VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL - Não ensine crianças a codificar. Ensine-as a se reinventar e se comunicar.

Esse foi um dos insights poderosos da palestra de Yuval Noah Harari na HSM Expo de 2019, congresso de inovação, tecnologia e negócios que aconteceu em São Paulo, no início de novembro.

Caso você tenha estado num bunker nos últimos meses, esse historiador já vendeu mais de 15 milhões de livros ao redor do mundo e já foi recomendado por grandes líderes como Bill Gates, Mark Zuckerberg, Barack Obama, e políticos como Angela Merkel e Emmanuel Macron.

Autor de best-sellers como ‘Sapiens: uma breve história da humanidade’, ‘Homo Deus: uma breve história do amanhã’ e, seu último lançamento, ’21 lições para o século 21′, Yuval trata de questões políticas, tecnológicas, sociais e existenciais.

Acredite, ele sabe o que diz quando nos sugere a ensinar crianças a pensar fora da caixa, ao invés de aprender programação em código.

No meu tempo, as matérias que aprendi na escola eram principalmente estáticas. A resposta para dois mais dois sempre foi quatro. Fomos ensinados que o mundo se baseava em certos fatos e fomos avaliados com base no conhecimento desses fatos. Muitas vezes decorados e não compreendidos.

Hoje, qualquer criança pode buscar uma resposta complexa na tela de um computador. Não é necessário ler a Barsa nem gastar terabytes de memória humana para armazenar nada, pois está lá, tudo muito bem guardado e disponível na web.

Este ano estive em MUITOS eventos relacionados à inovação e tecnologia. Na maioria deles pude ver citações à célebre frase retirada de um estudo do World Economic Forum, ‘65% das crianças que estão na escola primária hoje trabalharão em empregos que ainda não existem’. É verdade, os empregos do futuro ainda não existem – mas sabemos que eles exigirão algumas habilidades sociais importantes que nossas crianças não estão sendo estimuladas a desenvolver.

A melhor maneira de se preparar para o futuro é desenvolver a capacidade de aprender e se adaptar.

Quantas vezes você já saiu na rua e observou crianças com os olhos grudados em algum device? Pode ser celular, tablet ou videogame. Tudo isso faz com que ela foque em algo e se distraia, enquanto seus pais consigam comer ou fazer compras no shopping.

Uma criança agitada é, de fato, algo extremamente desafiador para qualquer adulto. Mas, sem criar juízos de valor, o que precisamos ponderar é: quantas horas essa criança fica conectada? Qual o impacto disso na sua vida adulta e na sua relação com outras pessoas? Ela conseguirá se comunicar e ter empatia? Seus amigos serão mais reais ou virtuais?

Remetendo à fala de Yuval, nas próximas décadas, muito do que ‘sabemos’ sobre o mundo não será mais verdade. Os computadores do futuro não serão digitais. A Inteligência Artificial e a computação quântica poderão fazer o código de software desaparecer ou, pelo menos, se tornar muito menos relevante.

Os trabalhos do futuro não dependerão tanto de conhecer fatos ou números em linguagem de código, mas de humanos colaborando com outros humanos para projetar trabalhos para máquinas. É por isso que precisamos prestar atenção não apenas ao modo como nossas crianças se desenvolvem academicamente, mas também a como elas brincam, resolvem conflitos e fazem com que outras pessoas se sintam apoiadas e capacitadas.

Juliana Burza atua no ecossistema de inovação e tecnologia, apoiando empresas na Transformação Digital. Mentora, ghostwriter e especialista em personal branding no Linkedin. Escreve para a coluna O VIÉS HUMANO NA ERA DIGITAL no OCI e é membro do Grupo Mulheres do Brasil (Comitê Mundo Digital e Master Mentoring).