Escolha seu candidato. E perca.
É um acontecimento sem muito charme, mas a eleição para presidente da Câmara dos Deputados, a ser disputada hoje, é bem importante: define a linha de sucessão presidencial (o vencedor fica logo abaixo do vice Michel Temer), dispõe de verbas abundantíssimas, não precisa mostrar serviço à população, tem poder para ajudar ou atrapalhar (em muito) o Governo Federal, define quem recebe mais ou menos mordomias. Um sonho de consumo, enfim. E, nessa disputa de ampla repercussão, os partidos capricharam: entre Eduardo Cunha, do PMDB, e Arlindo Chinaglia, do PT, é difícil escolher qual é o candidato menos ruim.
Nenhum dos dois apresentou qualquer ideia para modernizar o Legislativo, torná-lo mais eficiente, reduzir as despesas. Só se falou em ampliar as vantagens oferecidas ao nobres deputados. Há a disposição até de construir um novo edifício, para que as Excelências tenham mais conforto em sua árdua labuta. O custo da obra é estimado em R$ 400 milhões. Se houver aditivos, virão depois.
Quem são os candidatos? Arlindo Chinaglia, do PT paulista, já foi presidente da Câmara, e poucos se lembram de algo que tenha feito. O Governo promete cargos para dar-lhe votos. Eduardo Cunha, do PMDB fluminense, iniciou a carreira no Governo Collor e não saiu mais de perto do poder. O repórter Jorge Moreno, de O Globo, afável e de fácil relacionamento, costuma designá-lo pelo apelido de “Coisa Ruim”. Moreno não costuma ter inimigos, mas costuma ter razão.
Cunha é favorito, Chinaglia pode ganhar. O caro leitor certamente vai perder.
Rodeando os fatos
Eduardo Cunha promete “aprofundar as relações com outros Parlamentos”. Em bom português, vai promover mais viagens ao Exterior, com boas diárias.
Fora do páreo
Júlio Delgado, do PSB mineiro, é também candidato ao cargo. Não tem chances. E, cumprindo tabela, há ainda Chico Alencar, do PSOL fluminense.
Incansável descansador
O senador Aécio Neves, do PSDB mineiro, prometeu “oposição incansável” ao Governo Federal. Além de incansável, invisível: Aécio não apareceu no Senado nem para discutir o Petrolão. Diz sua assessoria que ele tirou a semana para descansar.
É verdade: tirou a semana para descansar. Só que não foi só essa.
Lá e cá, como funciona
Don Thompson, diretor-geral da McDonald’s, enfrentou dois anos de pequena queda no consumo. Foi demitido. E, assim que sua demissão foi anunciada, as ações do McDonald’s subiram 3%. Graça Foster, presidente da Petrobras, assumiu em 2012. Só nos últimos quatro meses a empresa perdeu R$ 200 bilhões em valor de mercado. Graça Foster continua no cargo. A Moody’s, multinacional de avaliação de riscos, rebaixou as notas da Petrobras (que terá mais dificuldades e custos para captar recursos). O problema é que afastar Graça Foster pode transferir o problema para Dilma, em cujo mandato, a dívida da Petrobras subiu 157%.
A diferença é que no McDonald’s o diretor-geral não é amigo de autoridades.
Coisa estranha
O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região abriu licitação para serviços de segurança. Ganhou uma empresa do Ceará, a Servis – que, entre outras coisas, tem certidão de débito positiva do Ministério do Trabalho, e é acusada de não cumprir obrigações trabalhistas. A documentação em poder desta coluna é forte.
Apelido ruim
Com relação a nota publicada nesta coluna em 17 de janeiro, a Suvinil, marca de tintas imobiliárias da multinacional BASF, “entende como inoportuna a associação de sua marca a questões políticas” – no caso, o apelido Prefeito Suvinil, atribuído ao paulistano Fernando Haddad pela quantidade de tinta utilizada na pintura de faixas em sua gestão. “A Suvinil apoia projetos de melhoria de mobilidade e revitalização das cidades. Em São Paulo, a marca já contribuiu com diversas ações de revitalização e valorização do município, por meio do projeto SCAM (Suvinil Cor, Arquitetura & Memória), que realizou intervenções em diversos patrimônios históricos nacionais, como o Pátio do Colégio, a Igreja N.S. Achiropita, o Masp e os Arcos do Jânio, entre outros”. Quem assina é Antônio Carlos Lacerda, vice-presidente de Tintas da BASF para a América do Sul.
A BASF tem toda a razão. Empresa de tecnologia reconhecida, é injusto associá-la ao prefeito e às tintas que ele usa em São Paulo – originalmente vermelhas e que logo mudam de cor e ficam alaranjadas.
Mas o apelido pegou faz tempo – tanto que, para celebrar a obra do prefeito, existe no Facebook a página Haddad-Suvinil, https://www.facebook.com/pages/Haddad-Suvinil/335728809946794
O espocar da pipoca
Crise? Que crise? Alguém falou em crise? Pois, se crise houvera, não há mais: a presidente da República sancionou lei criando o Dia Nacional do Milho, a se comemorado anualmente, no dia 24 de maio, em todo o território nacional.
Até recentemente, a data de 24 de Maio (que virou até nome de rua) era lembrada pela Batalha de Tuiuti, vencida pelo Brasil, a maior da guerra do Paraguai. Na Europa, marcou o início da Guerra dos Cem Anos.
Os tempos mudam, né?