Edward Bernays, a manipulação das massas e a manufatura de costumes...

Com venda de produtos de forma enviesada, Bernays mudou hábitos sociais sem que a sociedade se desse conta da manipulação… escreve Paula Schmitt (Poder 360).

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COMENTÁRIO

Edward Bernays é considerado um dos “pais” das Relações Públicas. Austríaco, viveu e trabalhou nos Estados Unidos, mas nenhuma menção a ele deixa de lembrar seu parentesco com Sigmund Freud – para o bem e para o mal. Muito mais para mal do que bem, como se pode constatar na matéria clipada.

Atuando em grandes campanhas publicitárias (uma atividade inteiramente relacionada a conglomerados de Propaganda – advertising -, seja a serviço de governos ou de empresas), de fato, sua expertise em fenômenos de multidão (assim era descrita a “massa”) pode ser lida como o mal.

No entanto, em defesa das Relações Públicas raiz, devo lembrar a outra “paternidade” à área atribuída: Ivy Lee, norteamericano que inventou a atividade de divulgação (publicity) na imprensa – exercida por ex-jornalistas, como ele proprio, que abandonou a Redação para se tornar PR, – no interesse de empresas-clientes.

Idealmente, a atividade legitima-se na esfera empresarial, mas o pesquisador Marcelo Ficher, cofundador e diretor executivo deste O.C.I., traz, em sua dissertação de mestrado (defendida na Faculdade de Educação da UFF), uma outra origem – muito menos citada, mesmo na academia – que é a imprensa sindical.

Tanto num caso como no outro, estamos lidando com o universo dos jornalistas – em desvio de função, bem entendido – seja defendendo, sempre perante a opinião pública, pontos-de-vista de sua clientela, sejam patrões ou empregados. E entram aí a arte, a astúcia e a competência para persuadir, por via da informação.

David K. Berlo ensinou que a Comunicação tem quatro funções: educar, informar, persuadir e divertir. Se o publicitário persuade o público para a escovação diária dos dentes, por exemplo, educa. E isto é bom. Já, se o jornalista informa de maneira enviesada, pode persuadir, manipulando. E isto é mal.

No Brasil, a Comunicação Social com habilitações (Jornalismo, Rádialismo, Propaganda, Relações Públicas) chegou ao meio acadêmico em 1967 e, desde então, nunca se conseguiu desvincular a jabuticaba assessoria “de imprensa” da figura do jornalista – justamente porque sempre um insider -, mesmo com os muitos esforços empreendidos por entidades de classe (ABRP, Sistema Conferp-Conrerp, Abracom) no sentido contrário, intencionando reconhecer tal atividade como característica de profissionais relações-públicas. Roberto Mestieri conta essa história em documentário de 2014, “1 jornalista 10 errepês 100 anos…“, apoiado pelo O.C.I.

Por último, cumpre-me o dever de salientar – lembrando o nosso grande mestre Roberto Porto Simões em seu último livro “Informação, inteligência e utopia: contribuições a uma teoria de Relações Públicas”, – que o idealismo presente na formação em RP tem lugar no mundo e na vida de tantos jovens que escolhem esta graduação e de tantos estudiosos que se dedicam à pesquisa e à pós-graduação – nosso caso, aqui no O.C.I. – no campo.

“Toda profissão tem um propósito moral. A Medicina tem a Saúde. O Direito tem a Justiça. Relações Públicas têm a Harmonia – a harmonia social”. Seib e Fitzpatrick, Public Relations Ethics – 1995. In SIMÕES, Roberto Porto. Informação, inteligência e utopia: contribuições à teoria de relações públicas (2006).

No meu particular caso que, entre 2010 e 2012, à frente de um grupo de colegas errepês-conselheiros no Conrerp1, coordenei um debate que culminou em proposta ao MEC constando de 24 técnicas atribuíveis a RP, o abandono de “assessoria de imprensa” e “gestão de crises de imagem pública” constituiu-se em dado de saída, reconhecendo a prática torta de um mercado em que “todo gestor quer um jornalista para chamar de seu”… para fazer duas coisas, apenas: “emplacar” matérias e fazer “a contenção” das crises. Ficamos com as demais 22, fora do ambiente apodrecido das media relations – hoje entregue a “tubarões” tão ou mais carniceiros que os próprios bichos.

Fonte: 4 Rs das Relações Públicas Plenas. Manoel Marcondes Machado Neto. Editora Ciência Moderna. 2016. (www.RRPP.com.br).