EFEITO RP - A minha mãe não é uma peça, ela faz a peça. Por Bárbara Calixto.

Sempre admirei muito a minha mãe. Não só por questões maternas, pelo cuidado e orientação que ela me deu, mas pela mulher e empreendedora que ela é, pela capacidade de superar desafios e sempre encontrar alternativas. Acredito que todas nós temos exemplos de grandes mulheres dentro de casa (ou que sejam próximas a nós). Então, vamos enaltecê-las?

E caso você esteja se perguntando, é isso mesmo, o título desse texto está correto: minha mãe não é uma peça, ela faz a peça.

Desde que eu me conheço por gente, minha mãe é artesã, ou seja, ela faz a peça. O dom foi herdado da minha bisavó, que passou de geração em geração. Algumas das mulheres da minha família usaram esse talento para “fazer um dinheiro” ou encontraram o próprio sustento ali. Já a minha bisavó, fazia artigos artesanais durante o ano e, ao final, vendia os produtos e doava o dinheiro arrecadado para o Hospital do Câncer.

De volta para a minha mãe: desde sempre ela usava do artesanato como meio para complementar a renda de casa. Eu sempre a ouvi falando que gostaria apenas de viver daquilo, de pegar encomendas, bordar, pintar caixinhas e se dedicar a esses trabalhos artesanais. Era o que ela gostava. Porém, na época, era preciso ter muito mais tempo, dedicação, fluxo de caixa e clientes. E como se sabe, todo empreendimento demora um pouco para gerar lucro.

A realização dela veio há pouco tempo, quando realmente se arriscou no empreendimento, investiu de vez e decidiu viver apenas do artesanato. Na verdade, ela já tinha o nome estabelecido na cidade por conta de todas as encomendas que produziu em mais de 20 anos, mas ela foi além e resolveu abrir uma loja. A ideia surgiu de uma conversa informal e, a partir dali, ela criou um espaço colaborativo na cidade em que reside (Araçatuba,SP). Convidou várias pessoas para participar e começou a montar o espaço: alugou uma casa, pensou em um nome, nas cores, na decoração, na curadoria dos produtos para colocar lá e também em como falar com as pessoas.

Como vocês já devem ter imaginado, ela é uma pequena empreendedora, então, não havia muito dinheiro para o planejamento de comunicação, nem para mandar fazer um logotipo, nem panfletos. Mas eu e minha parceira ajudamos a trazer mais forma para o lugar. No começo, elaboramos vários posts para as mídias digitais, configuramos o Google Meu Negócio, ajudamos na divulgação, impulsionamos os conteúdos etc. Não sou designer, mas gosto de ajudar como posso, dentro das minhas habilidades de comunicadora.

Mas o que realmente me chamou e chama a atenção em tudo o que ela faz, é que ela sempre consegue encontrar uma alternativa. Ela é uma mulher forte, que se empenha e se dedica às atividades. Ao mesmo tempo em que é apaixonada por costurar, também dá aulas para crianças, tira fotos, faz lista de transmissão no WhatsApp compartilhando os produtos, divulga os bazares para a mídia regional, busca parcerias locais na cidade (como o Sebrae, por exemplo) e com outras artesãs.

Recentemente, ela organizou uma feira colaborativa. No evento, cada pessoa comprava um espaço para levar seus produtos artesanais. E olha só que sacada: cada empreendedora que participou da feira divulgou seus serviços, a data da feira e mencionou o espaço. Dessa forma, a audiência aumentou, a informação pulverizou (o famoso “boca a boca”) e o espaço ficou mais conhecido por públicos diferentes.

A minha mãe não teve uma aula específica de planejamento de comunicação, mas parece que isso já veio intrínseco nela. Ela não executa o passo a passo de um planejamento, muitas vezes não analisa o resultado de uma ação, não quer saber o que é persona, lead e muitos menos se é um MQL (marketing qualified lead), mas quer saber como pode deixar uma cartinha para uma cliente ainda mais assertiva e delicada. Ela quer saber como pode fazer um vídeo no Instagram, como pode fazer um story ou qual legenda seria legal. Ela se preocupa e se importa com o que está ao seu alcance, e com a realidade do negócio que criou. Para ela, o mais importante é que as clientes recebam uma mercadoria de qualidade e com o amor colocado em cada peça.

Será que não é isso que todas as grandes empresas deveriam pensar? Muitas vezes falamos sobre ter os clientes no centro, mas quantas vezes lembramos dessa personalização, desse cuidado e do contato humano?

Além de todas as lições de empreendedora, mulher e tantos outros adjetivos que eu poderia conferir à minha mãe, compartilho esse ensinamento com vocês. Muitas vezes as pessoas só querem algo personalizado. Seja o nome, uma escuta ativa ou algo que realmente tenha valor (e não preço).

Viu só? Minha mãe não é uma peça, mas ela faz a peça.

Bárbara Calixto é graduada em Relações Públicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e possui MBA em Marketing pela USP/Esalq. Atualmente, desempenha a função de Analista de Marketing em uma Govtech (Portabilis) e já trabalhou em agências de comunicação, no segmento varejista e indústrias. Além disso, é uma pessoa que ama cozinhar, apreciar a natureza e está sempre disponível para uma boa conversa.