SUA IMAGEM, SUA ESSÊNCIA - Viva a maturidade existencial das marcas pessoais 40+! Por Patricia Gonzalez.

Outro dia, durante um dos vários cursos on-line que fiz durante o isolamento social em razão da pandemia de Covid-19, ouvi uma profissional comentar, em tom de desabafo, que seria desligada da empresa onde trabalha até o final de 2020. A razão foi o anunciado fechamento de uma das fábricas da organização, no Rio de Janeiro. Após listar todas as suas qualificações (que não eram poucas!) e pedir ajuda ao grupo para recolocar-se no mundo corporativo, ela fez uma pausa e lançou: ‘mas, quem vai querer contratar uma pessoa com mais de 40 anos? Já não há espaço para velhos como eu’. Na sala virtual, cerca de dez marcas pessoais com mais de três décadas de experiência neste complexo mercado chamado vida. Cada uma (eu, inclusive!), à sua maneira, saiu em apoio à colega de turma com palavras de estímulo, conforto e otimismo. Aquelas mesmas palavras que muitos de nós gostaríamos de ouvir se estivéssemos diante da mesma situação, tendo que lidar com sentimentos equivalentes.

Sempre que me pego refletindo sobre os desafios da vida após os 40 anos, lembro de uma das muitas sábias frases ditas pela socióloga e antropóloga Miriam Lemgruber a respeito do processo de envelhecimento. Esta, especificamente, li em uma entrevista para a revista Marie Claire, à ocasião da divulgação de um de seus livros: ‘a possibilidade de ser livre para ser você mesma é algo que não conseguimos em outras fases da vida porque é preciso muita coragem existencial’. Suas palavras referiam-se a questões sociais, emocionais e cognitivas que envolvem a maturidade da mulher, especialmente no que tange às crenças relacionadas à felicidade. Quando ouvi o relato de minha colega de curso, lembrei, imediatamente, desta reflexão. Na sequência, passou pela minha mente o filme relâmpago sobre o meu processo de transição de carreira, iniciado no final de 2017, pouco depois de eu ter completado 44 anos. E, então, pensei: será mesmo que precisamos esperar tanto tempo para construir novas narrativas sobre as nossas vidas? Por que, muitas vezes, colocamos a responsabilidade pela nossa felicidade profissional e pessoal no outro? Ao inferirmos que este poderoso ser que denominamos de mercado nos julgará velhos e fechará as portas para as nossas competências não estamos, nós mesmos, nos condenando?

De forma alguma estou generalizando, pois, claro, cada um de nós possui sua própria realidade e sabe bem o peso, social e econômico, de escolher seguir novos caminhos e trilhas neurais. Mas, como especialista em personal branding e alguém que vive a plenitude do florescimento após os 40, penso que, mais chances teremos de ser prósperos em uma nova empreitada quanto mais cedo nos assumirmos como marca que acumulou conhecimentos, sabedoria e experiências suficientes para empreender um processo de reinvenção.

Quantas vezes refletimos, de verdade, sobre o que queremos para as nossas vidas nas próximas quatro décadas? E, mais que refletir, criamos um plano de ação para colocar em prática nossas intenções? De que forma lidamos com os momentos de inquietude em viver novas vidas dentro de uma mesma existência? A maturidade existencial só nos favorece. Que o digam nomes como os de Jorge Paulo Lemann, Roberto Marinho, Susan Boyle, Vera Wang, José Saramago, Stan Lee, Ana Maria Braga, Samuel L. Jackson e tantas outras marcas pessoais, com o posto de alta celebridade ou não, que ousaram arriscar-se em uma nova jornada, acreditando ser possível mudar o rumo de suas histórias.

Estas marcas pessoais somam-se a uma legião de tantas outras que nos mostram o quanto a perseverança fortalece os nossos atos. O quanto prosperamos, profissionalmente e pessoalmente, quando sabemos o momento de acionar os recursos essenciais de nosso capital psicológico para potencializar a valiosa habilidade chamada resiliência. De que forma? Com otimismo realista e autoeficácia. Estes, certamente, estão entre os elementos que levam pesquisas a constatarem que startups lideradas por empreendedores mais maduros possuem chances maiores de sobreviver.

Certa vez, escrevi um texto no qual comparava a nossa bagagem emocional a uma mala repleta de peças de Lego que arrastamos por onde passamos. Cada bloco, grande ou pequeno, ajuda a construir um pedaço da nossa história. Diante das situações que se apresentam, escolhemos as figuras que queremos montar, a fim de enfrentá-las de acordo com o modo como aprendemos a enxergar a vida. Vez por outra, quando partes deste conjunto já não nos servem mais, deixamos que fiquem pelo caminho. Em outros momentos, acolhemos ou permutamos novos itens ao longo de nossa estrada. Mas a mala nos acompanha para sempre. Todas as nossas porções do que chamamos de felicidade, alegria, tristeza, frustração, vitória, fracasso, desejo, medo e angústia estão guardadas ali, desde muito cedo.
Não há dúvida de que o isolamento social nos levou a um mergulho profundo sobre a forma como posicionamos nossa marca pessoal no mundo. Ou, se preferir, o modo como lidamos com as nossas próprias emoções diante de um cenário de grande complexidade.

Colecionamos, todos nós, muitas histórias (vividas, lidas e ouvidas) que marcarão para sempre a passagem da pandemia por nossas existências. Para mim, o desabafo da colega de curso on-line certamente será uma destas lembranças. Talvez por ter remetido a um discurso e a uma visão de mundo muito presentes quando eu, há quase 30 anos, iniciei no mercado de trabalho. Ou, quem sabe, porque, apesar de termos um arsenal de mensagens positivas para acolher o outro em situações difíceis, precisamos sempre zelar para que o nosso discurso seja congruente com o que realmente colocamos em prática. Significa dizer (e compreender!) que a tal rede de proteção, que muitos de nós idealizamos como agente de coragem para o recálculo da rota de vida, não está em outro lugar a não ser dentro de nós mesmos.

Patricia Gonzalez é jornalista, pós-graduada em Marketing, Cinema Documentário e Psicologia Positiva. É mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais, analista comportamental e graduanda em Psicologia. Ao longo de quase três décadas, atuou como repórter em grandes jornais e executiva de comunicação em importantes organizações e agências do país. É docente, sócia-fundadora da consultoria de comunicação Múltiplas Narrativas e da Mulheres em Tribo – escola de gestão de imagem, carreira de transformação pessoal, voltada para o público feminino.