Reflexões sobre ética e design.

Gilles Lipovetsky, autor do renomado livro ‘O império do efêmero’, de 1987, pode também ser lido em uma publicação de 2004, intitulada ‘Metamorfoses da cultura liberal: ética, mídia e empresa’, publicado pela editora Sulina, de Porto Alegre.

Essa pequena obra de 88 páginas foi feita a partir de quatro conferências do filósofo francês, realizadas em 2001, por ocasião de sua visita ao Canadá para receber o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia pela Universidade de Sherbrooke, e para palestrar em um Seminário de Sociologia na Universidade de Ottawa.

Dentre as palestras, destaca-se ‘A alma da empresa: mito ou realidade’. O filósofo discorre sobre ética, algo que passou a ser tanto disciplina de cursos de graduação como um tema abordado no cotidiano das empresas. Para o mundo corporativo, apresentou quatro grupos de situações:

1) Sucessão de catástrofes e perigo ao meio ambiente. Citou o caso da catástrofe marítima do super-petroleiro Exxon Valdez (Exxon); o da da tragédia de Bhopal (Union Carbide), na Índia, com 2.580 mortos; o da diminuição da camada de Ozônio; o da emissão de gases de efeito estufa; e o da destruição da Floresta Amazônica – estes três sem uma empresa específica envolvida, mas muitas.

2) Modelo econômico do capitalismo determinado pelas políticas neoliberais dos anos 1980. Tratou de casos de corrupção e dos escândalos financeiros que não só são condenáveis moralmente, mas que afetam além das próprias empresas, as atividades bancárias e as bolsas de valores.

3) Ascensão do referencial ético no universo empresarial ligado às novas estratégias de marketing com o objetivo de ganhar novas fatias de mercado por meio de novas políticas de comunicação. A Benetton, famosa pela campanha antirracismo; UAP e a luta contra a Aids; Redoute e Evian – que destinaram parte da receita para auxiliar ‘Médicos Sem Fronteiras’.

4) Promoção da cultura empresarial. Á reas de Recursos Humanos que se voltam para a própria empresa, tendo como prioridade a produtividade dos funcionários.

Para os designers que criam identidades visuais para empresas, tal conteúdo faz refletir sobre o papel social da empresa no trabalho de criação de uma marca. Apesar da especificidade do assunto, Lipovetsky cumpriu, mais uma vez, sua função como filósofo, pois nos faz pensar sobre questões que vivenciamos. Se, por um lado, nos leva a identificar, de forma crítica, as estratégias das empresas, por outro, nos faz debater sobre nosso papel enquanto profissionais que atendem ao sistema vigente. O mais interessante é que suas palavras são pontuais para qualquer área de humanas a exatas além do design.

Gisela Monteiro é mestre e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Design da ESDI/UERJ, na linha de pesquisa ‘História do Design Brasileiro’. É também graduada pela mesma instituição com habilitação em ‘Projeto de Produto e Programação Visual’. Possui formação técnica em Design Gráfico pelo Senai Artes Gráficas do Rio de Janeiro e experiência na prática do Design, tendo sido responsável por diversos projetos para empresas. Atua como docente em diversas instituições do Rio de Janeiro. Seu maior interesse: promover projetos que integrem teoria e prática.