FORA DA CAIXOLA - A maior artilheira em história de mundiais.

A vida não foi feita para ser uma eterna competição. Todos queremos vencer, se destacar e fazer a diferença, mas muita gente esquece que para isso é preciso arregaçar as mangas. Muitas vezes, as dificuldades acabam sendo alavancas e levando pessoas a lugares nunca imaginados.

Um desses casos é o da jogadora de futebol Marta, a melhor jogadora de todos os tempos, que alcançou, ontem, um recorde fenomenal. Com o gol marcado sobre a Itália, ela superou Miroslav Klose e se tornou a maior artilheira em Copa do Mundo, seja em competição masculina como feminina.

Foram 17 gols em cinco edições diferentes em que participou. Humilde, a atleta dedicou o feito a todas as mulheres: ‘Eu divido com todas vocês que lutam e batalham e ainda têm que provar que são capazes de desempenhar qualquer tipo de atividade’.

Superar um homem em um esporte eminentemente masculino é p’ra lá de especial, de se tirar o chapéu, de se ajoelhar, de se estampar e noticiar aos quatro ventos. Minha mãe me conta que ela, quando ingressou no mercado de trabalho, teve que vencer muitas dificuldades. Foi excluída quando se separou do meu pai, se fingiu de burra ao receber cantadas ridículas, teve que trabalhar por muitas madrugadas sem fim para provar que era muito melhor que alguns colegas de trabalho. Mas, um dia virou a mesa e chegou a gerente de comercialização de um dos maiores jornais do nosso país.

Pois é, Marta, eu agradeço pela minha mãe, que me criou com tanto suor, noites em claro e jogo de cintura. Fiz duas faculdades e viajei o mundo com o resultado de tanta dedicação. Eu também sou grata a ti, que mantém a dignidade e mesmo sem patrocínio não fugiu à luta.

A brasileira já foi eleita, por seis vezes, pela FIFA, a melhor jogadora do mundo. Ultrapassou Pelé em número de gols com a camisa da seleção. É também a maior artilheira da história da Seleção Brasileira, tanto feminina como masculina, com 118 gols. Nasceu em Alagoas e conquistou o mundo, com a camisa número 10 – 1,63 m de altura – e um pé esquerdo que segue, magistralmente, o comando dela em direção ao gol.

Quem imaginaria que essa craque não tem patrocínio e ganha menos que 1% do salário de atletas do futebol? Mas a moça não se abate. Desde o ano passado, é Embaixadora da Boa Vontade, nomeada pela ONU, e mostra seu poder com gestos simples, orgulhando a mãe, Dona Tereza. Na comemoração desse gol histórico, embalou simbolicamente um bebê. O motivo? Atendeu um pedido da colega de time, Thaisa, que falou antes do jogo que se ela fizesse um gol, queria homenagear o primo e a esposa dele que estão grávidos.

Geralmente fecho meus textos com alguma frase de efeito, com algo que tenha impacto e gere reflexão. Mas hoje, os exemplos de uma mulher guerreira, que viu no futebol a possibilidade de ajudar a mãe, falam por si. Sem glamour, ela leva o trabalho a sério e eleva o nome do nosso país usando um par de chuteiras.