Saúde Única como premissa para pautar a comunicação em Saúde. Por Isis Breves.

No recente discurso de posse da Ministra da Saúde, Nísia Trindade falou em se aproximar das gestões estaduais e municipais de saúde e de tocar políticas intersetoriais dentro da estrutura federal. “Nossa gestão será baseada na ciência e no diálogo com a comunidade científica. A Saúde precisa estar em todas as políticas. (…)”. Este recorte do discurso da Ministra Nísia, que foi presidente da Fiocruz, mostra a importância de se atuar em todas as esferas de governo para efetivamente promover saúde. Essa perspectiva vem muito ao encontro do conceito que hoje eu trago para a coluna, abrindo nossa conversa de 2023, que é a Saúde Única.

A Saúde Única vem da tradução de One Health que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é “uma abordagem para projetar e implementar programas, políticas, legislação e pesquisa nas quais nas quais vários setores se comunicam e trabalham juntos para alcançar melhores resultados de saúde pública”.

É um enfoque que integra a saúde humana, saúde ambiental e o meio ambiente. Inicialmente pautado pela interação entre humanos e animais e a interdependência com a saúde ambiental, e atualmente incorpora também a situação de vulnerabilidade social e a segurança alimentar.

As emergências zoonóticas são exemplos claros do conceito da Saúde Única. Vejamos as recentes epidemias de H1 N1, do vírus da Zika e a mais impactante da nossa geração que é a epidemia de Covid-19. Já se sabe que o aumento de novas doenças e doenças reemergentes infecciosas tem sido associado as ações do homem sobre o meio ambiente.

A pauta das mudanças climáticas, a Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU), vem mostrando a importância de entender que para se promover saúde é necessário combater a pobreza e a fome, debater ações efetivas dos determinantes sociais da saúde, cuidar do meio ambiente, que inclui a emissão de gases na atmosfera, preservar os biomas, combater a poluição do solos e dos lençóis freáticos etc.

A tragédia humanitária que assola os indígenas Yanomami, os quais vivem da agricultura e da pesca da floresta e estão em situação de extrema pobreza, fome e surto de malária, é fruto das ações do garimpo ilegal que invadiu as terras indígenas. Contaminação do solo, dos rios, deixando as terras devastadas, infecções por mercúrio, graves quadros de diarreia, pneumonia, e a queda de cabelo das crianças. Até a amamentação dos bebês é arriscada, já que a infecção passa de mãe para filho pelo leite materno. Centenas de crianças morreram, centenas de adultos e crianças foram resgatados com desnutrição grave, 70% do povo Yanomami contraiu malária.

Tudo isso são exemplos da Saúde Única. Quem, assim como eu, atua com comunicação em Saúde, precisa pensar em estratégias de comunicação para, de fato, disseminar e contribuir para a promoção da saúde.

O conceito da OMS já aponta para a necessidade dos setores se comunicarem. Essa comunicação entre pares pode ser direcionada através das estratégias de comunicação. É um esforço colaborativo multidisciplinar, o qual, nós, comunicadores, estamos incluídos e somos relevantes.

Quem não se lembra do esforço dos comunicadores em combater as fake news da epidemia da Covid-19? A rede colaborativa da imprensa nacional para divulgar os casos no país? Mas isso estou enumerando exemplo a nível nacional. Mas podemos pensar em ações locais com impactos globais que é o que preza a Agenda 2030, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Uma simples ação de comunicação como um vídeo sobre uso sustentável da água, por exemplo, postado nas redes sociais, destinados a crianças e veiculado para crianças de uma comunidade que faz uso de água de reservatório de uma cachoeira, sem acesso ao Saneamento Básico, pode evitar que falta o abastecimento de água na região, pode ensinar como usar tratar a água para uso doméstico evitando doenças transmitidas pela água contaminada, pode mostrar a importância do acesso ao saneamento básico e tratamento da água na promoção da saúde.

É a comunicação que planeja e prepara produtos para comunicar na forma e na linguagem adequada ao público que se destina esse material. Isso não é diferente quando a temática é saúde. A saúde está em todas as políticas, como disse a Ministra. O conceito Saúde Única reflete a relação homem-animal-meio ambiente e a Comunicação em Saúde pode promover essa pauta para de fato contribuir para a promoção da saúde, programas e políticas públicas de acesso à informação confiável da saúde.

Isis Breves é jornalista graduada pela Universidade Gama Filho. Especialista em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde pela Fiocruz e MBA em Marketing pela Universidade Castelo Branco. Atua com Comunicação em Saúde desde 2006, passando por instituições como Embrapa, Fiocruz, Rede Hospitalar da Amil e CRMV-RJ. Atualmente lidera a consultoria de comunicação Dose Única – Comunicação em Saúde. https://www.linkedin.com/in/isis-breves/