Levando gato por 'cat'...

No quesito “reconhecimento”, marcas empresariais ou de produtos e serviços partem de algo que vem antes – o nome dado à própria empresa, ao produto, ao serviço. Uma questão de identidade. Única, distinta. Algo fundamental num negócio.

No jornal O Globo de hoje, 30/04, à página 22, matéria singelamente assinalada “Xangai” (deve ter sido preparada por algum drone, à moda do Yahoo News), dá conta de um “Peninsula Hotel” que NÃO faz parte do grupo Peninsula Hotels, de um “Marvelot Hotel” que não é, obviamente, da rede Marriott, e, finamente, de um “Haiyatt Suzhou” que disputa a preferência de incautos que, certamente, estariam à procura do Hyatt Regency Suzhou…

Singelo, também, Kunal Sinha, diretor de conhecimento da Ogilvy China, “explicando” o fenômeno: – as marcas ocidentais são vistas como sinônimo de qualidade na China. Por isso, dar um nome semelhante ao de uma marca ocidental a um produto é tão importante.

Prossegue a matéria:

Nomes que soam ou são similares aos de marcas de sucesso são vistos positivamente no país.

– Na história chinesa, a reprodução é altamente reconhecida. A ênfase na originalidade é um ideal ocidental. Mas isso é um esquema para fazer dinheiro e pessoas inescrupulosas o fazem sabendo que é errado. Uma das razões é saber que terão sucesso à ambivalência cultural – explica o professor William Alford, de Harvard, acrescentando que tem crescido a pressão pelo fim dessa prática. (Do New York Times).

COMENTÁRIO

Bem, pelo menos descobrimos o “fabricante” da matéria-drone  – um tal de Do New York Times; talvez cópia chinesa do verdadeiro The New York Times.

O colega de Harvard explicou “o fenômeno” mas não convenceu. Marcas registradas, patentes, royalties e que tais, são a base da indústria e do comércio internacional. O resto é, sim, “pilatalia”. Prefiro a “sincelidade” do diretor de conhecimento da Ogilvy China, o qual admitiu que copiar, na China, é bom, e eles gostam.

Este fato me faz lembrar idos da década de 70 do século XX, na indústria farmacêutica, aqui no Brasil, quando pequenos laboratórios de fundo de quintal (às vezes um quintal bem grande, como o de um Labogen) “armavam” esse tipo de cilada para os consumidores. Ainda não existia o conceito de medicamento genérico, ou similar. E para empurrar um produto no lugar da Novalgina, um esperto fabricava a Nevralgina. E dava comissão (4 pelo preço de 3) ao balconista da drogaria, que os consumidores insistiam em chamar (muitos ainda o fazem, hoje) de “farmacêutico” (talvez por causa do jaleco branco). Outro: no lugar de Carnabol, empurrava-se o Lanabol. E assim por diante… Não é de se estranhar que a praxis ganhou um apelido bem heterodoxo entre nós: “empurroterapia”.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).