As matérias nos telejornais da noite de ontem listavam 24 partidos na lista da Odebrecht(*). Uma verdadeira ‘sopa de letras’. Até as eleições de 2014 havia, entre os 32 partidos políticos brasileiros registrados no TSE até então (hoje são 35 legendas), 24 partidos. Depois das eleições, este número subiu para 28.
Ora, a pesquisa sobre o discurso institucional dos partidos políticos brasileiros partidos realizada em 2014 pelo O.C.I. – e divulgada a duas semanas das eleições – demonstrou duas verdades muito inconvenientes: (1) todas as legendas se comunicam muito mal com a sociedade; e (2) as legendas – todas – não se indistinguem umas das outras perante o eleitor, a cidadania.
O trabalho consumiu 11 meses da equipe do O.C.I. (Observatório da Comunicação Institucional – uma ONG fundada em 2013, com sede no Rio de Janeiro) e teve seus achados comentados por dois professores-doutores independentes – externos ao O.C.I. – Profa. Dra. Carolina Terra (USP) e Prof. Dr. Cristiano Henriques (UFRJ).
As conclusões: (1) O fato – da incomunicabilidade é muito grave, pois política se faz com verbo… e se a comunicação vai mal… talvez por isso prevaleça outra coisa: a verba. (2) A indistinção entre as legendas é mais grave ainda. Se na ‘ponta’ visível (que é a comunicação dos partidos) há este tipo de problema de identidade, pode-se concluir que o corpo todo do ‘iceberg’ partidário é igualmente amorfo.
O trabalho ganhou repercussão. O ‘furo’ de reportagem foi da Rádio Gaúcha. À matéria inicial seguiram-se matérias no portal G1, na Globo News, no jornal O Dia e no Estado de Minas, entre muitos outros veículos digitais.
Mas faltou o ‘crème de la crème’ que seria a publicação – em papel (uma folha de jornal) do infográfico (quer que eu desenhe?) que refletiu, a partir do software “wordle”, de nuvens de palavras, num só lugar, o discurso das 32 legendas brasileiras – coisa que nem o TSE faz.
Curiosidades: como a análise – da comunicação das legendas – baseia-se nas palavras mais presentes nos discursos de cada uma, vale ressaltar o ‘non sense’ com que somos presenteados pelas siglas: o nome mais citado – na massa de dados, em toda a pesquisa – é: Jesus Cristo. O segundo, Getúlio Vargas.
(*) A lista refere-se a contribuições do conglomerado empresarial a políticos específicos ou legendas nos pleitos de 2010, 2012 e 2014. Há recursos repassados legalmente – o que leva à necessidade do cruzamento de dados da lista com os registros de TREs e TSE para averiguação. Listas do tipo, manuscritas (de antes da era computacional), datadas de 1988 também foram encontradas no âmbito da 26a. fase da Operação Java Jato – que investiga a corrupção que une negócios às eleições. O fato de que TODAS as siglas constam da lista – naquele dado momento – é exemplar de um republicanismo às avessas.