'Wait and see'... não é opção! Por Luis Vasconcelos Dias.

Eu sei (?!) que a razão principal para a criação dos robôs não foi para roubar empregos!… Claro está, que isso pode muito bem acontecer… Se baixarmos a guarda. Se desistirmos de inovar.

É vital acompanhar o ritmo de transformação que o digital está a imprimir às nossas vidas, sem nunca esquecer a diferença entre tarefas parcialmente automatizadas e completa automatização de um posto de trabalho.

Transformar, sim. Mas, com o cuidado de utilizar as tecnologias de forma inteligente. O que é que isto significa? Significa selecionar as tecnologias que podem aportar maior eficiência aos processos que protagonizamos. Sejam eles processos de produção, processos de gestão, de distribuição, de comercialização, de comunicação e, mesmo, processos educacionais. Só assim é que poderemos imprimir um maior grau de diferenciação às atividades a que nos dedicamos. Atividades que acrescentem valor à cadeia de valor que já integramos!

Mas, existe um outro ponto de vista que não devemos ignorar. É quando as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), entram de rompante na nossa vida pessoal ou profissional. Tanto num caso como no outro, este rompante, será sempre o reflexo da nossa incapacidade de transformar processos e adotar novos comportamentos em tempo útil.

Para Nicholas Bloom, professor do Departamento de Economia da Universidade de Stanford, estaremos a dar os primeiros passos de um novo modelo económico, o qual ele mesmo rotulou de working-from-home-economy, o que, só por si, não tem de ser uma coisa negativa. O problema é que, a magnitude da pandemia está a ser um duro teste à capacidade de adaptação das pessoas e, portanto, a dificultar o redesenho da nova economia do conhecimento que, no limite, será a base fundamental de uma cultura de inovação.

Quem poderá, então, recusar entrar neste trem da inovação e desenvolvimento tecnológico? Que organização ou empresa se poderá dar ao luxo de não acompanhar este movimento acelerado? Wait and see, não será certamente a atitude mais correta!

Por isso, penso que o desafio principal, está mesmo no desenvolvimento das competências das pessoas e não tanto ‘dos empregos’. Estes irão sofrer transformações ao ritmo que as novas tecnologias demonstrarem aportar maior eficiência aos processos existentes. E não devemos estranhar que, seja melhor remunerado aquele que apresentar as competências para melhor otimizar as tecnologias. Até porque, com isto subimos a fasquia …

Mas, os candidatos ao mercado de trabalho têm de saber lidar com uma situação non sense quando, apresentando as competências exigidas para determinada função, parece não terem o pedigree académico ou mesmo um currículo profissional convencional. Tal é, em grande parte, consequência da crescente oferta de soluções de auto especialização. Razão pela qual nos EUA, por exemplo, já existem plataformas do tipo TechHire.org que certificam as competências específicas apresentadas, fazendo o matching com o solicitado pelo empregador.

Ora, tendo em conta a velocidade a que se desenvolvem especializações em diferentes áreas tecnológicas, eu não estranharia que no futuro e em diferentes setores da economia, se venha a contratar mais com base na mestria apresentada (provas práticas), deixando para segundo plano ‘a escola’ de origem do candidato. Não porque se pretenda excluir a vertente académica, mas, apenas porque, se está a valorar de forma diferente. E isto já sinaliza uma mudança de paradigma!

E, não me venham com a frase feita de que ‘é preciso humanizar as tecnologias’. Porquê? Simplesmente porque são os humanos a criar as novas tecnologias e, só mesmo por masoquismo ou qualquer outro distúrbio mental, é que elas teriam como prioridade eliminar ‘o criador’. Seria tudo, menos inteligente. Sim, eu sei, que o cinema já nos presenteou com chocantes histórias de ficção onde, por momentos, tal acontecia… mas era no cinema, certo?

Até me vem à memória aquela ideia, brilhante, de Warren Bennis, americano erudito e consultor organizacional, para quem ‘a fábrica do futuro terá apenas dois funcionários; um homem e um cão. O homem estará lá para alimentar o cão. E este, terá como função impedir que o homem toque nos equipamentos!’.

Sabemos o quanto os processos de inovação podem constituir um importante fator de motivação e engagement. Especialmente numa fase em que as ligações físicas e presenciais estão condicionadas. E, uma vez mais, a capacidade de liderança será vital para manter trabalhadores ligados a um propósito único e transversal, condição necessária (mas talvez não suficiente…) para antecipar mudanças e aumentar resiliência.

O mundo pode parecer cada vez mais incerto e imprevisto, mas nós temos de ser cada vez mais participativos e transformadores.

Luis Vasconcelos Dias – Pharma & Healthcare Consultant – lvd.labmarkconsulting@gmail.com