DNA DE MARCA - Shein: a rainha da 'fast-fashion' agora busca sustentabilidade.

A Shein, varejista de moda mais valiosa do mundo, só chegou a esse patamar por conta da Geração Z e do TikTok. Agora, a mesma geração cobra a marca para que ela tome alguma atitude em relação à emergência climática.

Para entender melhor todo o sucesso da Shein, precisamos trazer como ela ganhou destaque em meio à Geração Z. Ava Grand, uma estudante de moda, não tinha muito o que fazer durante a pandemia nos dias de isolamento e as redes sociais foram um escape para ela e para muitos jovens.

Grand compartilhava alguns conteúdos no TikTok e uma das tendências que surgiu nesse período foi a de juntar um grupo de amigos para fazer uma enorme compra na Shein. A brincadeira chamada de “haul” – que significa “fartura” -, consistia em provar dezenas de peças que foram compradas por um preço pequeno, na esperança de salvar uma ou duas delas. A brincadeira retrata um consumo desenfreado que logo ficou enraizado na personalidade da marca, já que essa brincadeira fez as vendas da Shein quintuplicar em dois anos para 15,7 bilhões de dólares em 2021 e o número de clientes da loja online aumentar absurdamente, ultrapassando 43 milhões.

Em meio à brincadeira, Ava Grand se incomodou com a grande quantidade de embalagens que chegavam em sua casa, já que cada roupa vinha com uma embalagem – sendo assim, 200 roupas e 200 embalagens. Ao ver aquilo, a jovem resolveu protestar. Desenvolveu uma jaqueta com as embalagens das roupas e compartilhou sua preocupação com o uso exagerado de polímeros, um material versátil, resistente e barato, porém fabricado com matéria-prima fóssil e considerado o grande vilão dos oceanos. O vídeo logo viralizou e outras fashionistas compartilharam roupas criadas a partir das embalagens da Shein.

Como o que acontece nas redes sociais impacta no mundo real, logo a Shein sentiu o baque. Sendo cobrada por todos para ser mais sustentável e parar o consumo desenfreado de roupas. No início do ano a empresa lançou um relatório de sustentabilidade e logo em seguida se comprometeu a reduzir em 25% as emissões em sua cadeia de suprimentos até 2030. Mas não pense que a empresa está realmente preocupada com a saúde do planeta; a falta de critérios socioambientais e de governança, que formam a sigla ESG, é um dos maiores entraves aos planos de abertura de capital da companhia. Além disso, o valor de mercado da marca caiu para um intervalo entre 65 bilhões e 85 bilhões de reais.

Essa linha de acontecimentos só deixa mais claro que o que acontece na internet impacta diretamente o que acontece no mundo real. Tanto marcas quanto criadores de conteúdo devem tomar cuidado com o que compartilham para não influenciar atitudes prejudiciais. Em pleno 2022 é um absurdo ainda termos empresas que pensam apenas no lucro, sem levar em conta os impactos ambientais e os danos causados aos clientes, mas a única forma de repudiar empresas com esse pensamento é parando de comprar delas. De nada adianta cobrarmos medidas se nós continuamos financiando esse tipo de empresas.

Maria Gabriela Tosin é graduada em Relações Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e especialista em Mídias Digitais pela Universidade Positivo e Mestranda em Administração na PUC-PR. É criadora do blog pippoca.com, atua como pesquisadora, é autônoma e colaboradora em diversos blogs.