boicotou alguma marca recentemente que divergiu dos seus posicionamentos pessoais?

Dica de leitura: o livro de Fernando Santos, “Ética empresarial: políticas de responsabilidade social em 5 dimensões” (SP, Atlas, 2014) é um clássico para refletirmos sobre a ética empresarial e a atuação responsável.

Simone Carvalho é relações-públicas, mestre e doutora em Ciências da Comunicação (ECA-USP), com MBA em Gestão Empresarial (FGV). É especialista em Inovação e Gestão em EAD (FEARP-USP) e atua na área pública desde 2011. Atualmente, trabalha com relações governamentais na Educação superior pública, além de ser docente universitária no complexo FMU/FIAM-FAAM. E-mail: profasimonealvesdecarvalho@gmail.com | LinkedIn – https://www.linkedin.com/in/simonecarvalho/