Posturas éticas agregam valor nas relações de trabalho. Por Sidinéia Gomes Freitas.

SGF

O título deste artigo pode parecer óbvio, mas o que interessa é dar-lhe concretude em razão de relações de trabalho nem sempre perceptíveis em uma análise superficial.

A concretude em questão baseia-se na vivência que tive com duas empresas de assessoria com as quais convivi nos últimos três anos. Refiro-me a uma assessoria de imprensa, a ‘Voice’; e à assessoria jurídica ‘Degrau’.

Com a Voice, uma assessoria de imprensa reconhecida em seu campo de atuação, as relações de trabalho surgiram de forma espontânea, devido a um evento de caráter institucional que foi planejado e executado em razão dos cem anos da atividade de relações públicas no Brasil, evento este promovido pelo Conselho Regional dos Profissionais de Relações Públicas que abrange os estados de São Paulo e Paraná, o chamado Conrerp2.

O evento de abertura contou com a dedicação máxima da Voice. Mesmo sem qualquer forma de remuneração, sugeriu pautas, preparou entrevistas, fez a divulgação do projeto em diversas mídias, enfim, as jornalistas da Voice trabalharam com entusiasmo e alegria e, tanto quanto eu, devem ter-se decepcionado na fase inicial do projeto, que  contou – na sua abertura – com um evento patrocinado, em grande parte, pela General Motors, e teve lugar na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

A mesa que compôs os trabalhos daquela noite foi, sem sombra de dúvidas, de primeira qualidade, e contou com renomados jornalistas e profissionais de Relações Públicas. Teve música porque a camerata da Polícia Militar do Estado de São Paulo apresentou-se, e o evento terminou com um coquetel oferecido aos presentes. Por tratar-se de um evento de Relações Públicas, o Presidente da ALARP (Associação Latino-Americana de Relações Públicas), Marcello Chamusca , discorreu acerca das Relações Públicas no continente e, em especial, no Brasil.

Um fato chamou a atenção. Apesar do tal ‘e-mail marketing’ emitido pelo Conrerp2 a todos os seus registrados, além do entusiasmado trabalho da Voice em entrevistas, elaboração de textos e divulgação, a plateia esperada… sumiu. Ou melhor, nem apareceu. Os relações-públicas aos quais se destinou o evento de abertura, não se mostraram nem um pouco interessados. A visão política da atividade esvaiu-se  em um evento de caráter claramente… político acerca da atividade no Brasil.

Durante o evento, o qual contou com palestras significativas e dirigidas aos relações-públicas, uma homenagem se destacou. O atual Prefeito de Sorocaba declarou que estava bastante satisfeito com os profissionais que havia contratado. Homenageou o Conselho da Classe com uma placa que hoje está pendurada na parede da sede do Conselho.

A decepção minha, dos funcionários, dos Conselheiros, e da Voice, foi marcante. Não passava de uma dúzia o número dos que compareceram perante um Conselho que contava com cerca de 670 profissionais registrados adimplentes.

A Voice, no meu caso, vai deixar saudades porque ética não faltou para as suas meninas. Permitam-me, meninas, assim chamá-las. Claro que não foram mais fazer cobertura alguma das demais festividades. Eu também não iria, se tivesse poder de decisão como integrante do quadro funcional da Voice.

Ética, a Voice demonstrou e muito. Como é bom avaliar hoje e escrever acerca do que vivenciei! Alegria, envolvimento, entusiasmo, desprendimento e… ética.

Outros eventos do projeto tiveram sucesso. O Dia do Estudante e o Prêmio Nacional de Relações Públicas, o tradicional POP. Ambos exigiram muito trabalho de nossa equipe.

A própria Voice concorreu a uma das categorias de premiação no POP, e perdeu. Perdeu – por um décimo – com um projeto que desenvolveram. Entristeci-me e propus uma menção honrosa. Afinal são colegas do campo da Comunicação que auxiliaram de forma gratuita, divulgaram e divulgam o Conselho de Classe. Mereciam, em minha opinião. Mas não foi aceita a minha indicação para a menção honrosa. Se eu já as admirava, agora uso a palavra escrita para render minhas homenagens a todos os que integram uma assessoria que, antes de mais nada, preserva uma conduta ética, ausente em tantos espaços profissionais .É de perfis como os das ‘meninas da Voice’ que a sociedade precisa.

Vou agora registrar as relações pautadas pela ética que tive com a Degrau Assessoria Jurídica.

Durante o tempo considerável que já dediquei ao Sistema Conferp, constituído pelos Conselhos Regionais de vários estados do pais, constatei, em inúmeras oportunidades, uma certa ‘dominação’ de advogados na gestão de Presidentes de Conselhos de Classe.

Na gestão de um Conselho de Classe dependemos muito de advogados porque gerenciar uma autarquia federal tem riscos de ordem legal. Como se não bastasse o risco, o trabalho de Presidentes sempre foi gratuito. E o de advogados, não.

Independente de valores monetários há que se ter cautela no trato, não permitir a tal ‘dominação’, e estabelecer o devido respeito entre as partes. Discutir decisões, prever riscos e participar de inúmeras e, muitas vezes, longas reuniões – porque se dependemos de advogados, eles também dependem das informações que seus clientes lhes repassam. Temos que explicar tudo e municiá-los de informações nem sempre constantes dos autos. Análise de cenários também é fundamental.

Alguns pré-requisitos são fundamentais nas relações de trabalho, tais como respeito mútuo, competência para ouvir o outro (premissa para o diálogo), confiança, transparência e ética. Caráter, moral e livre arbítrio se colocaram na relação com a Degrau. Foi assim em todos os momentos e reuniões das quais participei.

A Degrau Assessoria Jurídica não depende de clientes como um Conselho de Classe como o nosso, mas, diga-se de passagem, em momento algum eu me senti preterida. E, muito menos, dominada por ela.

Trata-se de uma assessoria jurídica na qual seu titular, o Dr. Aparecido Santos, moldou, com sabedoria, o trabalho de seus descendentes e, principalmente, atribuiu o trabalho de acordo com as habilidades daqueles que comanda – requisito básico para a liderança.

Hoje, a Degrau Assessoria Jurídica está apta a discutir todo o cenário das Relações Públicas no contexto da Comunicação no Brasil e do próprio Sistema Conferp. Soube respeitar e não emitir julgamento de valor acerca de qualquer pessoa envolvida nas contendas que surgiram. Observei e testei a ética desses profissionais que assessoraram o Conselho.

Em todas as oportunidades houve respeito às decisões do cliente e nunca se pautaram por discussões acerca das “firulas jurídicas” que muito atrapalham o andamento do trabalho das partes envolvidas.

Souberam indicar caminhos, acatar decisões e prevenir riscos, nunca invertendo papéis, como já constatei em tantas oportunidades, noutros lugares.

Finalizo deixando ratificado meu agradecimento a essas duas assessorias, e desejando-lhes mais e bons clientes, porque crescimento nos negócios é o que ambas fizeram, e fazem, por merecer.