VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL - Evite a 'Fadiga do Zoom': 5 dicas saudáveis para o trabalho remoto.

Além de ter que lidar com uma pandemia alarmante e uma crise econômica iminente, agora, a nova preocupação de quem está em casa, é o fenômeno que os psicólogos têm chamado de ‘Fadiga do Zoom’.

Não sabe o que é o Zoom? Para você que, milagrosamente, ainda não fez nenhuma call ou live nessa quarentena, parabéns! Eu explico: a companhia californiana Zoom tem uma das plataformas mais eficazes para videoconferências, especialmente para reuniões com um grande número de pessoas. Só no primeiro trimestre desse ano, o lucro da empresa cresceu 1.123%, se comparado com o mesmo período de 2019, e já alcançou um valor de mercado de mais de US$ 48 bilhões. E ela não é a única nesse segmento: o Facebook, o Google, a Microsoft e muitos outros gigantes tecnológicos também estão lucrando com suas plataformas de vídeo-chamadas.

Muitas pessoas estão trabalhando de casa e você pode se perguntar: ‘Mas plataformas como essas não ajudam a aproximar as pessoas, promover encontros, reuniões, alinhamentos, happy hour e até um aniversário em família?’. Com certeza ajudam. Qualquer recurso que nos aproxime um pouco mais das pessoas é relevante num momento delicado como esse. O ponto é definir um limite. É preciso achar um equilíbrio para que possamos continuar utilizando esse recurso tão importante, mas que pode se tornar tão exaustivo.

Antes de pensar em algumas dicas que podem nos ajudar, devemos entender, primeiro, o que de fato causa toda essa fadiga. O psicólogo Albert Mehrabian, pioneiro em pesquisas sobre linguagem corporal, definiu uma regra para a comunicação interpessoal, usada até hoje. Ele explica que a efetividade da mensagem é alcançada de forma: 7% verbal (somente palavras), 38% vocal (incluindo tom de voz, velocidade, ritmo, volume e entonação) e 55% não-verbal (incluindo gestos, expressões faciais, postura e demais informações expressas sem palavras). Ou seja, podemos concluir que em 93% da nossa comunicação, os gestos, o tom de voz e as expressões faciais falam muito mais do que as palavras.

Agora, imagine seu cérebro tendo que enxergar, ouvir, processar e interpretar sinais de mais de 20 ou 30 pessoas simultaneamente numa tela? É muito exaustivo. Não estávamos ‘programados’ para isso. Além do que, esses sinais geralmente são distorcidos, não são tão evidentes ou tão fáceis de entender do que seriam pessoalmente. Por isso, nossos cérebros precisam trabalhar muito mais para decodificá-los e é isso que nos esgota.

Sabemos que as video-chamadas vão (e precisam) continuar. Por isso, convido você a refletir sobre essas 5 dicas que têm me ajudado muito a conviver com essa nova realidade:

1) Abra o vídeo apenas quando necessário

Se você, assim como eu, trabalha com Negócios, Inovação ou qualquer atividade onde tenha que interagir com pessoas novas todos os dias, sabe o quanto é importante o olho-no-olho. Por isso, deixe o vídeo apenas para essas reuniões essenciais, onde você precisa se conectar de uma forma mais intensa e causar impacto. Para chamadas de alinhamento de atividades, apresentações ou reuniões periódicas, se dê uma folga e tente participar de algumas apenas por áudio.

2) Incentive a colaboração assíncrona

É fato, as pessoas se acostumaram com as calls e qualquer conversa vira um invite na agenda. Muitas delas poderiam ser resolvidas com um e-mail, um áudio ou uma breve mensagem de texto. Assim, você transmite a informação necessária, a pessoa irá ler ou ouvir e responder assim que tiver um tempinho, entre uma reunião e outra.

3) Programe seu horário de almoço

Quando você ia fisicamente ao escritório, como era seu horário de almoço? Certamente um tempo para relaxar um pouco, se desconectar, comer bem e recarregar as energias. Se a sua mesa de trabalho é a mesma em que faz as refeições, há uma grande chance de você confundir as coisas. Reuniões podem surgir nesse horário e você ter que alternar entre dar uma garfada e abrir a câmera para responder uma pergunta. Eu já fiz isso e sei o quanto me arrependi. Use o horário do almoço para comer bem e relaxar um pouco a mente.

4) Não emende uma reunião na outra

Um dia notei que estava muito cansada à noite. Eis que percebi que fiz exatamente onze reuniões naquele dia. Onze! Eu contei na agenda. Entre reuniões de uma hora de duração a conversas breves de alinhamento. Todas por vídeo. Imagine o quanto meu cérebro trabalhou para processar tantos estímulos? Por isso, hoje sempre deixo alguns espaços e lembretes entre as reuniões para levantar da cadeira, me alongar, respirar fundo e tomar água.

5) Crie um ritual de desligamento

Trabalhar de casa pode te fazer confundir seu espaço de descanso com espaço de trabalho. Se você se pega o tempo inteiro respondendo mensagens, pensando em clientes, atendendo ligações, mesmo fora do expediente, precisa criar limites. Claro que imprevistos e urgências acontecem, mas você precisa de uma rotina física e mental saudáveis. Busque seu próprio ritual de desconexão. Eu aprendi a determinar um horário para início e final da minha jornada. No final do dia eu desligo o wi-fi e guardo o notebook na mochila, assim como faria presencialmente no escritório. Procuro desconectar um pouco do celular também e fazer outras atividades analógicas, como leitura ou meditação, em que eu me reconecte comigo mesma e com o ambiente ao redor.

E você? Como está se saindo nessa pandemia? Comente se tiver alguma dica que possa ajudar a termos um trabalho remoto mais saudável.

Juliana Burza atua no ecossistema de inovação e tecnologia brasileiro, apoiando empresas a estarem à frente da Transformação Digital. Mentora de negócios, ghostwriter e especialista em personal branding no LinkedIn. Escreve a coluna VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL no portal OCI e é membro do Grupo Mulheres do Brasil (Líder do Comitê Mundo Digital) e associada da I2AI (International Association of Artificial Intelligence).