VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL - Produtividade em tempos de Covid-19.

Pensa num cenário: janeiro de 2020, ano começando com tudo, Olimpíadas vem aí, Expo 2020 Dubai, feiras, congressos e tantos outros eventos mundiais importantes. Certo dia ouvimos no jornal notícias sobre um suposto vírus que está infectando milhares na China, e não entendemos muito bem o impacto que ele poderia causar em TODO o planeta.

Por aqui ainda tudo certo, fevereiro, caminhamos normalmente nas ruas, dia-a-dia intenso num Brasil que está engatando a primeira marcha para começar o ano com tudo pós-Carnaval. Trabalho, correria, trânsito, agitação, stress. Mais notícias na TV, mas ainda sobre uma crise que parece muito distante.

Corta para hoje, março-quase-abril; quarentena. Pessoas isoladas em suas casas, muitas morrendo e o Brasil assistindo Itália, Estados Unidos, França, Espanha, e tantos outros países confirmando as estatísticas. Sim, tememos que o pior possa acontecer aqui e, sabiamente, lançamos mão do movimento #ficaemcasa.

É aí que tudo começa e um novo capítulo se abre: – Prazer, Home Office!

– Mas o que é isso? O Brasil não pode parar!

Mas parou. E é melhor que pare mesmo, apenas por um tempo. Mas será um tempo bastante desafiador para cada um de nós.

Tenho falado com diversos executivos de multinacionais e setores importantes do mercado brasileiro e o comentário é um só: ‘não imaginávamos que pudéssemos produzir tanto de casa’.

Claro que o comércio, serviços e os trabalhadores autônomos serão os mais afetados e não podemos nos esquecer disso. Mas trato de atividades administrativas.

Alguns empresários estão percebendo que podemos extrair coisas boas dessa crise. Sim, as adversidades podem nos mostrar possibilidades que não havíamos pensado antes. Em momentos de crise, sermos criativos e flexíveis é fundamental e isso vale para a as grandes empresas também.

A decisão responsável (questionada por muitos) de mandar seus funcionários trabalhar de casa despertou novas habilidades até mesmo nas empresas mais maduras e tradicionais. Muita gente está surpresa do quanto ficar em casa alguns dias pode ajudar na sua produtividade.

Não precisamos ficar presos no trânsito, abarrotados no transporte público. Almoçamos muito mais tranquilos. Temos tempo para descansar, ler, estudar. Não temos que nos deslocar distâncias absurdas para reuniões breves.

Esta semana mesmo tive uma call com 11 pessoas, simultaneamente, sobre um projeto muito importante. Nunca havia conseguido juntar todos os Diretores dessa empresa numa mesma reunião, por conta da inconsistência de agendas. Normalmente, tinha que me deslocar da Avenida Paulista para Alphaville, enfrentar 45 minutos de trânsito no auge do rush para resolver as mesmas questões que tratamos em uma hora numa reunião muito leve, dinâmica, focada, com cada um na sua casa. Assim que desliguei, fiz um café e fiquei pensando: por que não fizemos isso antes?

Não estou dizendo que é simples. Trabalhar de casa também tem suas agruras e pode ser bastante desafiador, principalmente para quem mora com muita gente ou tem filhos. São questões que precisam ser trabalhadas. Além da parte psicológica, da falta de contato humano, que pode causar sintomas de ansiedade e depressão em quem não está acostumado a estar sozinho.

Nada é perfeito e esse período nos fará entender as simples coisas da vida. Já estive em ligações em que ouvi choro de criança. Sim, faz parte. Vai acontecer. Somos humanos, temos famílias, filhos, cachorros, papagaios. Isso não dá vergonha nem é um demérito, apenas a confirmação de que somos de carne e osso e não apenas máquinas de produção em série.

Podemos tirar lições dessa crise e usar esse momento para redefinirmos as relações de trabalho. Quando esse período passar, por que não permitir que seu funcionário trabalhe de casa alguns dias da semana? Isso fará com que ele tenha mais qualidade de vida, o meio-ambiente agradecerá por menos poluição, o trânsito terá menos carros na rua, as crianças verão mais seus pais, seus colaboradores terão mais tempo de qualidade ao invés de atravessarem a cidade num trânsito estressante – duas vezes por dia. Todos ganham.

Uma situação como essa, extrema, de escala mundial, não pode ter acontecido à toa. É tempo de reflexão. É um alerta sobre o que estamos fazendo com nosso próprio tempo. Como estamos ‘gastando’ essas horas que não voltam mais.

Meu palpite é que nos tornaremos pessoas melhores depois de tudo isso. Seremos, sim, mais produtivos e descobriremos novas formas de trabalhar. Porém, ficará mais evidente que o trabalho não é tudo nessa vida. No fim do dia, vamos voltar ao básico e descobrir que a melhor sensação do mundo é a de estarmos bem, com saúde, perto de quem amamos, seguros, em casa.

P. S.: Vai passar.

#ficaemcasa

Foto: Shutterstock

Juliana Burza atua no ecossistema de inovação e tecnologia, apoiando empresas a estarem à frente da Transformação Digital. Mentora, ghostwriter e especialista em personal branding no LinkedIn. Escreve a coluna VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL no portal OCI e é membro do Grupo Mulheres do Brasil (Comitê Mundo Digital e Master Mentoring).