Saiu no The New York Times que a Disney está sendo processada por desigualdade salarial entre homens e mulheres. Você se assustou? – Pois é. Eu não! Vamos refletir um pouco sobre a cultura organizacional da Disney e a atuação das Relações Públicas.
A cultura organizacional estabelece um conjunto de crenças e atitudes da organização em relação à importância das pessoas, aos valores éticos e morais, à competição interna, à orientação para o mercado e produção e à capacidade de ação e de adaptação às mudanças externas. Além disso, a identidade de uma organização é constituída pelo conjunto de representações que seus integrantes formulam sobre o significado dessa organização em um contexto social.
A Disney apresenta uma trajetória de décadas, sendo considerada uma das culturas organizacionais mais enraizadas do mundo. A Disney University integra os membros de elenco dos parques e resorts dentro da cultura organizacional do grupo a ponto dos mesmos entenderem e prestarem o atendimento que vem a ser o diferencial da empresa. A socióloga Naomi Klein coloca que a extensão dessa cultura para outras áreas como medida de marca bem-sucedida constrói uma espécie de ‘casulo de marca’ suficientemente completo para alguém passar a vida lá dentro como, por exemplo, a Disney, desde 1930 com a ideia de que seus fiéis seguidores façam as malas e mudem-se para a marca.
A Disney tem um índice de fidelização de 70% de milhões de clientes, segundo a pesquisa realizada em 2011. Um dos grandes responsáveis por esse índice é o apelo da magia, a qual é interpretada como um misto de encantamento e prazer que os clientes vivenciam ao visitar os parques. Nota-se, então, uma consonância com Baldissera, que discute sobre a socialização organizacional ser um rito de passagem, uma vez que o indivíduo ‘sai de um mundo anterior para entrar em um mundo novo’.
Assim sendo, questiona-se até que ponto uma organização pode avançar sobre questões subjetivas dos trabalhadores em prol de atitudes espetaculares no trabalho. No caso da Disney, a magia acaba com os funcionários trabalhando com desigualdade salarial entre os gêneros. O sucesso da Disney esta alicerçado em sua cultura emocional, orientada a sua forma particular de atender o cliente. Esta forma norteia o modo de trabalho dos membros de elenco a ponto de ser considerada sua maior responsabilidade.
A magia e as histórias contadas aos funcionários logo na socialização organizacional sustentam essa cultura. Contudo, notam-se críticas a essa tradição ao perceberem que não há uma troca mútua, pois devem agir de forma imposta, não-natural, enquanto não recebem condições de trabalho apropriadas. Nessa perspectiva, a atuação do profissional de Relações Públicas na cultura organizacional é de extrema importância. Pensar que a cultura está submetida ao espetáculo faz o entendimento dela como parte de organizações e em suas correlações.
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Ana Moura é brasileira, relações-públicas e estudante de Relações Internacionais. Gosta de falar sobre tudo. Atua como pesquisadora de Comunicação e Trabalho e de Cultura Organizacional.