Sociedade do espetáculo: 60 anos depois. Por Flávia Ferreira.

Na década de 1960, Guy Debord recomendou um estudo da sociedade moderna como uma ‘sociedade do espetáculo’. A crítica desse momento histórico dirigia-se tanto ao ‘capitalismo avançado’, grande gerador do ‘espetáculo difuso’ da sociedade de consumo, quanto ao bolchevismo, denominado ‘capitalismo de Estado’ e que daria origem ao ‘espetáculo concentrado’ da burocracia centralizada. Neste estudo ele afirma que o conceito de espetáculo passou a designar simples excessos midiáticos, para essa visão, ‘o espetáculo nada mais seria que o exagero da mídia, cuja natureza, indiscutivelmente, pode às vezes chegar a excessos’.

A noção do espetáculo também pode ser interpretada como uma forma alienante de manipulação ideológica e econômica que nutre uma cultura de lazer e entretenimento fácil, mas também é um dos princípios básicos da economia, da política, da sociedade e da vida cotidiana.

O espetáculo pode ser importante para gerar as receitas comerciais, mas não deveria ser fator principal para ditar as veiculações das notícias e nem a sua permanência no ar. Essa é uma das provas de que os media são completamente influenciados pela publicidade. Conforme nos ensina Kellner, ‘anúncios, marketing, relações públicas e promoção são uma parte essencial do espetáculo global’. Debord por sua vez, pensa o espetáculo como um mecanismo de passividade e alienação, ‘o momento em que a mercadoria ocupou totalmente a vida social’, afastando o indivíduo de uma vida produtiva.

A hibridização entre mídia e consumo parece evidenciar-se por excelência na economia do entretenimento, onde as formas do espetáculo são incorporadas aos negócios. Neste cenário temos as indústrias culturais transformadas em megaconglomerados que fundem informação, entretenimento e negócios. No entanto, antes de produzir, consumimos uma ideia, como diria o sociólogo polonês Bauman (2001:90); ‘A sociedade pós-moderna envolve seus membros primariamente em sua condição de consumidores, e não de produtores. (…) A vida organizada em torno do consumo é orientada pela sedução, por desejos sempre crescentes e quereres voláteis’. É aí que se insere a potência do discurso publicitário-mercadológico.

Marketing e propaganda são hoje vistos como instâncias essenciais de­sempenhando um importante papel na segmentação e educação do público em torno de novos gostos, tendências e estilos.

Flávia Ferreira é jornalista pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação. Com mais de 10 anos de atuação profissional, já navegou pelo terceiro setor, o setor público e o privado, sempre trazendo o viés social para o trabalho cotidiano, seja com comunicação corporativa, gestão de marcas ou reportagens de campo.