Toca o barco! Por Carla Brandão.

Quantas pessoas você conhece que não falam só o que pensam, mas o que milhões de pessoas em um país pensam? Dessas, quantas delas são respeitadas por se expor, sem medo, em prol de uma legião de pessoas injustiçadas, condenadas à pobreza, entristecidas pelos desmandos políticos e vitimadas pelas catástrofes anunciadas?

Ser jornalista é, antes de tudo, ser isento, não ter partido político, não ter time de futebol e não analisar os fatos de forma parcial. Em tese, o profissional dessa área, observa e contextualiza o que está acontecendo. Quanto mais veemente e real é o discurso dessa pessoa, mais ela representa, mais ela amplifica, mais ela vira exemplo.

Eu conheci Paulo Francis e, agora, Ricardo Boechat. Lembro que pedi ao amigo Arthur Covre, que trabalhou por um período na rádio BandNews com o Boechat, para ir assistir ao programa de algum cantinho do estúdio. A vida corrida não permitiu essa tietagem, mas o destino me presenteou com a possibilidade de ser colega de redação dele.

Por quase três anos, fui a subchefe de pauta do Jornal da Band e, confesso, aprendi  como se faz jornalismo de uma forma admirável, com paixão, com apuração, com sangue nas veias e muito esforço para alcançar a notícia com menos estrutura que a maior concorrente. A notícia sempre foi a estrela do jornal.

Cada vez que eu via o Ricardo Boechat no telefone apurando, na bancada impondo ritmo e credibilidade, na área externa da emissora relaxando antes de entrar no ar, trazendo as filhas para vê-lo trabalhando, às vezes até de chinelos, me encantava.

E, foi com essa verdade e humanidade que esse jornalista de raiz conquistou tantos admiradores, ajudou tanta gente, deu voz a muitos brasileiros e, por isso, provocou lágrimas ao lermos, ouvirmos, vermos o que provocou a sua saída de cena. Aquela queda derrubou a esperança de muita gente, calou a voz corajosa de um homem singular.

Boechat era ateu, mas foi capaz de se colocar no lugar de mais gente que muitos religiosos que conheço. Ele era argentino, mas era mais brasileiro do que muitos representantes da nação. Esse homem conseguiu tirar uma emissora de rádio do ar, por falta de fôlego dos colegas de trabalho, que sempre viram nele uma inspiração para irem adiante, fazendo a diferença. Ficamos todos sem ar no dia em que aquele helicóptero caiu e levou para o chão a força comunicativa que só Ricardo Eugênio Boechat colocava no ar.

Eu só tenho a agradecer e se fica um legado, ele se chama:

– Toca o barco!