OCI no 3o. Forum Abracom: o primeiro evento a gente nunca esquece!

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Na tarde de ontem, 9 de abril, o Observatório da Comunicação Institucional – OCI – depois de seu lançamento na Semana de Comunicação (CEP – Forte do Leme), havida em 26/09/2013 – inaugurou a sua participação em eventos técnicos especializados; no caso, o 3o. Forum Abracom de Gestão da Comunicação Corporativa.

Manoel Marcondes Neto, diretor-presidente do OCI, participou do painel de encerramento do Forum sobre o tema “Dilemas Éticos da Comunicação”, ao lado do jornalista Eugênio Bucci e da filósofa Terezinha Rios – mentora do pioneiro Código de Ética da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação. O evento ocupou o auditório do Centro Britânico Brasileiro, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, e contou com a presença dos associados da Abracom; executivos e dirigentes de agências de comunicação de todo o país.

Fala inicial no Painel “Os dilemas éticos da comunicação”, 3o. Fórum Abracom de Gestão da Comunicação Corporativa, São Paulo, 09/04/2014. Por Manoel Marcondes Neto, do Observatório da Comunicação Institucional, doutor pela ECA/USP:

“A outra face da medalha da Ética é a Transparência”.

Agradeço muitíssimo a Abracom, sua diretoria e membros associados, a gentileza de abrir esta oportunidade ao OCI, uma entidade sem fins econômicos ainda bebê, criada há um ano e dois meses apenas.

Falar após uma filósofa como Terezinha Rios não é fácil… Preparei um texto, mas devido ao horário e às indagações colocadas por Eugênio Bucci, reformulei e adaptei também à luz do que pude ouvir no momento anterior deste Fórum…

Tratando de dilemas contemporâneos que afetam diretamente a nossa área de comunicação, listei cinco situações, questões, ou instâncias às quais o Brasil pede leitura e respostas:

1. Instituições fortes ou não?
2. Planejamento ou cultura do improviso?
3. Poder econômico ou poder político?
4. Estado mínimo ou Estado indutor?
5. Jornalismo forte ou “jornalismo de assessoria”?

Antes, porém, é preciso fazer cinco anotações que julgo necessárias sobre o Painel que nos antecedeu.

1 – É, no mínimo, curioso que neste Fórum, numa mesma frase, tenhamos ouvido um clamor por “instituições fortes” seguido de uma “prece” por “explosão” do Sistema Conferp-Conrerp.

2 – E que se relate, para pasmo, que “sendo procurada a direção da ECA/USP para arguição sobre a legalidade de seu concurso por duas pessoas do Conselho, as mesmas foram enxotadas do gabinete”.

3 – Também é paradoxal, incoerente, e intrigante, que quem tenha participado da comissão de especialistas do Ministério da Educação que “enterrou” a ideia de polivalência da Comunicação “Social”, compartimentando – por decreto – Jornalismo, Relações Públicas, e possivelmente as demais (antigas) habilitações da área de saber, pregue uma ideia – indutiva, propagandística, impositiva – de… “mestiçagem”.

4 – E na sequência, ainda, que, falaciosamente, se lembre do “tempo da ditadura” para referir-se aos relações-públicas, quando as ocupações formais de publicitário e jornalista (com seus DRTs e MTbs) também foram estabelecidas por leis nos mesmos anos de chumbo.

5 – Por último, a crítica completamente descontextualizada ao que disse Paul Holmes na – ótima – entrevista “capturada” por Ariane Sefrin Feijó no World Communications Forum de Davos, este ano (assista entrevista). Chamando Paul Holmes de “fazedor de frases de efeito”, o “narrador da mestiçagem”, fazedor de frases de efeito – e eterno presidente da sempre mutante em nomenclatura ABERJE (Associação Brasileira de Editores de Revistas e Jornais de Empresa) – criticou as seguintes novas (“verdades factuais” como Mino Carta ressalta o que deveria ser notícia, na imprensa): 

– Relações Públicas deveriam ser ensinadas não apenas em cursos de Jornalismo e Comunicação, mas também e, principalmente, em cursos de Administração.

– Eu nunca ouvi um CEO dizer: ‘meu pessoal de RP não entende de mídia’, mas já ouvi muito CEOs dizerem: ‘meu pessoal não entende de negócios’.

Agora, prosseguindo a minha fala original: o que, afinal, queremos?

Somos ruins de planejamento, no Brasil, porque somos excelentes na improvisação? Ou improvisamos porque não sabemos planejar – e cumprir planos? Sabemos que a Copa do Mundo aconteceria no país desde 2007 e, hoje, metade dos 12 aeroportos das cidades-sede tem as suas reformas inacabadas até depois do torneio mundial, assumidamente. Vendemos ao mundo imagens desenhadas, ilustradas, edulcoradas… mas a realidade nos revela um rascunho bem menos “artístico”. Em 2011 aprovamos em Brasília uma lei que permite a governadores e prefeitos decretar “feriados” nos dias de jogos. Para que, então, as obras “especiais” de mobilidade urbana (superfaturadas por “urgentes”), se não haverá trabalho e aulas naquelas datas?

Queremos uma democracia, mas nos rendemos ao diuturno noticiário em que o poder econômico avassala as relações políticas. E uma lei que limita a presença ilimitada de empresas no financiamento de campanhas eleitorais foi alvo de providencial “pedido de vista” no STF para que isto “não atrapalhe” o pleito de outubro próximo…

Queremos um Estado “presente”! Votamos nesta ideia para o poder central já por três vezes seguidas, em oposição à ideologia anterior de “Estado mínimo”. Mas o que tem sido “entregue” a nós? Num e noutro “regimes”, o uso do Estado por uma casta de políticos “profissionais” sempre de costas para o povo. Recentemente houve o estabelecimento de parceria entre a Rede Globo e a “tele” Oi. Ou seja, os medos da mídia eletrônica em termos da concorrência “desleal” das teles simplesmente desapareceram. E o mercado publicitário concentrou-se ainda mais – em situação de genuíno monopólio. E o que faz o Ministério das Comunicações? E o CADE? O mais eloquente dos silêncios.

Em São Paulo, ainda vive-se sob duas grandes “casas jornalísticas tradicionais”. Lê-se a “Folha” ou o “Estado”. Claro está que isto é só uma redução “didática”, ainda mais em tempos de internet. Mas o que dizer do Rio de Janeiro, segundo centro econômico, político e cultural do país? Tem-se só “O Globo” por lá, após a melancólica saída de cena do contraponto oferecido pelo Jornal do Brasil. Como esta plateia reagiria se amanhã de manhã só houvesse uma das duas tradicionais opções dependurada nas bancas?

Assessoria de comunicação forte combina melhor com a ideia de jornalismo forte, diverso. Se a assessoria de comunicação é forte, mas o jornalismo fraco, o que advém? Um “jornalismo de assessoria”, imposto, como hoje, por cerca de 25 empresas fortíssimas no segmento, as quais, se um lockout promovessem, não teríamos jornais para ler ou telejornais para assistir no day after. Sobraria, talvez, algum rádio… e a internet.

Essas questões inquietam o setor. E devem ser – para usar um termo da moda – “endereçadas” aos verdadeiros centros pensantes da nação. Este Fórum da Abracom é um deles.

Ao debate, pois.