As relações públicas e os crimes de imagem: qual o nosso papel, afinal? Por Nayara Brito.

Te pergunto porque talvez eu não tenha a resposta… mas, como sempre, vale a reflexão sobre esse assunto.

Não é novidade: todos os dias, meses e anos, temos casos e mais casos de crises envolvendo organizações e pessoas públicas. Há um tempo, tenho visto um posicionamento nas redes sociais em relação às crises de imagem e reputação desencadeadas por um crime cometido, principalmente, por parte de uma personalidade pública, seja ela artista, esportista ou influenciadora, o qual exclui e até mesmo proíbe o profissional de relações-públicas de conduzir episódios desse teor.

O que me chamou a atenção é a tratativa do relações-públicas não ser o profissional para gerir tal tipo de “crime de imagem” – se assim podemos dizer – esse não é o mesmo posicionamento em relação às organizações. A impressão que se tem é de que somente as empresas e as marcas possuem a “licença poética” para gerir reputação frente a crimes ambientais, trabalhistas, fiscais e tantos outros, contando imprescindivelmente com a especialidade de um relações-públicas para tal fim. Afinal, somos os profissionais mais indicados e preparados para este tipo de trabalho e cliente, certo?

Errado.

É errado pensarmos que crises são totalmente geridas por profissionais de comunicação. Mesmo para a gestão da imagem e reputação através da comunicação, há toda uma equipe de especialistas que cuidam de cada parte – jurídica, técnica e burocrática – que um caso de crise em questão requere. O trabalho é feito em conjunto e, para que haja coerência na ponta para a comunicação efetiva com os públicos (nosso papel), todo o processo, envolvendo todas as partes, deve ser coeso e transparente. Por isso, não devemos nos posicionar como “advogados de crimes de imagem”, porque, de fato, não o somos. Mas, entender o que é nosso papel dentro de um processo como este, por exemplo, se faz fundamental.

Nós jamais vamos esquecer as crises de nossos tempos e de todos os outros, porque elas são um marco na jornada de qualquer empresa, marca ou personalidade que as sofra. No entanto, isso não as impossibilita de tentar recuperar ou retratar sua reputação que, ao final de todas as prestações de contas – e cumprimentos de lei -, são legitimadas por seus públicos e por toda a sociedade, o que dá a sentença final sobre tais situações, perdoando ou não os erros cometidos.

Não há como sair ileso de uma crise, mas mesmo como não advogados de crimes de imagem, somos profissionais de comunicação e podemos, sim, gerir estrategicamente casos caóticos e catastróficos sem ferir nossa ética e moral. Nosso trabalho sempre deverá ser pautado na verdade, na justiça e na transparência, princípios éticos do juramento de nossa formação. O que vem depois são desafios a serem superados, e cabe a cada profissional escolher os seus.

Nayara Brito é relações-públicas e dedica suas escritas a temas que geralmente causam inquietações e questionamentos em sua mente. Sempre pautada em assuntos que se originam da comunicação como um todo, procura transmitir um pouco de suas reflexões, experiências e estudos por meio de seus conteúdos. Acompanhe seu trabalho também em https://www.linkedin.com/in/nayarabrito/.