SUA IMAGEM, SUA ESSÊNCIA - Liderar em tempos de crise: quando comunicar bem requer coragem emocional. Por Patricia Gonzalez.

Sim, os líderes também são seres humanos. E, embora representem diretamente as organizações, são também marcas pessoais, com atributos e vulnerabilidades. Sentem angústias, medos e vivem momentos de solidão. A lista de habilidades que um profissional em cargo de liderança precisa ter para manejar bem suas responsabilidades diante de situações de crise, não para de crescer. Sem dúvida alguma, saber comunicar-se com suas equipes de forma ágil, empática, assertiva e mobilizadora está no topo deste rol de competências.

Porém, quando suas equipes, que interagiam presencialmente e de forma colaborativa, tornaram-se indivíduos separados por uma tela de celular ou de computador, dispersos e em home office, o desafio da comunicação cresceu exponencialmente. Para muitos líderes, tornou-se praticamente um desespero diário. Praticar esta essencial interação com as pessoas sob a sua responsabilidade e ainda dar conta do grande volume de atividades específicas e inerentes ao cargo de gestor – ainda por cima em um cenário permeado por novas dinâmicas e processos de trabalho trazidos pelo mundo disruptivo – requer, para além da inteligência, uma boa dose de coragem emocional.

Por que estou dizendo isso? Uma das maiores lições que aprendi em quase três décadas atuando na área de comunicação – boa parte desta jornada dedicada à preparação de lideranças empresárias para o bom relacionamento com seus stakeholders – foi a de que só é possível gerar diálogos transformadores se houver firmeza de propósito nas interações. E isso só pode ser bem percebido se o interlocutor for capaz de identificar, em si mesmo, os bloqueios emocionais que o impedem de ter uma comunicação fluída, transparente, coesa e acolhedora. Porém, somente isso não basta. É preciso ter consciência de seus pontos de aprimoramento e aceitar, de fato, a necessidade de promover mudanças internas para adaptar-se à realidade que se apresenta. Ter, efetivamente, coragem emocional para reinventar-se.

É fato, claro, que a pandemia é uma situação de alta complexidade, muito acima de nós. Mas, diante da crise estabelecida, o que está sob zona de influência do líder como ser humano como todos nós? Desenhar e seguir a sua própria rota de transformação interna. Sem conhecer seus próprios sentimentos e até compartilhar sua realidade e desafios com a equipe (em algumas situações, por que não?), de que forma exercitar, com eficácia, uma comunicação ancorada na escuta ativa e a empatia tão necessárias cada vez mais dentro das organizações e no mundo?

No Brasil e em outros países, pesquisas apontam que o isolamento social, em decorrência da pandemia, revelou, para muitos líderes, a necessidade de aprender a tomar decisões com agilidade (devidamente assertivas e focada nos resultados esperados pelas empresas) em um cenário totalmente novo e, em certa medida, até assustador e paralisante. Então, como potencializar uma comunicação que estimule e motive as equipes se a própria liderança tem dificuldade de se mover?

Na vida pessoal e dentro das organizações, as pessoas anseiam por modelos inspiracionais. Alguém que nos indique novos caminhos, ajude a enxergar que há esperança em tempos melhores, que seja capaz de acolher em momentos difíceis, que seja empático e pratique a compaixão. Certamente, estas serão competências cada vez mais exigidas para as marcas pessoais que ocupam ou aspiram assumir cargos de liderança. Soma-se a estas habilidades, claro, a grande tarefa de performar de forma estratégica para alcançar, com maestria, os objetivos do negócio.  Mas, antes de lidar com os desafios externos, é preciso conhecer e aprender a equilibrar suas próprias emoções.

Divulgada no início de maio, a pesquisa realizada pela consultoria 99 jobs com mais de 6.000 profissionais em todo o país, revelou que 45% dos respondentes têm pouca ou nenhuma abertura de comunicação com seus líderes. Os resultados desta amostragem – que abordou temas como felicidade no trabalho, sobrecarga e liderança – indicam um comportamento bem diferente do que se espera do chamado líder em confinamento.

Além de tudo o que mencionei ao longo deste texto, especialistas em carreira destacam que o profissional em cargo de liderança deve estar sempre preocupado com a segurança e saúde (mental, inclusive!) de seu time. E, da mesma forma, zelar por suas próprias questões pessoais nesse sentido. Muitos líderes assumem este tão necessário papel com mais facilidade, exercendo, de fato, o que se chama de atuação mais ‘humanizada’. Conseguem desenvolver uma comunicação empática verdadeira, para além das conferências online e avalanche de mensagens frias. Preocupando-se, realmente, com o bem-estar dos indivíduos que compõem o seu time. E, acima de tudo, demonstrando isso em suas atitudes cotidianas. Sua postura fortalece os valores da organização que representa.  Outros, entretanto, ainda se mantêm apegados ao modelo do foco no resultado acima de qualquer coisa, desconsiderando impactos emocionais e pessoais (seus próprios, inclusive!) trazidos pela adoção do home office. Estes, certamente, precisam de ajuda para virar a chave em direção a uma nova mentalidade. Se não fizerem isso, correm o risco de entrar nesta nova Era sem terem absorvido o maior aprendizado trazido pela pandemia: o de que o isolamento social não significa isolamento afetivo. Pessoalmente e profissionalmente.

Patricia Gonzalez é jornalista, pós-graduada em Marketing, Cinema Documentário e Psicologia Positiva. É mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais, analista comportamental e graduanda em Psicologia. Ao longo de quase três décadas, atuou como repórter em grandes jornais e executiva de comunicação em importantes organizações e agências do país. É docente, sócia-fundadora da consultoria de comunicação Múltiplas Narrativas e da Mulheres em Tribo – escola de gestão de imagem, carreira de transformação pessoal, voltada para o público feminino.