Não me acostumo. Por Neusa Medeiros.

Como diz o escritor Chico Buarque, eu tenho tanta alegria adiada, abafada! Isso talvez explique não me acostumar com algumas coisas. Sou uma eterna apaixonada por palavras, música e pessoas inteiras, afirmou certa vez a maravilhosa Clarice Lispector. Também sou assim! Mas confesso que não é nada fácil lidar com as impermanências.

A capacidade de suportar, tolerar e até ignorar deveria ser pauta nas famílias e na escola. A gente passa uma vida tendo que administrar as mazelas, engolir as palavras, aceitar o que não tem explicação. Não me acostumo com pessoas rasas que pouco se importam com a dor alheia, que carecem de empatia, mas sabem pedir socorro rapidinho, quando a dificuldade aparece.

Sei que tudo pode mudar na proporção da nossa ousadia, mas é evidente que há uma lacuna entre o que é falado e a vida na prática. Existem atitudes que não condizem com os discursos. Perdemos tempo tentando decifrar e nos deparamos com os enganos. Num mundo conectado, as reservas e os medos embasam a visão. Acredite, para evoluir precisamos passar por caminhos tortuosos, confiando no processo e nas escolhas.

Existem dias que marcam a alma. Estamos sempre em transformação. A gente se perde na poeira e fica desejando se refazer. Cabe lembrar que se semeou em terra boa, as chances reais de uma colheita satisfatória crescem, mas isso fala mais de nós do que do outro.

Então, desejo que possamos nos curar de coisas que não falamos, de sentimentos guardados, de sonhos represados. Os dias ruins passam, assim como infelizmente os bons, mas a sabedoria de saber lidar com ambos fica, e é um aprendizado sem fim. Por isso, não subestime a sua capacidade de se reinventar, de superar batalhas, de recomeçar por outros caminhos. Pode parecer o fim, mas nem sempre é. Quem sabe não é um novo começo?

Cuidado! A gente se acostuma a viver na mesma rota e deixa de sonhar. Às vezes, o caminho desconhecido pode ter belezas escondidas, surpresas incalculáveis. De onde menos se espera pode vir uma resposta, um consolo, um abraço! A vida tira, mas também entrega. Mesmo cansados, vamos apostar no merecimento!

Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.