FORA DA CAIXOLA - Essência VERSUS Modernidade Líquida no Oscar 2019.

Na noite do último domingo, foi possível assistir a um evento que não perde a força e nem o impacto há 91 anos. Estou me referindo à entrega do Oscar, prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

Eu tenho que reverenciar algo que permanece impactando não só a indústria do cinema, mas o coração de pessoas de todo o mundo. Esse ano, duas coisas chamaram minha atenção. Uma delas, foi a desistência do comediante Kevin Hart de apresentar o evento e a outra o conteúdo dos agradecimentos dos premiados.

Kevin Hart anunciou e comemorou nas redes sociais dele o fato de ter sido escolhido para apresentar a 91ª. edição do Oscar. Mas, teve seu Twitter vasculhado por internautas que encontraram diversas publicações antigas com declarações homofóbicas, gordofóbicas e de apologia à violência infantil. Para lacrar a decisão da Academia de desconvidá-lo, veio à tona uma declaração de 2015, para a revista Rolling Stone, em que dizia: ‘Um dos meus maiores medos é meu filho crescer e ser gay. Isso é um medo. Mas, atenção, não sou homofóbico… Seja feliz. Faça o que quer fazer. Mas eu, como um macho heterossexual, se puder evitar que meu filho se torne gay, assim o farei’.

Em contrapartida, nos agradecimentos dos vencedores, muitos textos improvisados, cheios de energia, verdade e história. Lady Gaga me emocionou ao dizer: ‘Se você está em casa, no seu sofá, assistindo a isso, tudo o que eu tenho a dizer é que esse é um trabalho duro. Eu trabalhei duro por muito tempo para chegar até aqui. Não é sobre ganhar, é sobre não desistir. Se você tem um sonho, lute por ele. Existe uma disciplina. Não é sobre quantas vezes você foi rejeitado, caiu e teve que levantar. É quantas vezes você fica em pé, levanta a cabeça e segue em frente’. A cantora e atriz ganhou o Oscar de melhor canção original com ‘Shallow’, do filme ‘Nasce uma estrela’, no qual interpreta com participação de Bradley Cooper. A música é de autoria de Gaga, que também protagoniza o filme.

Estamos em tempos de Modernidade Líquida, como descrita por Zygmunt Bauman, onde nada é feito para durar, por conta de tantas incertezas que nos cercam, gerando ações egoístas e resultando em questões como o culto às celebridades. Segundo o sociólogo, escritor e professor, ‘Nós estamos assustados; progresso, para nós, significa uma constante ameaça de ser chutado para fora de um carro em aceleração’.

E esses dois fatos que me chamaram a atenção mostram alguma solidez contra o imediatismo e a falta de empatia vigentes. Gaga incentiva as pessoas a não desistirem, a acreditarem em um futuro melhor. E a sociedade está chutando para fora do carro quem ainda é preconceituoso e esquece o bom senso, mesmo sendo uma celebridade.